Queda de barreira antidumping pode aumentar pressão sobre fabricantes

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Empresas com produção local querem manutenção da sobretaxa para importados da China, mas gigantes globais do segmento esportivo fazem lobby para derrubar medida em vigor desde 2009

 


As fabricantes nacionais de calçados querem manter a barreira antidumping, que sobretaxa as importações de calçados chineses já que, sem a medida, a pressão sobre os preços deve aumentar. O valor dos calçados chineses, muito inferior ao produzido no Brasil, é o principal problema das fabricantes locais, que não conseguem competir com o baixo custo de produção naquele país.

Na avaliação do presidente da Associação Brasileira das Indústrias de Calçados (Abicalçados), Heitor Klein, a queda da barreira combinada a outros fatores pode levar a uma retração da produção. "As mudanças em relação à desoneração da folha de pagamentos e a diminuição do Reintegra pioram a competitividade do setor", conta ele.

Klein explica que até 24 de dezembro a barreira segue em vigor e, nesse período, o governo deve avaliar se mantém a sobretaxa para os importados da China. A medida, que entrou em vigor em 2009, criou uma sobretaxa de US$ 13,85 por par importado.

"Em 2015, a previsão é que os artigos importados alcancem participação de 4,2% sobre o consumo aparente em volume de pares", comenta o diretor do Instituto de Estudos e Marketing Industrial (Iemi), Marcelo Prado, em estudo sobre o setor.

Prado avalia que a China responde por 57% da produção mundial de calçados e 72% das exportações em volumes de pares no mercado global.

Esportivos


Mas as gigantes do segmento de calçados esportivos, como Nike, Adidas, Puma e Alpargatas, representadas pela Associação pela Indústria e Comércio Esportivo (Ápice), defendem a queda da medida antidumping. "Essa sobretaxa existe há cinco anos e nesse período o fabricante tinha que ter investido em tecnologia", destaca a diretora presidente da Apice, Marina Carvalho.

Ela avalia que a barreira comercial aos chineses é de curto prazo e não incrementa produtividade, mas ressalta que as empresas associadas à entidade tem conseguido avançar em ganho de competitividade.

A Alpargatas, que produz Rainha, Muzuno e Topper, implantou em dezembro um programa para otimizar sua linha de produção, reduzir custos e de revisão do modelo logístico para aumentar a produtividade. Conforme balanço anual, as vendas de calçados esportivos da empresa em 2014 caíram 6,8% sobre um ano antes, para 10,3 milhões de pares.

A desaceleração do mercado interno, que responde por quase 80% das vendas da Vulcabras, dona das marcas Olympikus e Reebok, também impactou as vendas. A receita líquida da companhia cedeu 4,5%, para R$ 1,267 bilhão. A Vulcabras não divulga dados específicos de venda no segmento de calçados esportivos.

Para a marca italiana Diadora, que voltou ao País no ano passado com produtos fabricados pela brasileira Dilly Sports, a queda da barreira antidumping não deve mudar muito o cenário para as marcas globais. "Depois que a medida entrou em vigor, as marcas continuaram importando, só que de outros países asiáticos", conta o gestor de marketing e vendas da Diadora, Milton de Souza.

Dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC), compilados pela Abicalçados, indicam que nos dois primeiros meses de 2015, o Vietnã aparece como líder na lista de países exportadores de calçados para o Brasil, com US$ 53 milhões, recuou de 28,8% frente a igual período do ano passado, seguido pela Indonésia com US$ 22,96 milhões, alta de 4,6% e China com US$ 11 milhões, com queda de 4,3%.

Câmbio

O executivo da Diadora afirma que, apesar do cenário econômico mais difícil, a empresa espera vender 600 mil pares de calçados este ano, um pouco acima do ano passado, quando a fabricante vendeu 450 mil pares em 10 meses de operação no País.

"Nosso maior problema é a alta no custo com matéria prima importada, afetado pelo câmbio", relata Souza. Ele conta que o tíquete médio de venda está menor e os varejistas não têm conseguido repassar a alta nos preços para o consumidor. "Todo mundo está em compasso de espera para ver o que acontece este ano", diz ele.

Procuradas, as empresas associadas à Apice não quiseram comentar o assunto.



Veículo: DCI


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