Cutrale e Grupo Safra tentam comprar americana Chiquita

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Por Fernando Lopes e Fernanda Pressinott | De São Paulo



Pouco mais de dois meses após a JBS ter apresentado, por meio de sua controlada Pilgrim's Pride, uma oferta hostil - frustrada - de mais de US$ 5,5 bilhões por 100% da Hillshire Brands, empresa de processados de carnes dos Estados Unidos, outra companhia brasileira movimentou o mercado americano de alimentos ontem.

Em parceria com o Grupo Safra, a Cutrale, uma das maiores exportadoras de suco de laranja do mundo, ofereceu, também por meio de oferta hostil, cerca de US$ 625 milhões para ficar com 100% da Chiquita Brands International, líder global no segmento de bananas, cujo mercado mundial movimenta US$ 7 bilhões por ano. Com sede em Charlotte, na Carolina do Norte, a Chiquita fatura mais de US$ 3 bilhões por ano.

Apesar de não estar presente no Brasil, a Chiquita, que também atua nas áreas de saladas e "snacks" saudáveis, atua em cerca de 70 países e emprega 20 mil pessoas. E anunciou, em março, a fusão de suas operações com as da irlandesa Fyffes, por meio de uma troca de ações equivalente a mais de US$ 1 bilhão.

Essa fusão, que poderá resultar em uma companhia com faturamento de quase US$ 5 bilhões, não está concluída (depende de autoridades antitruste) e representa um obstáculo às parceiras brasileiras - da mesma forma que a Tyson Foods "atravessou" a JBS e venceu a disputa com a Pillgrim's pela Hillshire. Ontem, as ações da Chiquita subiram 30% em Nova York, enquanto as da Fyffes recuaram 14% em Dublin.

Apesar de a Cutrale não divulgar seus resultados, a evolução de sua receita com exportações, que representa a maior parte de seu faturamento, é conhecida. Conforme a Secex, os embarques da empresa renderam US$ 1,719 bilhão em 2013, quase 62% mais que em 2012. Esse salto não reflete apenas as vendas ao exterior de suco de laranja, seja concentrado e congelado (FCOJ) ou pronto para beber (NFC). Já é resultado, conforme fontes que acompanham os passos da Cutrale de perto, de uma tendência de diversificação que agora poderá ser aprofundada com as bananas da Chiquita.

Ocorre que, nos últimos anos, a companhia sediada em Araraquara (SP) entrou de cabeça na área de trading de soja em grão - negócio com o qual já fatura, estima-se, US$ 800 milhões por ano. Não se trata da venda de soja própria, mas de terceiros, uma vez que a produção da família Cutrale é pequena e não está incluída nos balanços da companhia.

E, da mesma forma que a estrutura logística que a empresa mantém no exterior e no Brasil (que inclui um terminal graneleiro no porto de Santos) motivou o desenvolvimento dessa nova frente de atuação, poderá servir a operações com banana.

"A Cutrale tem presença global e conta com excelente estrutura logística nos mercados para os quais vende suco de laranja, como EUA e Europa. Além disso, tem uma carteira de clientes que poderá se interessar por banana, tendo em vista que o comércio internacional de frutas frescas tem crescido", afirma uma fonte.

A mesma fonte nota que a Cutrale tem elevado sua aposta nos embarques de laranja in natura, uma vez que se prolifera no varejo de mercados desenvolvidos tradicionais, de maior poder aquisitivo, o uso de máquinas que esmagam a fruta na hora para que os clientes tenham à disposição o suco mais fresco possível.

É mais um fator para atrapalhar a vida das grandes exportadoras de suco de laranja brasileiro (Cutrale, Citrosuco e Louis Dreyfus), que há mais de uma década veem a demanda por seu produto declinar, sobretudo nesses mercados tradicionais.

Daí os esforços da Cutrale para diversificar. Do trio das grandes do suco de laranja, ela é a que ficou mais tempo dependente desse negócio e a que fez mais esforços para continuar espremendo seus resultados dele. Com a oferta de US$ 13 (em dinheiro) por ação da Chiquita, valor 29% superior ao do fechamento dos papéis na sexta-feira, quer tirar o atraso. Para tal, espera uma resposta até sexta-feira.



Veículo: Valor Econômico


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