Sementes crioulas unem agricultura e ecologia

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A utilização de sementes crioulas no plantio é uma alterativa interessante para a produção de alimentos com valores nutricionais melhores e, de quebra, constitui uma prática amigável ao meio ambiente. Isso porque os agricultores que recorrem a esse material geralmente possuem métodos de manejo diferenciados, que dispensam o uso de agrotóxicos e outras substâncias químicas. Essas são algumas das conclusões constatadas pelo pesquisador da Embrapa Clima Temperado (Pelotas) Irajá Ferreira Antunes ao longo dos últimos 10 anos. Desde então, o especialista e outros profissionais trabalham em cima dessa temática no Rio Grande do Sul.

Antunes explica que as sementes crioulas são insumos com características genéticas diferenciadas, sendo encontradas em pequenas propriedades rurais. “São variedades que ficam na mão de agricultores por um longo período e vão sendo passadas de geração em geração. Esse passar do tempo faz com que haja uma adaptação da semente às condições do ambiente onde ela é plantada. É um material com uma riqueza nutricional e funcional, pois ajuda a preservar a biodiversidade”, justifica o pesquisador.

O pesquisador da Embrapa lembra que, no início, o projeto focava as peculiaridades genéticas do material. No entanto, conforme os estudos avançavam, ficou evidente a vasta carga cultural que as sementes possuem. No Estado, é possível constatar a participação de agricultores de distintas origens nesse processo, incluindo italianos, alemães, açorianos, indígenas e quilombolas.

Cada tipo de etnia possui uma espécie de guardião das sementes crioulas, que geralmente é o produtor que lidera a propriedade rural. Todo grupo possui suas próprias características. “Os indígenas têm um tipo de milho diferenciado. Já os produtores açorianos do Litoral têm um feijão mais miúdo, que foi trazido pelos escravos”, exemplifica Antunes. A justificativa para essas diferenças está na união da tradição produtiva de cada povo e do tipo de solo de cada região.

O trabalho realizado pelo especialista envolve cerca de 10 tipos de alimentos, entre eles abóbora, batata-doce, cebola, feijão, mandioca, melão e milho. No Rio Grande do Sul, estão catalogados cerca de 160 guardiões, que provêm material para análise. De posse das sementes, um grupo de 15 pesquisadores estuda as características de cada variedade e, quando necessário, realizam-se melhorias genéticas. Um dos principais desafios, na visão do pesquisador, é popularizar o consumo desses alimentos originários das sementes crioulas.
Pesquisador nota mudança no perfil da atividade

Natural de Pelotas, Irajá Ferreira Antunes iniciou sua trajetória profissional há mais de 40 anos. Formado na primeira turma do curso de Agronomia da Universidade Federal de Pelotas (UFPel), construiu grande parte de sua carreira como pesquisador da Embrapa. Ao longo das décadas, conduziu uma série de estudos ligados à cultura do feijão, envolvendo desde o melhoramento genético do alimento até o aumento de produtividade.

O grão inclusive baseou sua tese de doutorado em Biologia Genética, concluída em 1986 na Universidade de São Paulo (USP). Antes, em 1978, Antunes havia finalizado o mestrado em Agronomia pela Universidade de Illinois, nos Estados Unidos. Pela experiência acumulada em sua carreira, o especialista acredita que a agricultura brasileira passa por um período de transformação. “Quando a Embrapa foi instituída, nos anos 1970, o grande mote mundial da pesquisa era o aumento de produtividade. Não havia uma grande preocupação com a qualidade, mas, sim, com a quantidade. No entanto, de uns 10 anos para cá, essa lógica começou a mudar”, aponta. Segundo o especialista, a tendência no Brasil e no mundo é a priorizar o incremento da qualidade dos alimentos produzidos no meio rural. “Claro que a produtividade como conceito sempre vai ser importante, mas já chegamos a um patamar de produção elevado no Brasil. Então está se começando a pensar em outros aspectos em cima da qualidade. Isso já está acontecendo. Basta ver que a produção de alimentos orgânicos está crescendo”, aponta.



Veículo: Jornal do Comércio - RS


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