Brasil precisa de R$ 353 bi para zerar déficit em logística

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O Brasil tem a necessidade de investir R$ 353 bilhões em infraestrutura, entre construção e modernização de rodovias, ferrovias, hidrovias e portos, segundo o presidente da Empresa de Planejamento e Logística (EPL), Bernardo Figueiredo, que participou ontem do 12º Congresso Brasileiro do Agronegócio, promovido pela Associação Brasileira do Agronegócio (Abag), em São Paulo.

Os problemas de logística e infraestrutura causam perdas de 15% sobre o Valor Bruto de Produção (VBP), algo em torno de R$ 25 bilhões.

Figueiredo defendeu que o modelo de financiamento desses investimentos parta do ganho de produtividade. "No curto prazo, não adianta trocar a rodovia pela ferrovia. A única solução é dar eficiência para a rodovia, aumentando a produtividade e melhorando os terminais", disse.

Para o consultor, os editais de concessão à iniciativa privada de nove lotes de rodovias começarão a ser publicados a partir de agosto e irão até novembro, enquanto os editais para concessão de ferrovias serão publicados até dezembro. Com relação à estrutura portuária, ele também assegurou que, até setembro, deverão sair as primeiras licitações para os portos de Santos e Belém. Segundo o presidente da EPL, apenas os portos terão investimentos de R$ 20,2 bilhões, em concessões com duração de 25 anos.

Ele ainda defendeu o modelo atual de concessão, que trabalha com a compra integral da disponibilidade pela Valec e com as menores tarifas ofertadas nos leilões. "Isso tira o risco da demanda, que é o principal risco da ferrovia, e transfere para o produtor os ganhos", disse.

Gargalos bilionários


Os problemas de infraestrutura dentro e fora das propriedades rurais têm feito os produtores terem perda considerável de sua renda, apesar das safras recordes. No Mato Grosso, apesar da safra recorde de 18 milhões de toneladas de milho durante o inverno, a produção deverá perder 40% de seu valor por causa dos gargalos logísticos, ou cerca de R$ 16,5 bilhões. No Paraná, o mesmo milho safrinha perde 7% de seu valor apenas com gasto com pedágios para sair de uma ponta do estado e chegar até o Porto de Paranaguá. O cenário, segundo diretores da Associação Brasileira do Agronegócio (Abag), tende a ficar mais crítico no curto prazo, já que a promessa de uma alta safra de grãos nos Estados Unidos tem pressionado os preços e, consequentemente, as margens do produtor brasileiro.

"Os indicadores mostram que estamos entrando de novo em um ciclo de baixa de preços. Por isso é importante a produtividade e a logística. Os preços estão menores e há um aumento dos custos. Em um momento em que passamos por pressão de margem, a logística é fundamental", afirmou o presidente da Abag, Luiz Carlos Corrêa Carvalho, em entrevista do DCI.

No caso da soja, a deficiência em infraestrutura no País pesa 20% sobre o preço do grão brasileiro que tem como destinação final a China. "A soja é produzida dentro da fazenda 10% mais barata que nos Estados Unidos, mas chega aos portos chineses 10% mais cara", afirma Ingo Plöger, presidente do Conselho Empresarial América Latina (Ceal) e diretor da Abag.

Plöger afirmou ao DCI que, no curto prazo, "a perspectiva é de piorar um pouco". "As condições gerais não mudaram. Demorará de cinco a sete anos para mudar", calcula o empresário. Ele ressaltou que, no caso dos portos, existem algumas "ilhas de excelência" em operacionalização, como os portos de Santa Catarina, que já trabalham 24 horas por dia.

Carvalho, da Abag, afirmou que já é um avanço o governo ter um cronograma para as obras de infraestrutura, mas que os resultados só serão sentidos para o agronegócio depois do ano que vem. "Estamos 30 anos atrasados, e aumentou quatro vezes a produção de grãos nesse período. No curto prazo nós temos só uma alternativa, que é utilizar [a estrutura] o que tem, que é pouco."

Armazenagem


Plöger destacou ainda que o Brasil também perde em competitividade com o déficit de estruturas de armazenagem para a produção agrícola. Enquanto o País coloca apenas 15% de sua produção em estoques nas fazendas, os Estados Unidos estocam 65% de sua produção, e o Canadá, quase 80%. "O aumento dos estoques na fazenda dividiria [a produção com] os modais e regularia preços", argumenta o executivo.

No Paraná, a produção recorde de milho safrinha, que deve alcançar 10,9 milhões de toneladas, já aciona o sinal amarelo da estrutura de armazenagem. "A safra de milho está chegando, mas os armazéns ainda têm muita soja", disse o presidente da Cocamar, Luís Lourenço. Segundo o executivo, o estado tem capacidade estática de 1 milhão de toneladas.

Questionado pelo DCI, ele afirmou que não acredita em uma mudança significativa na infraestrutura de armazenagem e escoamento de produção do estado até 2016. A saída, argumentou o presidente da Cocamar, é o investimento em malhas viárias para a Região Norte. "O que vai ajudar o Paraná é a mudança de fluxo, voltando-se para o Norte", avaliou.


Veículo: DCI


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