A volta das commodities

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Com uma aposta renovada em empresas ligadas à economia doméstica, mas ainda na estratégia de seleção a dedo, as corretoras passaram a dar também maior atenção em agosto às companhias atreladas às commodities. A Carteira Valor deste mês ganhou três novas integrantes: Vale, Suzano e Cetip. Com isso, o setor financeiro manteve a preferência dentre as recomendações, já que os papéis de Itaú Unibanco, BM&FBovespa e BB Seguridade seguiram no portfólio. Mas o grupo vinculado às commodities ganhou destaque ao contar com três representantes, pois Gerdau permaneceu na carteira. Ainda foram mantidas as ações de BRF, Kroton e Hypermarcas.

Em julho, os investidores tiveram que se contentar com a leve alta de 1,6% do Ibovespa. E foram as blue chips atreladas às commodities, como Vale, Usiminas e CSN, que contribuíram para o "respiro". A valorização foi a primeira do ano, mas pouco contribuiu para reduzir o mau humor no acumulado de 2013, em que a bolsa cai 20,9%. Tampouco levou analistas a mudarem a avaliação para o ano.

Já a Carteira Valor fechou julho com ganho de 4,3%, impulsionada principalmente pelas ações da Gerdau, que subiram 15,7%. No ano, o portfólio ainda perde 4,6%, mas menos que o Ibovespa.

"A bolsa teve um leve respiro mais por conta de movimentos globais do que por eventos relacionados à dinâmica doméstica. Tanto que as ações que mais andaram foram as de commodities", diz o estrategista da Santander Corretora, Leonardo Milane. Segundo ele, como as notícias vindas da Europa, da China e, especialmente, dos Estados Unidos tiveram viés mais positivo em julho, a tendência é que a cena externa volte a contribuir para os mercados em agosto, o que pode estimular as commodities.

Já as perspectivas para o Brasil estão mais pessimistas, o que pesa sobre uma recuperação consistente da bolsa e reforça o tom de cautela. "A bolsa não deve cair mais 20%, mas não deve melhorar tão rapidamente. Vejo uma bolsa mais de lado, com o Ibovespa entre 45 mil e 50 mil pontos", diz Milane.

A SLW Corretora destaca que, como as discussões sobre a redução do programa de estímulo nos EUA e o crescimento da China vão voltar a ocorrer apenas em setembro, abriu-se uma porta para a recuperação de preços de ações relacionadas a commodities no Brasil.

O analista William Castro Alves, da XP Investimentos, não espera um cenário "demasiadamente promissor" para a bolsa em agosto e reforça a seleção de ativos. "Não vimos uma mudança radical de cenário e por isso mantemos o foco na proteção do patrimônio, com boa parte das sugestões de alocação direcionadas a ativos mais resilientes e estáveis", aponta.

As ações da Suzano, com alta de 12,3% em sete meses, estão na Carteira Valor pela primeira vez em 2013. Para Roberto Indech, da área de estratégia da Octo Investimentos, a empresa está bem posicionada para capturar uma recuperação de preços de celulose lá fora, além de ganhar com o dólar mais forte.

Segundo a Citi Corretora, 10% de desvalorização do câmbio resulta em aumento de 16% no Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização) da Suzano. A casa espera que a empresa reporte resultados sólidos nos próximos trimestres devido aos aumentos nos preços da celulose vistos no primeiro semestre.

No caso da Vale, cujas ações subiram em julho, mas seguem com forte queda no ano, a Ativa Corretora chama atenção para os fundamentos. Os papéis da empresa seguem embutindo no preço um cenário de deterioração do mercado além do avaliado pela corretora. A Ativa ainda elogia o desempenho operacional da Vale em um cenário "bastante desafiador" e destaca a política de controle de custos e despesas e a estratégia comercial.

"O preço médio spot (à vista) do minério de ferro deve oscilar em um patamar abaixo do histórico recente, mas ainda assim bastante rentável para a mineradora", diz a instituição, que ressalta que o foco dos investidores também deve se voltar para o potencial de geração de caixa dos ativos não ferrosos da Vale. Corretoras também assinalam que as ações da mineradora estão sendo negociadas a múltiplos atrativos e chamam atenção para os efeitos do câmbio.

E para fechar o grupo vinculado às commodities, as ações da Gerdau continuam no foco. Quem apostou nos papéis em julho garantiu 15,7% de valorização, mas, no ano, ainda perdem mais de 18%. Para a Bradesco Corretora, os principais pontos de atratividade são a reversão da compressão dos spreads do aço e a depreciação do real para a unidade americana; volumes melhores na divisão de aços especiais; aumento de exportações de minério; e demanda maior que a esperada de vergalhões no Brasil em função de projetos para a Copa. "Após resultado mais fraco no primeiro trimestre, temos expectativa que as margens voltem aos níveis normais nos próximos trimestres no Brasil."


Veículo: Valor Econômico


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