Bangladesh é (está) aqui

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Aos poucos as máquinas de costura voltam a funcionar nas oficinas de confecção dos subúrbios de Daca, capital de Bangladesh, após a tragédia que matou mais de  mil trabalhadores locais. Em breve, novas remessas de camisetas, blusas, calcinhas e outras peças de vestuários produzidas no pequeno país asiático cruzarão o planeta para abastecer lojas de grife na Europa, nos Estados Unidos e também no Brasil. Bangladesh é hoje a principal base de operação da indústria mundial de confecção.

De lá, somente nos primeiros quatro meses do ano, vieram US$ 91 milhões em vestuário e produtos têxteis colocados à venda no mercado brasileiro, o que representou 32,5% de aumento na comparação com igual período do ano passado. Um ritmo de crescimento três vezes superior ao das importações que o País faz da China daquelas mercadorias. Bangladesh está na moda porque o custo do trabalho por lá é o menor do mundo. Menor do que o chinês, o vietnamita ou o indiano. Um costureiro bengali custa pouco mais de US$ 34 mensais – exatos R$ 69,81, ao câmbio da última sexta-feira –, enquanto um brasileiro custa entre US$ 800 e US$ 1 mil. A indústria têxtil, que é intensiva em mão de obra, naturalmente não tem dúvida sobre o local onde produzir.

"Como o custo da mão de obra representa, em média, 30% do valor da peça, podendo superar 50% algumas vezes, é fácil entender por que a indústria têxtil se preocupa em encontrar os trabalhadores mais baratos", diz Fernando Pimentel, diretor superintendente da Associação Brasileira da Indústria Têxtil (Abit).

Indústria nômade

Com custo de produção bem menor, as roupas feitas em Bangladesh atravessam o oceano e chegam até o varejo mundial a US$ 20 o quilo em média. Já o preço médio que a indústria têxtil brasileira consegue fazer para o varejo do País é US$ 28 o quilo, segundo Pimentel.

Por tudo isso, não é coincidência que Bangladesh já seja a quarta principal origem dos vestuários e produtos têxteis importados pelo Brasil, perdendo, por enquanto, para China, Índia e Indonésia, mas à frente dos Estados Unidos. Uma realidade cada vez mais à mostra nas araras das grandes redes do País, como constatou a reportagem do Diário do Comércio. Os "Made in Bangladesh" aparecem como produtos "linha de frente" de grifes, como a Zara – e outras de grande aceitação e reputação –, colocados na vitrine e nos mostruários da entrada da loja. São malhas, das mais variadas cores, que saem por cerca de R$ 50.

Roupas de inverno, como malhas e jaquetas, foram encontrados mais frequentemente pela reportagem com etiquetas de Bangladesh e outros países asiáticos, como Taiwan, Vietnã ou Tailândia. São produtos de boa qualidade, com corte e acabamento que não devem nada a similares nacionais. O estigma da qualidade do made in Ásia já não é tão marcante quanto foi há 15 anos, lembra Eduardo Terra, especialista em tendências do varejo e vice-presidente do Instituto Brasileiro de Executivos de varejo e Mercado de consumo (Ibevar). (Veja entrevista na página seguinte.)

Vestuários importados com essas características representam até 30% dos itens colocados à venda pelas grandes redes do País, de acordo com o diretor da Abit. No mercado brasileiro em geral, cerca de 14% das roupas à venda são importados, em sua grande maioria de países asiáticos.

Ao longo de 2012, as importações de vestuário alcançaram US$ 2,1 bilhões. Para este ano, Pimentel estima que o valor chegará a US$ 2,5 bilhões. Somando vestuário e outras confecções – como roupas de cama – e demais produtos têxteis, as importações brasileiras chegaram a US$ 6,6 bilhões.

A Abit diz não ser contra as importações. "Afinal, nossa indústria sempre foi nômade, mudando de lugar em busca de menores custos", diz Pimentel. "O que não podemos tolerar é a importação da ilegalidade", complementa o diretor da Abit. Neste caso, a importação ilegal a que se refere Pimentel é aquela que faz uso da mão de obra precária, como ficou evidente com o incidente ocorrido em abril lá em Bangladesh.



Veículo: Diário do Comércio - SP


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