Inflação e juros apertam orçamento e varejo prevê alta de só 6% nas vendas

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Lembrança da época em que era preciso fazer malabarismos com as finanças para proteger o dinheiro da inflação voltou a assombrar o comércio
 
BRASÍLIA — A lembrança da época em que era preciso fazer malabarismos com as finanças para proteger o dinheiro da inflação voltou a assombrar o comércio. Como parte da renda dos brasileiros foi corroída pela persistência da alta dos preços, o que favoreceu o recorde no endividamento das famílias, as compras do Natal deverão ser afetadas. E não apenas em volume, mas também em sua composição, preveem economistas. As perspectivas são de que as vendas no varejo, no fechamento do ano, cresçam entre 5% e 6%, ante um aumento de 8,4% no ano passado.

O economista-chefe da Confederação Nacional do Comércio (CNC) e ex-diretor do Banco Central, Carlos Thadeu de Freitas, considera que, por mais que a inflação caia daqui para frente, ela já afetou as finanças das famílias. Por ter comido parte do orçamento dos consumidores, ajudou a elevar o endividamento. Em fevereiro, o dado mais recente do Banco Central, o endividamento quebrou todos os recordes. Subiu de 43,57% para 43,75%. É o maior nível desde quando a autoridade monetária começou a registrar os dados, em 2005. E, agora, os juros estão em alta.

— Neste ano, o Natal será no Natal — brincou o economista, ao explicar que este ano as compras de Natal não serão antecipadas.

Freitas lembrou que, no ano passado, a cada pacote de estímulo à produção, as vendas eram antecipadas. Foi assim com automóveis, móveis e eletrodomésticos, por exemplo.

Os números do Banco Central mostram um menor crescimento do crédito no Brasil, um tranco para o consumo. No mês passado, a concessão de novos empréstimos caiu, em média, 4%.

Em vez de eletrônicos, roupas e calçados

O presidente da Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL), Roque Pellizzaro, disse que, neste Natal, o perfil das compras dos brasileiros será diferente. Uma parte do orçamento reservada nos últimos quatro anos para eletroeletrônicos será destinada a roupas e calçados.

— Isso os comerciantes já estão sentindo e considerando na composição dos estoques. A venda de vestuário e calçados depende menos de crédito e é realizada com parcelamentos mais curtos — afirmou Pellizzaro, que destacou que esse movimento é impulsionado por um possível ciclo de elevação nos juros no país, pela inflação alta e, sobretudo, pelo comprometimento da renda dos brasileiros.

O operador de supermercado André Luís Souza Dourado, 32, acompanha preços de notebooks há um mês, mas disse que só vai levar o produto para casa porque realmente precisa. Para fugir dos preços altos, poupou e vai pagar à vista.

— Tenho contas de água, luz e condomínio e não quero me endividar com prestações.

Segundo Fábio Bentes, economista da CNC, os números do IBGE mostram um menor crescimento das vendas do varejo — a taxa caiu para 3,5% no primeiro trimestre deste ano, contra 10,3% nos três primeiros meses de 2012.

Bentes destacou que, em abril, o comércio abriu metade das vagas de emprego criadas no mesmo mês do ano passado. A seu ver, a taxa de inadimplência dos empréstimos para pessoas físicas, hoje em 7,5%, deverá cair para 7,3% até dezembro, um nível “satisfatório”.

— Este não será um ano bom para quem lida com comércio e serviços — analisou.

A aposentada Elisabete Maria de Medeiros Sousa, 57, não mudou seus hábitos de consumo, mas sai em busca de promoções. Depois de pesquisar, conseguiu reduzir em R$ 229 o preço de uma máquina de lavar que estava no mostruário.

— Só vou comprar porque a minha quebrou. Preferi pagar à vista para ter o desconto.

Já a administradora Maria do Amparo Cardoso Rodrigues, 55, pediu a ajuda de um colega e passou mais de um mês olhando as promoções para levar para casa uma geladeira e um fogão. O preço total caiu de R$ 3 mil para R$ 2,5 mil e foi dividido em dez vezes no cartão. Segundo ela, por enquanto, o orçamento tem ficado mais apertado apenas devido à alta dos alimentos.

— As compras de supermercados estão mais cara. Feijão, carne e tomate estão com preços mais altos — observou.



Veículo: O Globo - RJ


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