Em Salvador, salário já está 10% menor neste ano

Leia em 3min 30s

Uma atividade menos aquecida e uma indústria em crise já começaram a causar consequências em Salvador: lá, o rendimento médio está hoje 10% menor que no ano passado, à revelia das garantias de governo e de economistas, e até mesmo dos números no resto do país, de que o mercado de trabalho continuará aquecido, o desemprego em baixa e a renda em alta.

O rendimento médio real na região metropolitana da capital baiana, que em março do ano passado era de R$ 1.602, chegou a R$ 1.431 em março deste ano, segundo a Pesquisa Mensal do Emprego do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O poder de compra vem caindo mês a mês desde julho do ano passado, quando embicou a curva de crescimento que registrava desde 2005, entre pequenas e esparsas oscilações. Na média dos 12 meses até março, o soteropolitano recebeu R$ 1.486 por mês, ou 4% menos que a média de R$ 1.548 dos 12 meses imediatamente anteriores.

Salvador é a única das seis regiões metropolitanas pesquisadas pelo IBGE que registra perdas - na média nacional, o trabalhador brasileiro ganhou R$ 1.855,40 em março, ou 0,56% mais que em igual mês ano passado.

Embora colabore para corroer os ganhos reais, a inflação não está no topo da lista de razões para a perda de poder de compra. Uma possível onda de desemprego menos ainda - em março, ainda segundo o IBGE, a desocupação da região metropolitana de Salvador chegou a 6,9%, a menor da série histórica para o mês de março, como aconteceu em todas as outras regiões. "O problema não é falta de postos, é pressão de uma parte maior da população que passou a procurar emprego", explica Ana Simões, coordenadora da pesquisa de emprego do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos e Socioeconômicos (Dieese) em Salvador.

Segundo ela, no movimento contrário do que ocorreu na última década, observa-se desde 2012 um aumento no número de jovens, além de idosos, procurando emprego na capital, o que puxa a média salarial para baixo, já que são pessoas com menor qualificação ou preparação e que aceitam postos menores. "Os jovens, que estavam saindo do mercado de trabalho para ir estudar, agora estão voltando, e isso acontece justamente porque a renda está regredindo. Quando a renda da família cai, a tendência é que aquelas pessoas que não estavam no mercado de trabalho comecem a procurar emprego", diz Ana. Em Salvador, o número de jovens de 15 a 17 anos trabalhando ou procurando emprego passou de 20 mil em março do ano passado para 33 mil neste ano, um aumento de 65%, enquanto no país houve uma queda de 3,8% nesta faixa para o período.

Gustavo Palmeira, analista técnico de emprego na Superintendência de Estudos Sociais e Econômicos (SEI) do governo da Bahia, ressalta a migração de trabalhadores da indústria - que tem os salários mais altos e vem demitindo bastante na região -, para outras áreas com rendimento mais baixo, como o comércio. Nos 12 meses até março, a indústria de transformação da Bahia já fechou 3,9 mil postos de emprego formais, segundo o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), embora o saldo do período seja de 22,6 mil novos empregos, puxados principalmente por serviços, construção e comércio. "Também tem diminuído o número de trabalhadores do funcionalismo público e o da população com carteira assinada, enquanto o total de funcionários sem carteira aumenta", diz Palmeira. "É uma troca de ocupações que pagam salários melhores por outras com rendimentos mais baixos", acrescenta.

A perspectiva, no entanto, é de uma melhora no quadro. Ana Jorgina, supervisora do escritório baiano do Dieese, lembra que ao menos os trabalhadores com carteira assinada continuam garantindo salários com ganhos reais - em 2012, 96,7% das negociações da Bahia recompuseram a inflação em 2%, na média -, e Palmeira, da SEI, aposta na atividade aquecida de fim de ano. "A nossa esperança é que os rendimentos parem de cair e se estabilizem no atual patamar a partir de maio. Depois, no segundo semestre, eles sempre tendem a aumentar", disse.



Veículo: Valor Econômico


Veja também

Renner vale mais do que J.C. Penney

A Renner, maior rede de vestuário do país, alcançou neste ano um valor de mercado superior ao da J....

Veja mais
Brasil será o primeiro país fora da Ásia a fabricar PlayStation 3

Depois de anos de expectativas, a Sony anunciou ontem que vai fabricar no Brasil o console de videogame PlayStation 3. A...

Veja mais
Seca e inflação desaceleram o Nordeste

A seca e a inflação, especialmente dos alimentos, tiraram ímpeto da economia do Nordeste. Os indica...

Veja mais
Remédio e vestuário mantêm inflação estável

Os alimentos estão perdendo fôlego em intensidade mais branda do que era projetado por economistas e a desa...

Veja mais
Safra brasileira aumenta lucros de transportadora

ALL vê volume de cargas crescer 7,3%, impulsionado por maior embarque de grãos e ganho de produtividade de ...

Veja mais
Inflação estraga festa das mães

Segunda data mais importante para o setor varejista terá crescimento de vendas modesto, o menor desde 2009, pegan...

Veja mais
Alimentos têm nova alta, diz pesquisa do Dieese

Os preços dos gêneros alimentícios essenciais continuaram em alta no mês passado. Segundo pesq...

Veja mais
Novo preço mínimo do café decepciona produtores

O aumento que o Conselho Monetário Nacional (CMN) determinou para preço mínimo do café ar&aa...

Veja mais
Varejo espera cadastro positivo para agosto

Empresários  do varejo esperam começar a utilizar o cadastro positivo a partir de agosto. O cadastro,...

Veja mais