Alimentos comuns perdem espaço em fazendas do país

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Produtos são cada vez mais importados para suprir a demanda nacional

Arroz e feijão, vilões nos últimos índices de inflação, têm queda de produção e alta acima de 20% em 12 meses

Os alimentos comuns na mesa dos brasileiros estão mais caros. Esses produtos essenciais perdem espaço nas fazendas e, para suprir a demanda nacional, são importados em quantidades cada vez maiores.

Vilões nos últimos índices de inflação, o arroz e o feijão têm sofrido retração de produção e agora aparecem com alta acumulada de preço acima de 20% em 12 meses.

Em comparação com 25 anos atrás, as áreas plantadas caíram pela metade, em que pese o aumento da produtividade por hectare.

Enquanto isso, soja e milho, commodities cuja exportação vem ajudando a segurar a balança comercial do país, ganharam terreno no período, de acordo com dados da Conab (Companhia Nacional de Abastecimento).

Esses dois tipos de grão, justamente por esse atrativo comercial, ficaram com mais de 50% do crédito rural para lavouras no Brasil em 2012.

Itens cruciais da cesta básica, como batata e banana, ficam com uma pequena fatia dos financiamentos. O tomate, que mais do que dobrou de preço em um ano, teve somente 0,5% do total de crédito para as lavouras.

O trigo é um exemplo de produto essencial escasso, e a maior parte da quantia consumida é importada de países como a Argentina.

Para o professor de economia Leonardo Xavier, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, a sustentação dos altos preços internacionais de commodities leva os produtores a expandir áreas de cultivo para exportação.

A produção para abastecer o mercado interno acaba ficando principalmente nas mãos de produtores familiares, que "não têm o mesmo fôlego", afirma Xavier.

Segundo André Chagas, da Faculdade de Economia e Administração da USP, grande parte do crédito agrícola financia exportações porque os produtores de soja e milho oferecem garantias maiores.

No mais recente IPCA-15, que calcula a inflação levando em conta setores como alimentação, aluguel e vestuário, os alimentos panificados corresponderam a 1,86% do peso de toda a inflação no país -ficando atrás apenas de leites e derivados.

Para o economista André Braz, da Fundação Getulio Vargas, a falta de investimentos compatíveis acaba aumentando a possibilidade de alta nos preços.

"O setor agrícola é intensivo em grandes commodities, enquanto a gente depende mais da oferta de arroz, feijão e leite para ter uma inflação mais baixa", diz.

CONSELHO PÚBLICO

Estudos internos sobre o avanço na importação de alimentos e a instabilidade nos estoques do país chegaram às mãos da presidente Dilma Rousseff no início do ano.

Sua primeira reação foi criar um conselho interministerial para definir estratégias de compra e liberação dos produtos. A tarefa, antes restrita ao Ministério da Agricultura, agora é dividida com Casa Civil, Fazenda e Desenvolvimento Agrário.

Os estoques públicos servem como uma ferramenta para o governo intervir nos preços dos alimentos. Em caso de alta, por exemplo, a União pode vender seus volumes e forçar uma queda nos valores com a ampliação da oferta no mercado.

O secretário de Política Agrícola do Ministério da Agricultura, Neri Geller, diz que a situação do trigo deixa o governo "preocupado" e que já há uma série de medidas de estímulo, como o aumento do orçamento destinado a garantir um preço mínimo do grão.

Ele também afirma que é preciso expandir culturas como arroz e feijão, hoje concentradas no Sul, para a fronteira agrícola da região Centro-Oeste.



Veículo: Folha de S.Paulo


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