Estoques fartos de suco travam a recuperação da citricultura

Leia em 3min 20s

As esperanças de produtores de laranja e empresas exportadoras de suco de que a crise de rentabilidade que afeta o segmento se torne menos aguda na próxima temporada (2013/14) e seja superada na safra seguinte (2014/15) sofreram um novo baque ontem com a divulgação do nível de estoques da commodity nas mãos da indústria.

Segundo a Associação Nacional dos Exportadores de Sucos Cítricos (CitrusBR), que representa Cutrale, Citrosuco /Citrovita e Louis Dreyfus, os estoques globais de suco de laranja brasileiro chegaram a 1,144 milhão de toneladas em 31 de dezembro, o equivalente ao total embarcado pelo Brasil no ano passado.

Ainda que o Brasil exporte tanto suco de laranja concentrado e congelado (FCOJ, na sigla em inglês) quanto o suco integral pronto para beber, não concentrado (NFC), os cálculos sobre o volume armazenado convertem todo o volume em FCOJ, que é a "soft commodity" negociada na bolsa de Nova York.

Do total estocado em 31 de dezembro, informou a CitrusBR, 311 mil toneladas foram dadas como garantia nos termos da Linha Especial de Crédito (LEC) criada pelo governo para enxugar o mercado e não podem ser comercializadas nesse momento pelas empresas.

Mesmo assim é muita coisa. Em junho do ano passado, os estoques totalizavam 662,5 mil toneladas, ou US$ 3,1 bilhões, o suficiente para 7,9 meses de consumo. Em dezembro de 2011, eram 932 mil toneladas. Nos dois casos, as mesmas 311 mil toneladas vinculadas à LEC já faziam parte do volume total.

O grande volume estocado turva o cenário de recuperação do mercado, que vinha ganhando contornos mais claros em virtude da redução da oferta de laranja nos cinturões de São Paulo e da Flórida, que reúnem, nessa ordem, os dois maiores parques citrícolas do planeta.

Segundo a CitrusBR, a colheita da safra 2013/14 em São Paulo e no Triângulo Mineiro (onde as empresas exportadoras, radicadas em São Paulo, também se abastecem de matéria-prima), que terá início em junho e deverá se prolongar até janeiro, deverá render 281 milhões de caixas de 40,8 quilos, ante as 364 milhões estimadas para 2012/13.

Depois de duas supersafras seguidas na região - em 2011/12 foram 428 milhões de caixas, segundo a indústria -, a queda prevista, em um cenário de demanda global por suco retraída, vem acompanhada pela redução da produção da fruta também na Flórida.

De acordo com Maurício Mendes, presidente da consultoria Informa Economics FNP e membro do Grupo de Consultores em Citrus (GConsi), a colheita da safra 2011/12 no Estado americano, que terminará em julho, deverá alcançar 141 milhões de caixas, bem abaixo das estimativas iniciais para a temporada, que sinalizavam mais de 150 milhões.

E esse volume, segundo ele, ainda poderá recuar mais. Somadas as reduções das produções de laranja de São Paulo e da Flórida, o volume de suco que deixará de entrar no mercado poderá atingir aproximadamente 500 mil toneladas.

Seria o suficiente para reduzir os estoques e dar fôlego ao segmento na próxima safra, mas o grande volume armazenado pelas indústrias surpreendeu Mendes e devolveu à reação da demanda por suco, cujas cotações em Nova York seguem sob pressão (ver gráficos), um papel de protagonista que tem decepcionado o segmento na última década.

Nesse contexto, os contratos de longo prazo firmados entre empresas e fornecedores terceirizados da fruta perderam força e os preços da laranja no mercado spot seguem em torno de R$ 6, de acordo com o Cepea/Esalq - valor insuficiente para cobrir os custos de produção, estimados por Mendes entre R$ 8 e R$ 12, dependendo da produtividade.

Com subsídios do governo federal, os produtores conseguiram escoar 40 milhões de toneladas de laranja da safra 2012/13 por R$ 10, e a prorrogação desse apoio será reivindicada. As indústrias também poderão solicitar mais uma prorrogação da LEC, mas não há garantias do que o segmento, que continua a discutir a criação de um conselho para harmonizar as relações entre citricultores e empresas, vai conseguir.



Veículo: Valor Econômico


Veja também

Com novo PlayStation, Sony une ainda mais jogos à web

Mais de dez anos atrás, o executivo da Sony Corp. chamado de "Pai do PlayStation" previu que, um dia, os videogam...

Veja mais
Eurofarma está prestes a concluir aquisição no Peru

O laboratório nacional Eurofarma vai anunciar nas próximas semanas a compra de uma farmacêutica no P...

Veja mais
Brasil e Rússia fecham acordo comercial sobre trigo e soja

A finalização do acordo sobre os requisitos fitossanitários que possibilitará a importa&cced...

Veja mais
Empresas tentam nacionalizar componentes de calçados esportivos

O Brasil pode passar a produzir ao menos 24 componentes de calçados esportivos, hoje importados. Fabricantes de i...

Veja mais
Arcor investirá R$ 150 milhões até o fim de 2015

A fabricante argentina  de chocolates, biscoitos e guloseimas Arcor planeja investir R$ 150 milhões no Brasi...

Veja mais
Varejo cresceu 8,4% em 2012, mas patinou no fim do ano

Segundo o IBGE, comércio beneficiou-se dos estímulos ao consumo, como os cortes dos juros e do IPIApesar d...

Veja mais
Aumento salarial pode afastar empresas da China

Os aumentos de salário na China e a baixa produtividade da indústria local podem levar indústrias p...

Veja mais
Leite com chocolate

A Dália Alimentos, com sede no Rio Grande do Sul, investirá R$ 22 milhões em uma unidade de fabrica...

Veja mais
Retorno da chuva traz alento à soja no Rio Grande do Sul

Mesmo com registros de quebra, principalmente no noroeste do Estado, otimismo na produção se mantém...

Veja mais