Bônus demográfico favorece varejo de luxo

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O mercado de luxo tende a se manter aquecido no Brasil por pelo menos mais 10 anos graças a um "bônus demográfico" e à avaliação positiva de duas agências de classificação de risco, a Standard and Poor's e a Fitch. As informações são do especialista em negócios de luxo Cláudio Diniz.

O primeiro fator se refere a um período único na história de uma nação quando a soma entre o grupo de crianças e de idosos, considerada como dependentes, na base e topo da pirâmide de faixa etária, é menor do que o grupo da população adulta, ou economicamente ativa (PEA), conforme pesquisas do IBGE realizadas no segundo semestre de 2012. O segundo diz respeito à avaliação de duas consultorias internacionais. Em 2008, elas elevaram o Brasil à categoria de países de baixo risco para investimentos estrangeiros. Isso ocorreu devido à redução da dívida externa e às perspectivas otimistas de crescimento para o mercado.

"Este é um momento histórico para o Brasil. Agora somos a bola da vez, o pote de ouro do capital estrangeiro", disse o consultor, que classificou o período atual brasileiro de ideal para o investimento no mercado de luxo.

"Por conta do crescimento econômico, o País passa por um processo de ostentação. Hoje, a cada 50 minutos três pessoas se tornam milionárias no Brasil. Em 2013 a estimativa é de 27 minutos", completou ele.

Segundo ele, a quantidade de consumidores de produtos de luxo se expandiu nos últimos anos a níveis nunca antes vistos, principalmente por conta do surgimento da classe intitulada "novos ricos". "São estes, na sua grande maioria, os agropecuários, celebridades e jogadores de futebol", afirmou o analista, e completou: "De 2011 para 2012, surgiram 38 novos bilionários de nacionalidade brasileira. Atualmente, existem 319 milionários e a estimativa é que o número suba para mais de 800, em 2016".

Somados a estes fatores, os eventos esportivos, como a Copa das Confederações (2013), Copa do Mundo (2014) e os Jogos Olímpicos (2016), também têm contribuindo em grande parte para o aporte de capital estrangeiro no País. É por conta disso que os setores de hotelaria, gastronomia, veículos, serviços a executivos, cosméticos e vestuário são os que mais crescem dentro do mercado de luxo brasileiro.

Com o setor automotivo não é diferente. O maior exemplo disso foi o lançamento recente do novo carro da Ford, o Fusion 2013, modelo mais caro da montadora no Brasil - R$ 112.990 -, direcionado para um consumidor específico, mas não limitado. "Por mais que o novo Fusion seja um veículo de luxo, esperamos vendê-lo em grande escala", previu Rogelio Golfarb, vice-presidente da Ford na América do Sul.

Não é à toa que as empresas automotivas estão investindo na sofisticação dos novos modelos. O Brasil é o quarto maior consumidor de veículos do mundo e deve aumentar as vendas, em quantidade de produtos, de 3,8 milhões, em 2012, para 6 milhões, em 2020.Estudos também apontam que em oito anos o País se tornará o quinto mercado consumidor do globo, segundo Cláudio Diniz.

"Os consumidores deste setor são muito globalizados, ou seja, têm acesso a tudo o que acontece no mundo, por isso, eles não esperam receber nada de diferente do que se vende no planeta", avaliou o executivo.

Outros setores também têm recebido altos investimentos, como é o caso das reformas milionárias, em andamento, dos principais hotéis de luxo do Rio de Janeiro, como o Copacabana Palace e o Glória.

Em relação às grandes marcas estrangeiras, as varejistas Chanel e Sephora estimam a abertura de 40 lojas para 2016.

A região onde o segmento mais cresce no País é a sudeste. Só nas capitais São Paulo e Rio de Janeiro, dois shoppings de luxo já foram construídos, o Jk Iguatemi e o Village Mall, cuja inauguração será no dia 4 de dezembro.

Particularidades do setor

O mercado de alto custo europeu é muito mais antigo do que o brasileiro. Por isso, os dois caminham muitas vezes em sentidos opostos. Segundo Cláudio Diniz, enquanto o comércio de luxo de países desenvolvidos é pautado em sustentabilidade, o brasileiro se atém ao exagero.

"Itália, França, Alemanha e Inglaterra representam somados 75% do mercado de luxo do mundo, pois já têm tradição centenária no setor. O Brasil ainda possui um mercado embrionário, mas com grande potencial de crescimento", afirmou Diniz.

Para Rogelio Golfarb, "o brasileiro é um consumidor que se adapta facilmente às novas tendências". Além dos grupos mais abastados, a classe média é uma das grandes responsáveis pela alta expansão do segmento. "Aqui é o único lugar em que você compra o luxo em 10 vezes", declarou Diniz, ao se referir às facilitações de pagamento largamente exploradas pelas lojas de alto padrão. O ticket médio de um consumidor de luxo brasileiro vale aproximadamente R$ 4.710 por mês.

Concorrência internacional

Quando os países da Europa se afundaram em crise devido à carência do sistema bancário norte-americano, em 2008, o Brasil atravessava um período de boom econômico e não sofreu grandes reveses financeiros em comparação com o resto do mundo.

Isso fez com que grandes empresas internacionais tirassem o foco do eixo desenvolvido, formado basicamente por Estados Unidos, Europa Setentrional e Japão, e passassem a olhar de perto países em franca ascensão econômica, mais conhecidos como emergentes. Além do Brasil, China, Índia e Rússia também fazem parte deste grupo.

Segundo o especialista, o mercado nacional se sobressai ao dos outros países por conta da ausência de problemas internos e externos na estrutura administrativa brasileira.

"A China enfrenta um sério problema com a pobreza, a Índia está em constante instabilidade política por causa de conflitos com países vizinhos, a Rússia sofre com a corrupção generalizada nos setores mais estruturais da sociedade, fatores estes que contribuem para que as multinacionais concentrem seus investimentos no Brasil."


Veículo: DCI


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