Hypermarcas lucra mais com remédios

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Conhecida como uma "máquina de compras", a Hypermarcas vai dar um tempo. Desde o início de 2002, quando entrou efetivamente em operação, a companhia fez 28 aquisições para se tornar a gigante que é hoje, com faturamento de R$ 4,2 bilhões. Dez anos depois, a Hypermarcas decidiu ajustar o foco. A empresa quer ser uma das maiores do setor farmacêutico do país e de consumo, nos segmentos de beleza e higiene pessoal.

Há cinco anos, quando decidiu entrar no setor farmacêutico, a companhia fez cinco aquisições, que somaram R$ 5,9 bilhões, e está concentrando em Anápolis (GO) 75% de sua produção de medicamentos. Esse complexo industrial recebeu investimentos de R$ 100 milhões e se tornou o maior laboratório da América Latina em capacidade instalada.

O processo de realinhamento do grupo teve um penoso percurso. Em meio a um cenário macroeconômico adverso em 2011, a companhia viu suas ações saírem do céu para o inferno, com desvalorização de 62,06% no ano passado. Neste ano, a situação começou a se inverter. No acumulado do ano até ontem, os papéis registravam alta de 59,18%, de acordo com levantamento do Valor Data. Ontem, os papéis da companhia fecharam cotados a R$ 15,53.

Para dar uma guinada na companhia, a Hypermarcas decidiu se desfazer no ano passado de três importantes ativos - Assolam (esponja de aço e produtos de limpeza), Assim (produtos de limpeza) e Etti (atomatados), que deram início às operações do grupo. A empresa criou duas divisões de negócios - farmacêutica e consumo. Com o ajuste do portfólio e divisões definidas, a companhia começou a preparar seu plano de expansão para os próximos cinco anos. A meta é crescer organicamente, deixando um pouco de lado o DNA consolidador.

Em 2011, quando encerrou com faturamento bruto de R$ 4,2 bilhões, a divisão de consumo representava 50,7% da receita do grupo, e fármacos ficou com 49,3%. Neste primeiro semestre, houve uma inversão. O setor farmacêutico ficou com 56,7% e consumo 43,3%. A expectativa é de que haja um equilíbrio entre as duas divisões de negócios, mas a área farmacêutica, que tem margens mais atraentes, responde por cerca de dois terços do lucro bruto da companhia, que neste primeiro semestre ficou em R$ 1,15 bilhão.

"Hoje ninguém conseguiria criar uma empresa nos mesmos moldes da Hypermarcas", afirmou ao Valor Claudio Bergamo, CEO da companhia.

A decisão de entrar no segmento farmacêutico começou em 2007, quando o grupo comprou o laboratório DM. Com essa aquisição, tornou-se dona de conhecidos medicamentos isentos de prescrição (Mips) ou OTC (na sigla em inglês), como Atroveran, Biotônico Fontoura, Doril, Engov e Eplocler, com forte apelo popular e linha de frente de qualquer farmácia. No ano seguinte, abocanhou o laboratório Farmasa, entrando no segmento de remédios de prescrição, com importantes marcas como Rinosoro e Tamarine. Em 2009, deu uma grande tacada, com a compra da Neo Química, desbancando multinacionais que estavam no páreo. No ano seguinte, adquiriu a Luper, mas compra da Mantecorp, no fim de 2010, consolidou o portfólio da companhia como líder em medicamentos isentos de prescrição, similar e a terceira maior em genérico, além de fazer sua estreia na área de dermocosméticos.

A expansão no setor farmacêutico foi batizada de projeto Magnum, que incluiu a consolidação das fábricas de medicamentos em Anápolis (GO). No Rio de Janeiro, onde a companhia mantém a unidade da Mantecorp, ficam os 25% restantes da produção.

Para dar prosseguimento ao seu processo de expansão nesse segmento, a Hypermarcas foi ao mercado e contratou o executivo Luiz Eduardo Violland, ex-presidente da Nycomed (adquirida pela japonesa Takeda). Violland chegou à companhia em outubro do ano passado para assumir a divisão farmacêutica do grupo. "Nosso mercado não depende de financiamento. Nosso setor cresce com a maior renda da população", afirmou Violland.

E como a maioria dos produtos farmacêuticos da Hypermarcas está fora do balcão, a estratégia da companhia é atacar em todas as frentes. Uma equipe de 500 pessoas é responsável para visitar o varejo farmacêutico, desde grandes redes, como as independentes, explicou Violland. No caso dos medicamentos com prescrição, a visita aos médicos também se intensificou. "Nosso foco é na execução."

Neste ano, o grupo anunciou participação na joint venture da superfarmacêutica nacional BioNovis, que tem como sócios Aché , EMS e União Química, cada um com 25% de participação. Os investimentos serão de R$ 500 milhões, dos quais R$ 300 milhões em dívida e o restante dividido entre os sócios. A nova empresa vai investir em biológicos e biossimilares.

Com histórico consolidador, a Hypermarcas sofreu um forte revés no ano passado. Suas ações derreteram, chegando a valer menos que em 2008, quando abriu o capital, e a gestão da companhia foi questionada. Analistas criticaram as inúmeras aquisições - no setor farmacêutico a companhia inflacionou os ativos por conta do seu apetite - e o mercado dava como certa a saída de Claudio Bergamo do grupo. Neste ano, o humor do mercado mudou em relação à empresa. "O mercado começou a entender a nossa estratégia", afirmou Bergamo.

Passado o período turbulento, o apetite por aquisições dará lugar à estratégia de expansão orgânica. Bergamo não fala em metas de crescimento, mas disse que a companhia busca encerrar 2012 com Ebtida (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização) acima de R$ 850 milhões. O capex (investimento) para 2012 está previsto em R$ 200 milhões. Em 2013, a projeção é de R$ 150 milhões e, em 2014, ficará entre R$ 80 milhões e R$ 100 milhões. Os aportes de marketing ficam em 19% da receita líquida anual.

Com o desinvestimento nos três ativos, R$ 445 milhões entraram no caixa do grupo. O endividamento da empresa está em três vezes o Ebtida do último trimestre anualizado. A companhia trabalha para reduzir seu endividamento para ficar entre 2 a 2,5 vezes o Ebtida. A empresa informou que sua posição de caixa está em R$ 2,3 bilhões e que o perfil de sua dívida é majoritariamente de longo prazo.

Para a divisão de consumo, que responde por beleza e higiene pessoal, o grupo criou o projeto Matrix, que começou a ser executado este ano e deverá ser concluído em 2013. O projeto prevê consolidar as unidades da área em uma única fábrica em Senador Canedo (GO).



Veículo: Valor Econômico


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