A fabricante de calçados Alpargatas garante que a margem bruta vai voltar a crescer no terceiro trimestre. Entre abril e junho deste ano, o indicador recuou 2,4 pontos percentuais e, a margem líquida, 3,3 pontos, em relação ao mesmo período do ano anterior.
Para atingir a meta, o presidente da companhia, Márcio Utsch, aposta no reajuste de preços do carro-chefe da empresa, as sandálias Havaianas, que passarão a custar até 13% mais no Brasil; no incremento das vendas da marca no exterior, com a maior presença da marca em grandes redes varejistas e em lojas próprias (ver ao lado); e em um forte projeto de redução de custos, implantado há seis meses na companhia.
"É um projeto que nos remete ao que fez a Toyota lá fora em momentos difíceis, porque reduz definitivamente alguns custos, independentemente do câmbio", afirmou Utsch ontem, em teleconferência com analistas. "Vamos começar a capturar os benefícios do controle de despesas, depois de seis meses de implementação do projeto", disse José Roberto Lettiere, diretor de relações com investidores da Alpargatas, reforçando que, a partir de agora, a empresa vai "traçar novas diretrizes orçamentárias mais rígidas".
Na mesma linha, o projeto "Rumbro 38", na Argentina, busca reduzir os custos fixos. "No atual trimestre, já observamos aumento de 1,5 ponto percentual na margem da Argentina", disse Utsch.
O executivo chamou a atenção para o pico do preço da borracha no segundo trimestre, que impactou os custos da companhia. "Em abril, o preço da tonelada da borracha era de US$ 4,3 mil, mais do que o dobro do que era cotada em abril de 2010", disse Utsch, que já observa um recuo na cotação da matéria-prima, a principal da Alpargatas. "Desde o mês passado, o preço da tonelada caiu 10%".
No Brasil, a empresa decidiu aumentar em até 13% o preço das Havaianas neste terceiro trimestre. "Foi um aumento consciente, com base na comparação com os concorrentes", diz Utsch. "Estamos lançando a melhor coleção de Havaianas de todos os tempos neste trimestre, o que deve fazer com que o mix da marca [que reúne os produtos de maior valor agregado] salte de 41% para 50% das vendas totais até o fim do ano", disse o executivo.
A nova fábrica da companhia em Montes Claros (MG), fruto de um investimento de R$ 250 milhões, começa a operar em fevereiro, o que deve desafogar a capacidade produtiva de Havaianas, que está perto do limite. Em 2011, a Alpargatas vendeu 220 milhões de pares da sandália de borracha, que responde por aproximadamente metade do seu faturamento, enquanto que a capacidade de produção da marca é de 250 milhões.
A unidade mineira vai incrementar em 102 milhões de pares a capacidade de produção de Havaianas e estará focada em itens de maior valor agregado. "A nova fábrica vai trazer ainda mais margem, porque terá menos mão de obra e mais automação", disse o executivo, garantindo que não vai faltar sandália no verão. "Nós já formamos estoques estratégicos desde o primeiro semestre". A receita líquida da Alpargatas cresceu 15,5% no segundo trimestre, para R$ 727,3 milhões. O lucro líquido caiu 16,9%, para R$ 73,9 milhões.
Crise faz Havaianas vender mais na Europa e nos EUA
As sandálias de borracha Havaianas se adequam ao orçamento enxuto de europeus e americanos - os principais responsáveis pela alta de 53% nas vendas internacionais da marca no segundo trimestre de 2012, em relação ao mesmo período do ano passado.
"É um produto fashion e barato, que vem a calhar em um momento de crise", disse ao Valor o diretor de relações com investidores da Alpargatas, José Roberto Lettiere. Na Europa, um par de Havaianas sai por volta de € 25 e, nos EUA, por US$ 25. A venda de Havaianas no exterior representa 10% da receita líquida total, que foi de R$ 727,3 milhões no segundo trimestre.
A empresa abriu três lojas próprias da marca este ano - em Paris, Madri e Milão. Ao todo, são oito lojas no exterior, de propriedade da Alpargatas. Segundo Lettiere, a fabricante deve abrir a sua primeira loja nos Estados Unidos até dezembro, em Miami. "Ao mesmo tempo, estamos fortalecendo a presença da marca em grandes varejistas, como a Bloomingdale's e a Macy's nos Estados Unidos, e a Galeries Lafayette em Paris", diz. (DM)
Veículo: Valor Econômico