Varejo cai 6,2% e aprofunda recessão; consumidor reduz compras

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O varejo está colocando de vez o Produto Interno Bruto (PIB) no atoleiro. Em setembro, as vendas no setor — que, por mais de uma década, foi o bastião da economia — despencaram 6,2% na comparação com o mesmo período do ano anterior, segundo a Pesquisa Mensal do Comércio (PMC), divulgada ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Foi a oitava queda consecutiva e a maior, para setembro, em toda a série histórica, iniciada em 2001. Em 12 meses, a queda foi de 2,1%, e, no acumulado do ano, de 3,3%, as maiores taxas desde 2003. Para os analistas, a retração da atividade é um sinal claro de aprofundamento da recessão.

Com a retração do consumidor, no terceiro trimestre, o varejo recuou 5,7% em relação ao mesmo período de 2014, o pior resultado desde o tombo de 6,1% registrado no primeiro trimestre. Com as lojas mais vazias, os comerciantes estão demandando menos encomendas da indústria. O impacto disso pode ser visto na produção industrial, que desabou 9,5% no terceiro trimestre, segundo o IBGE.

Nesse cenário, o Itaú Unibanco prevê que o PIB entre julho e setembro cairá 1% em relação ao segundo trimestre, puxado pela retração do varejo e da indústria, que reflete a queda no consumo das famílias. Pelas projeções de João Morais, economista da Tendências Consultoria, o indicador de consumo — que representa mais de 60% do Produto Interno Bruto (PIB) pela ótica da demanda —, recuará 2,8% neste ano. Se confirmado, será o pior resultado para o índice desde 1991, o que reforça as perspectivas de queda de 3,2% do PIB em 2015.

“A discussão agora é sobre o tamanho que a queda do varejo, do consumo das famílias e, consequentemente, do PIB, pode atingir. Que os três indicadores registrarão os piores resultados em mais de uma década, isso já está dado. Os fundamentos econômicos continuam ruins, e não vejo melhora no horizonte”, afirmou Morais, que não descarta revisar as projeções para quedas ainda maiores. Ele prevê encolhimento de 4,9% nas vendas no comércio, o que seria o pior índice da série histórica do IBGE.

Prejuízos

Para 2016, o ambiente não será muito diferente, avaliou Morais. Com o desemprego ainda em alta, a inflação beirando o limite de tolerância, de 6,5%, os juros médios para pessoas físicas a 62,5% ao ano, e inadimplência de 6,2%, ele acredita que as vendas no varejo terão mais um ano de contração — de 3,5%. O consumo das famílias, por sua vez, deve recuar 2,1%, acima do PIB, que cairia 2%.

Mesmo a eventual troca de cadeiras no Ministério da Fazenda pouco solucionaria os prejuízos no comércio, afirmou Morais. Mesmo que Henrique Meirelles, ex-presidente do BC, assuma a pasta no lugar de Joaquim Levy, como tem sido ventilado nos bastidores, a confiança do consumidor não seria retomada. “A curto prazo, se ocorresse ainda em 2015, a troca só alimentaria a queda do PIB. A incerteza continuaria elevada”, ponderou.

A proposta do ex-presidente Lula de colocar Meirelles na Fazenda para dar uma injeção de crédito na economia, e repetir a retomada do PIB via consumo, como em 2010, é vista com dúvidas por Morais. “Com o alto endividamento das famílias, seria muito difícil voltar a subsidiar os gastos, como no passado. Aquele crédito tomado lá atrás está sendo pago até hoje”, disse. Para ele, a ideia não é sustentável. “Não é isso que vai fazer a taxa de desemprego cair e a inflação desacelerar. Só alimentaria a carestia, ampliando o comprometimento de renda das famílias e um gasto excessivo para o governo pelo aporte de bancos públicos”, acrescentou.

Câmbio

Com Meirelles na Fazenda, o varejo ao menos poderia sonhar com uma pressão menor do dólar sobre os preços de produtos comercializados, movimento que ocorreu na semana. Com isso, diversos segmentos do comércio seriam favorecidos, entre eles, o de hiper e supermercados. “Nem os alimentos estão escapando dos efeitos da desvalorização do real, que eleva os preços e diminui o volume de vendas”, destacou Fábio Bentes, economista sênior da Confederação Nacional do Comércio (CNC).

Em setembro, as vendas dos supermercados caíram 2,2% em relação ao mesmo período do ano passado. No acumulado do ano, o recuo foi de 2,3% e, em 12 meses, de 1,7%, os piores resultados desde 2003. A aposentada Alexandra Pereira, 75 anos, reduziu as compras. “Não tem outro jeito. Com os preços altos, só resta colocar menos produtos no carrinho”, lamentou.

Nem mesmo o segmento de artigos farmacêuticos e medicinais escapou. Pela primeira vez na série histórica da PMC remodelada pelo IBGE, em 2004, a venda de medicamentos caiu na comparação anual: 1,1% em setembro frente ao mesmo período do ano anterior.

 



Veículo: Jornal Correio Braziliense


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