Indústria já reflete mudança de hábitos

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            O setor produtivo começou o terceiro trimestre 14% abaixo do melhor nível, no pico da atividade industrial em 2013, segundo o IBGE. A fabricação de veículos e alimentos puxou a retração

A atividade industrial já reflete uma adaptação dos hábitos de consumo do brasileiro em função da retração econômica. Além da indústria automotiva, a deteriorização do cenário econômico começou a pesar na produção de alimentos como bombons e carnes.

De acordo com a Pesquisa Industrial Mensal, a produção da indústria caiu 8,9% em julho contra um ano antes. O levantamento, divulgado ontem pelo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mostra retração em 23 dos 26 ramos da indústria e queda em 69,9% dos 805 produtos monitorados. O terceiro trimestre começou com atividade 14,1% abaixo do nível recorde registrado em junho de 2013.

"De forma geral, todos os setores relacionados com a demanda interna têm apresentado resultados negativos. Isso é reflexo da renda menor das famílias, do mercado de trabalho desaquecido e outros fatores que influenciam a demanda", destaca o gerente da coordenação de indústria do IBGE, André Macedo.

Na categoria de alimentos (-7,2%), que exerceu uma das principais influências negativas no índice geral em julho, o resultado é reflexo da menor produção de açúcar, suco concentrado de laranja, carne bovina congelada, fresca ou refrigerada, bombons e chocolate em barras, biscoito e leite em pó."Vemos uma pressão importante de açúcar, embora a safra de cana-de-açúcar esteja em patamar semelhante ao do ano passado, vemos uma proporção diferente no uso da cana", explica Macedo.

Segundo ele, este ano a safra da cana-de-açúcar está sendo destinada, principalmente, ao setor alcooleiro e menos à produção de açúcar. Os usineiros optaram por produzir etanol, que tem sido mais rentável, devido à queda do preço global do açúcar.Para os próximos meses, Macedo estima que o maior envio de cana-de-açúcar para produção de álcool deve continuar pressionando a produção de açúcar, o que pode influenciar a atividade do setor.

Na categoria de carne bovina, a retração na produção pode ser atribuída à demanda menor por esses produtos. Com o orçamento doméstico mais pressionado pela inflação alta, os brasileiros tendem a substituir o consumo de carne bovina por carne de aves. "A questão do preço é um fator importante ao avaliar o comportamento da categoria e observamos um claro deslocamento da demanda para carne de aves", pontua Macedo.

Ele cita ainda o desempenho de produtos como suco de laranja, biscoito e sorvete como exemplos que ajudam a entender o comportamento do setor. "Mas é importante ressaltar que, além da migração para outras categorias, esse setor também tem sido impactado pela retração na demanda", lembra o coordenador.

A Associação Brasileira das Indústrias da Alimentação (Abia) também atribui o recuo na produção do setor ao percentual elevado da inflação, a redução do poder aquisitivo da população e a queda no consumo interno. "Segundo o levantamento realizado pelo Banco Central, de março a abril de 2015, cerca de 46% do rendimento das famílias está comprometido com pagamento de dívidas, o que incide na compra de bens duráveis e de alimentos", destacou a Abia, em nota enviada ao DCI.

Macedo, do IBGE, diz que junto com alimentos, outra influência negativa no total da indústria veio de veículos automotores, reboques e carrocerias (-19,1%), impactada pela retração na produção de caminhões, caminhão-trator para reboques e semirreboques, veículos para transporte de mercadorias, automóveis, reboques e semirreboques, carrocerias para ônibus e caminhões e autopeças.

Os únicos setores que registram alta na atividade industrial na comparação com julho de 2014 foram indústrias extrativas (+2,9%), celulose, papel e produtos de papel - esse embalado, principalmente, pelas exportações - (+2,6%) e produtos do fumo (+1,0%)."A produção deve piorar nos próximos meses, porque a expectativa continua negativa e a taxa de câmbio continua em alta, talvez um pouco acima do patamar que ela deve se estabelecer no médio prazo", destaca o economista da TOV Corretora, Pedro Paulo Silveira.

De acordo com ele, no curto prazo a forte desvalorização do real frente ao dólar tende a desestimular a atividade industrial. No médio e longo prazo, entretanto, a expectativa é que a produção recupere o ritmo.

Importados

A concorrência com os importados no setor de bens de informática e telecomunicações e máquinas e equipamentos, que têm registrado queda na produção este ano, deve ficar mais acirrada.

Ontem, a Câmara de Comércio Exterior (Camex), do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, publicou duas novas resoluções no Diário Oficial da União. As medidas reduzem a alíquota do Imposto de Importação para 2% para bens de informática e telecomunicações até 31 de dezembro de 2017. Para máquinas e equipamentos, a alíquota passa a ser de 2% e 0%, com vigência até 31 de dezembro de 2016 e 2017.

 



Veículo: Jornal DCI

 


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