Crise econômica afeta vendas do comércio varejista paraense

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                                                    Medidas econômicas do governo impactaram diretamente no poder de compra do consumidor.

A Fundação Amazônia de Amparo à Pesquisa e Estudos do Pará (Fapespa) em parceria com a Federação das Associações Comerciais Empresariais do Pará (Faciapa) e Associação Comercial do Pará (ACP) lançou o Boletim do Comércio Varejista do primeiro semestre deste ano, nesta terça-feira (02).

O documento constatou que as medidas econômicas do governo federal de reajustes de preços do combustível e da energia elétrica impactaram diretamente no poder de compra do consumidor, reduzindo o consumo das famílias e, consequentemente, desaquecendo as atividades do comércio.

O desempenho negativo das vendas de varejo no período esteve presente em 20 das 27 unidades federativas, tendo como consequência a retração do volume de vendas no Brasil, que foi de 2,2%. O Pará, que é o maior mercado consumidor do Norte do Brasil, tem sofrido com os efeitos da conjuntura econômica. Desde 2010 não se registra diminuição de vendas do comércio varejista paraense no primeiro semestre, contudo, nos primeiros seis meses de 2015, o setor estadual diminuiu 1,4% em relação a 2014, de acordo com o Índice de Volume de Vendas (IVV).

Segundo o Boletim, produzido pela Diretoria de Estudos e Pesquisas Socioeconômicas e Análise Conjuntural da Fapespa, os resultados do primeiro semestre deste ano devem-se também à suspensão de incentivos fiscais do governo federal. “Entre 2012 e 2013 o Governo Federal reduziu o Imposto de Produtos Industrializados (IPI) para produtos da ‘linha branca’ e o setor manteve-se aquecido. Já em 2014 e 2015, sem a redução, o setor varejista absorveu os efeitos, que também estão associados à elevação de tarifas e impostos, fatores que contribuíram para o contingenciamento dos gastos e para a retração da demanda, refletindo tanto no declínio das vendas, quanto na elevação dos preços”, explica Geovana Pires, diretora responsável pela pesquisa.

A elevação dos níveis de preços é uma das variáveis responsáveis pela restrição do consumo e pela retração nas vendas do varejo no primeiro semestre de 2015, uma vez que acumulou variação positiva de 7,71% no período, superior à registrada no mesmo semestre de 2014 (5,35%), segundo a estimativa do Índice de Preços ao Consumidor (IPC-FAPESPA) para a Região Metropolitana de Belém. Habitação e despesas pessoais foram os segmentos de maior alta no período (8,23% e 6,54%, respectivamente). Outro fator que influenciou nas vendas do semestre foi o grande número de feriados coincidido com datas próximas aos finais de semana.

No que diz respeito à arrecadação do setor varejista na primeira metade de 2015, a desaceleração nas vendas impactou na receita, o que comprometeu o recolhimento do ICMS no setor. Neste sentido, segundo dados provisórios do Conselho Nacional de Política Fazendária (CONFAZ), no acumulado de 2015 de janeiro a junho, foram arrecadados R$ 417.270 milhões de ICMS do setor varejista contra R$ 436.506 milhões (corrigido pelo IPCA a preços de 2015) do acumulado do mesmo período de 2014, significando recuo de 4,41% na arrecadação.

Enquanto no primeiro semestre de 2014 a arrecadação do segmento varejista correspondeu a 50% do total arrecadado pelo setor do Comércio, nos seis primeiros meses de 2015 a proporção do varejo foi de 54%. Nesse cenário, a redução da arrecadação do ICMS no setor de Comércio teve menos impacto no recolhimento do varejo.

Por outro lado, entre os municípios levantados pela Junta Comercial do Estado do Pará (JUCEPA), com exceção da capital do estado, Belém, os demais municípios obtiveram resultados positivos no que se refere à abertura de estabelecimentos, com destaque para Santarém, com registro de 402 novas empresas, seguido por Marabá e Ananindeua, com 394 e 300 novos estabelecimentos abertos neste primeiro semestre, respectivamente.

Endividamento

Acrescenta-se ainda aos efeitos conjunturais sobre o Comercio Varejista o endividamento e a inadimplência das famílias. Dados da Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (PEIC), divulgadas pela Federação do Comércio do Estado do Pará (FECOMÉRCIO-PA), identificaram aumento no endividamento das famílias paraenses de 67,80% em janeiro para 68,60% em junho. A pesquisa também aponta o aumento do percentual de famílias com contas em atrasos, o que quase dobrou em junho (28,10%), quando comparado a janeiro (14,30%). “O endividamento e o atraso, em boa parte, são ocasionados pela perda de poder aquisitivo das famílias, frente à conjuntura econômica atual, gerando uma dificuldade das famílias em pagar as dívidas, fator que tem crescido sistematicamente e atingiu 10,40% das famílias no último mês do semestre”, completa Geovana.

Segundo a diretora, o tempo médio para os pagamentos em atraso cresceu, alcançado médias superiores a 62 dias de janeiro a junho de 2015, e apresentou recuo para 59,9 dias em junho. Especialistas consideram que a partir de 90 dias o consumidor tende a não pagar a dívida, se enquadrando na classe dos inadimplentes.

O cartão de crédito foi apontado por 76,2% das famílias como sendo o principal tipo de dívida em junho de 2015, seguido pelo carnê (23,7%) e crédito pessoal (13,2%). O crédito consignado, comum entre aposentados e funcionário públicos, aparece como o quarto tipo de endividamento mais frequente nas famílias paraenses.

 



Veículo: Jornal O Liberal - PA


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