A queda na inflação dos alimentos in natura é um dos fatores que podem melhorar o cenário do varejo; ajustes nos mercados de minério de ferro e soja também contribuirão para equilíbrio
Os preços no atacado e no varejo tendem a entrar em trajetória de convergência nos próximos meses, após um período de desequilíbrio que se iniciou em meados de 2014. A retração dos preços dos alimentos in natura é um dos fatores que vão arrefecer a inflação aos consumidores.
Números recentes do Índice Geral de Preços - Mercado (IGP-M), da Fundação Getulio Vargas (FGV), ainda demonstram essa diferença. Na última divulgação do indicador, o Índice de Preços ao Produtor Amplo (IPA) apresentou, em doze meses, variação de 2,42%, enquanto o Índice de Preços ao Consumidor (IPC) acumulou alta de 8,13%. As duas taxas são referentes ao segundo decêndio de maio, que compreende o período entre os dias 21 de abril e 10 deste mês. Já no segundo decêndio de abril, o IPA veio positivo em 1,37% e o IPC em 8,23%. Em março, essas taxas foram de 0,57% e 8,32%, respectivamente.
O superintendente adjunto de inflação da FGV, Salomão Quadros, explica que a distância entre os indicadores foi provocada pela forte deflação que atingiu o IPA entre maio e agosto do ano passado. O deslocamento dos preços para patamares negativos foi puxado, principalmente, pelos produtos agrícolas, com destaque para a supersafra de soja em diversos países, como no Brasil e nos Estados Unidos, que provocou queda das cotações internacionais do produto.
"A soja é muito importante para as exportações e para a cadeia industrial do País. No entanto, ela tem um papel relativamente modesto na cesta de consumo interno. O efeito da queda de preços, portanto, chega na inflação ao consumidor final, mas ele tem uma repercussão muito pequena".
Além da soja, a queda de preços do minério de ferro também jogou para baixo a inflação ao produtor. "Só agora [nas últimas semanas], o minério de ferro começou a ter pequena recuperação. Além disso, o mercado está se ajustando e várias mineradoras reduziram os investimentos, repercutindo em expectativas de menor disponibilidade", diz.
Equilíbrio
Com os ajustes dos mercados de minério de ferro e da soja, o ciclo de deflação do IPA não irá se repetir em 2015 e os preços no atacado e no varejo tende a convergir ou, pelo menos, reduzir a sua diferença, afirma Quadros. "Ainda estamos com superoferta de soja. Mas a superprodução tem um limite e está se estabilizando", diz ele.
A queda dos preços dos alimentos in natura também deve bater na inflação ao consumidor durante este ano, melhorando os preços no varejo. No IGP-M, esses alimentos tiveram retração de 3,71% em maio, contra 0,52% em abril, na variação mensal. Já a soja em grão foi de 3,63%, em abril para -3,69% em maio, o milho em grão, de 0,71% para -6,36%, e o café de 3,91% para -2,92%. O especialista da FGV diz que a queda nos preços de alguns alimentos já está chegando no consumidor. Ele lembra que, na variação mensal do IPC, o grupo Alimentação desacelerou para uma alta de 0,49% em maio, ante 0,73% em abril.
Serviços
O economista do Conselho Federal de Economia (Cofecon), Fábio Silva, diz que a alta inflação de serviços também contribui para explicar a diferença nos indicadores do atacado e do varejo. Ele explica que os ajustes de preços no setor são mais lentos do que na inflação de bens. "No caso do empregado doméstico, por exemplo, a inflação está condicionada a reajustes salariais, que demoram mais para aparecer nos indicadores", exemplifica Silva.
Já o professor de economia da Fipecafi, Juarez Rizzieri, lembra que, diante de uma alta taxa básica de juros (Selic), a demanda do País tende a se reduzir cada vez mais, contribuindo também para um maior equilíbrio entre a inflação do atacado e do varejo.
Veículo: DCI