Alta do dólar como ingrediente da ceia

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Frutas secas e frescas chegarão mais caras para as tradicionais festas de Natal e réveillon. Valorização de importados frente a 2013 passa de 200%

 

 

 



A desvalorização do real frente ao dólar nos últimos meses terá forte interferência na preparação da ceia natalina dos brasileiros. A oscilação cambial faz com que os importadores de castanhas e frutas típicas das festas de fim de ano sejam cautelosos nos pedidos. Com a oferta reduzida, os preços dos produtos tiveram forte elevação antes mesmo de ser feita a readequação dos valores para a chegada do Papai Noel. O quilo do damasco, por exemplo, mais do que triplicou de preço em uma loja do Mercado Central.

Acostumado a fazer as encomendas de Natal entre as últimas semanas de setembro e a primeira quinzena de outubro, o proprietário da Banca São Geraldo, no Mercado Central, José Maria Ferreira Duarte, por enquanto, só fez o orçamento dos produtos natalinos. A estratégia do lojista é aguardar até o último minuto para ver se os produtos encalham nas mãos dos importadores paulistas, forçando a redução dos preços. “Vou esperar para ver se cai”, afirma José Maria, que, caso não tenha sucesso na tática, vê possibilidade de ficar sem os tradicionais itens natalinos. “Melhor não ter do que o cliente achar que a gente está abusando”, afirma. Na banca, o quilo da noz está R$ 40 – com margem quase zero, segundo o proprietário –, enquanto o damasco, que no ano passado custava R$ 15, sai por R$ 49. A alta passa de R$ 226%.

O aumento dos preços está diretamente atrelada à elevação do dólar, que obrigou a revisão de planejamento dos importadores. O diretor da Domus Importação e Exportação, Frederico Martini, afirma que em comparação com o último quadrimestre do ano passado o embarque desse tipo de produto está aproximadamente 30% menor. “Os pedidos estão abaixo do esperado por causa da situação do comércio. A alta do dólar deixou o mercado pessimista, sem saber se o consumidor vai aceitar a alta dos preços. Se isso acontecer, há o risco de o produto ficar encalhado”, afirma.

A empresa atende seis fornecedores do Mercado Central. Mas, por enquanto, nenhum dos clientes fez pedidos para renovar o estoque. Ou seja, não há tempo hábil para novas remessas. O navio demora 23 dias no trajeto da Europa até os portos brasileiros, fora o tempo para a liberação alfandegária. Neste ano, considerando só um dos clientes, Martini fechou um contêiner de 21 toneladas; no ano passado foram importados quatro vezes mais. Os demais reduziram em aproximadamente 30% as encomendas. Além das frutas, ele lembra que os pedidos de outros tipos de produtos natalinos também sofreram forte impacto. Os enfeites natalinos (copos, guardanapos, sinos, objetos de decoração etc.) também não foram encomendados.

CAUTELA A situação atípica de baixa oferta de produtos importados reduz a margem para descontos, segundo o superintendente do Empório Ananda, Eduardo Carlos de Campos. Ele diz que tanto importadores quanto varejistas estão com o pé no freio, sem arriscar muito. “É um Natal mais pé no chão”, afirma. Em vez de estocar, ele tem adotado outra estratégia. “Vendo, compro, vendo, compro”, afirma Campos sobre a movimentação de mercadorias.

O damasco é uma das frutas que teve maior oscilação de preços neste ano. A explicação extrapola a alta do dólar. A oferta reduzida é o principal fator, tanto que a Banca Santo Antônio, no Mercado Central, ficou sem o produto em estoque por 20 dias. O proprietário Rafael Igino conseguiu nova remessa, mas com o preço nas alturas. O quilo é vendido por R$ 47 – e não é a cotação para o Natal –, enquanto em dezembro do ano passado era comercializado por R$ 19,90, menos da metade. “A importação está muito difícil. Coto hoje, amanhã vou comprar o preço é outro. Peço 10 caixas, entregam só cinco”, afirma Igino, que, assim como outros concorrentes do Mercado Central, diz ser arriscado ficar sem os produtos natalinos.

Para o consumidor, a saída é pesquisar em busca dos melhores preços sem perder qualidade. A confeiteira Priscila Aduan compra semanalmente os ingredientes para seus quitutes. Nos últimos 30 dias, estima alta de 30% nas castanhas e frutas secas. A saída é ficar atenta aos preços. “Olho pelo menos quatro lojas”, diz ela, ressaltando que será obrigada a repassar a elevação do custo de produção: “Aumenta-se o preço do produto final”. Outra estratégia para reduzir o impacto é usar nozes em pedaço no recheio de tortas e deixar as frutas inteiras (e mais caras) apenas para a decoração.

Além de integrar a mesa de Natal, noz, castanha-do-Pará, damasco, amêndoa e macadamia fazem parte de dietas ricas em gorduras. A professora Margaret Melo aprecia os produtos puros e na composição de receitas culinárias. Mas assustou-se ao ver o quilo da noz a R$ 120 em um supermercado perto de onde mora. A saída: “Tem que comprar menos ou modificar a receita”, diz.



Veículo: Estado de Minas


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