Metade da expansão do PIB virá do agronegócio

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Estimativas indicam que PIB do setor deve somar R$ 1,038 trilhão e responder por 23% de toda a riqueza gerada no País

Quase a metade (47,9%) da expansão da economia deste ano virá do agronegócio, que tem como carro-chefe a soja. Com recordes seguidos de produção, o grão deve levar o País a uma posição inédita. Na safra 2014, que começa a ser plantada neste mês, o Brasil poderá ser o maior produtor e exportador mundial de soja, segundo o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos. A produção brasileira esperada de 88 milhões de toneladas deve superar a safra dos Estados Unidos, de 85,7 milhões de toneladas, que está em fase final e foi afetada pela seca.

Do crescimento de 2,4% do Produto Interno Bruto (PIB) estimado pelo mercado para este ano, segundo o Boletim Focus do Banco Central (BC) mais recente, um pouco mais de um ponto percentual virá da agroindústria, calcula o diretor de pesquisa da consultoria GO Associados, Fabio Silveira. Nas suas projeções, ele considerou o PIB do agronegócio de 2012 em R$ 989 bilhões e a estimativa de crescimento para o setor de 5% para este ano, ambos os dados da Confederação Nacional de Agricultura e Pecuária (CNA). Se as estimativas de crescimento se confirmarem, o PIB do agronegócio deve somar R$ 1,038 trilhão em 2013 e responder por 23% de toda a riqueza gerada no País.

“Essa cifra inclui os segmentos antes e depois da porteira”, ressalta Adriana Ferreira Silva, economista do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), que calcula o PIB do agronegócio para a CNA. Isso significa que a cadeia da agroindústria considera não só os produtos primários da agricultura e da pecuária, mas também toda a riqueza criada no processamento e na distribuição, além do desempenho da indústria de insumos. “O agronegócio está puxando não só a indústria de alimentos, mas também a de bens de capital. Na minha avaliação, o segmento pode neste ano tracionar a economia mais do que o varejo”, diz o economista da Associação Comercial de São Paulo Emílio Alfieri, que acompanha de perto a evolução do consumo.

Enquanto a indústria patina e o varejo desacelera, as evidências da força do agronegócio para tracionar outros setores da economia já aparecem nas vendas de insumos. “Se não houver nenhum imprevisto até dezembro, as vendas de tratores de rodas neste ano serão recordes”, afirma o diretor de vendas da Agrale, Flávio Crosa. Ele conta que 2012 já havia sido um ano bom para a agricultura e que foram vendidos no mercado 56 mil tratores de rodas, que são aqueles destinados ao agronegócio. Para este ano, a estimativa inicial era vender 54 mil máquinas. Mas até agosto foram comercializadas 44,9 mil unidades, segundo a Anfavea. A perspectiva agora é de que o ano feche com 60 mil tratores comercializados. “Não imaginávamos uma demanda tão forte assim.”

Além da capitalização dos produtores, Crosa cita a manutenção até dezembro do Programa Bndes de Sustentação do Investimento (PSI) como fator de impulso às vendas de tratores. O PSI financia máquinas com juros de 3,5% ao ano.  A história se repete no fertilizante. Em 2012, foram vendidos 29,5 milhões de toneladas. Consultorias projetam para este ano 30,5 milhões de toneladas. Até agosto, a alta foi de 5,5%. “Teremos mais um recorde”, prevê o diretor da Associação Nacional para Difusão de Adubos (Anda), David Roquetti Filho.
Agroindústria reage ao momento positivo e investe US$ 250 milhões na produção

Além de responder por fatia significativa do crescimento da economia neste ano, o bom desempenho do agronegócio provoca uma reação positiva em parte da indústria. Capitalizados por três safras consecutivas, os produtores estão aplicando a renda do campo no próprio campo. Isso atrai para o País investimentos polpudos das gigantes do setor de tratores, adubos, sementes e defensivos.

A Dow AgroSciences, por exemplo, especializada em sementes e defensivos, está investindo mais de US$ 100 milhões no País em três projetos: uma unidade de produção de sementes de milho em Luís Eduardo Magalhães, no Oeste de Bahia; um laboratório de pesquisa em Cravinhos (SP) e um centro de pesquisa de campo em Sorriso (MT), o município que mais produz soja no mundo.

“Esse é o maior investimento da companhia nos últimos cinco anos”, afirma o presidente da empresa, Ramiro de La Cruz. Ele conta que a empresa decidiu “tropicalizar” a tecnologia na produção de sementes. Por isso, instalou em Cravinhos um laboratório de biotecnologia semelhante ao que tem em Indianápolis (EUA), com profissionais locais. “O laboratório de Indianápolis continua fazendo pesquisas para outros países.” La Cruz não revela os planos, mas diz que o Brasil é de “altíssima prioridade” para futuros investimentos da empresa. “Quando vamos para o campo, vemos os investimentos dos produtores em máquinas e na capacidade de produção, o que não ocorre em muitos países”, observa o presidente.

O salto de produção no campo é explicado pelo uso intensivo de tecnologia e inovação, lembra Alfredo Miguel Neto, diretor de Assuntos Corporativos para América da Latina da John Deere, fabricante de tratores e máquinas agrícolas. Tanto é que, em pouco mais 10 anos, a produção de grãos saiu de 80 milhões de toneladas para 187,9 milhões, com aumento de 135%.

No mesmo período, a área plantada com grãos aumentou 32%. Atenta para essa oportunidade de mercado, a empresa anunciou neste mês dois investimentos que somam US$ 53 milhões. O montante de US$ 13 milhões será aplicado na ampliação do centro de distribuição de peças em Campinas (SP), que vai atender aos países da América Latina. Os US$ 40 milhões restantes serão aplicados na ampliação da fábrica de tratores de Montenegro (RS). A partir de 2015, a empresa vai fabricar no País tratores de alta potência na unidade de Montenegro. Hoje, esse trator é importado. Segundo Miguel Neto, o aumento da procura por maquinário levou a companhia a tomar essa decisão.

A Agrale, fabricante de tratores de pequeno e médio porte, já percebeu o aumento da procura por equipamentos de maior potência. Segundo o diretor, Flávio Crosa, a empresa estuda a produção de tratores maiores. “Na soja, o uso de tecnologia está igual ou maior do que no ano passado”, diz Lair Hanzen, presidente da Yara Brasil, líder na distribuição de adubos. Em agosto, ela concretizou a compra da Bunge por US$ 750 milhões, o maior investimento da empresa norueguesa. A meta é investir até US$ 100 milhões por ano no País para manter presença de mercado.



Veículo: Jornal do Comércio - RS


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