Campanha contra desperdício de alimentos fora do padrão estético ganha força

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                                   O movimento Fruta Feia tem seguidores no Brasil. Supermercados vendem produtos não tão atraentes com até 40% de desconto




Todos os anos, no mundo, o equivalente a US$ 750 bilhões é registrado em perdas e desperdício de alimentos, seja por contaminação ou simplesmente pelo fato de um percentual de frutas, legumes e verduras serem considerados “feios”, ou seja, fora dos padrões estéticos para a venda em supermercados, hortifrutis e feiras. Os dados são da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO), em relatório sobre o custo anual com essas perdas.

No Brasil, cerca de sete milhões de toneladas de frutas e aproximadamente seis milhões de toneladas de hortaliças são desperdiçados por ano. O volume seria equivalente a 30% e 35% do total produzido, respectivamente.

O alimento fora dos padrões, apesar de manter a mesma qualidade nutricional, não costuma ser visto com valor comercial pelo varejo. No entanto, a visão sobre este tipo de produto está mudando e um dos incentivos vem da repercussão internacional que o programa da cooperativa de consumo Fruta Feia, de Portugal, vem tendo desde que surgiu, no final de 2013. Hoje, a iniciativa conta com 500 consumidores associados e impede o desperdício semanal de duas toneladas de alimentos por semana. Produtos pequenos, grandes demais ou disformes e que não conseguem ser escoados para supermercados são selecionados pelo projeto e vendidos em duas opções de cestas, com custos entre € 3,5 a €7, em postos de coleta. Os compradores são famílias cadastradas, predominantemente de baixa renda.

Segundo o pesquisador da Embrapa, Antônio Gomes Soares, o Brasil ainda engatinha em projetos do porte do Fruta Feia. Mas já existem iniciativas em andamento que precisam de mais divulgação e engajamento.

“Há iniciativas semelhantes como sacolões volantes que vendem as frutas e hortaliças que estão fora de padrão de comercialização mas possuem qualidade e segurança alimentar para serem consumidas. Estes sacolões volantes vendem frutas e hortaliças para comunidades com baixo poder aquisitivo, por preços mais em conta, com a meta de reduzir perdas ou desperdícios dos produtos aptos ao consumo humano. Os bancos de alimentos também fazem este papel”, diz Soares.

Ainda de acordo com o especialista da Embrapa, a entidade vem realizando trabalhos de pesquisa com o objetivo de produzir técnicas e tecnologias voltadas para transferência aos pequenos e médios produtores rurais, diminuindo problemas de qualidade e também de estética que impeçam a comercialização no mercado.

“Além das iniciativas de escoamento da produção, o trabalho de melhora da qualidade e também da aparência dos produtos é mais um meio de geração de renda para o produtor”, continua Soares.

O controle de desperdício também está na mira das redes supermercadistas. No Brasil, o grupo Carrefour criou um programa próprio, que se assemelha à iniciativa de Portugal. O Sans Form vende frutas, legumes e verduras com até 40% de desconto para os consumidores. Estes produtos são sinalizados por meio de um mobiliário específico, instalado em lojas da rede Atacadão — bandeira de atacarejo do Carrefour — e vendem onze tipos de legumes e frutas. O projeto, até o momento, se restringe a São Paulo, nas unidades Vila Maria e Parelheiros.

“A ideia do projeto é mudar a cultura do desperdício. Todas as quintas-feiras os estandes são montados e, além deste programa, a rede doa anualmente mais de 1.160 toneladas de alimentos que são destinados a bancos de alimentos no país”, diz o diretor-presidente do Atacadão, Roberto Müssnich. A doação se estende a outras bandeiras do Grupo Carrefour, que doaram em 1.800 toneladas de alimentos em 2014, além das arrecadadas no Atacadão.

Concorrente do Carrefour, o Grupo Pão de Açúcar (GPA) também segue o mesmo caminho com a oferta de alimentos com descontos de até 40%, que são apresentados em uma gôndola sinalizada dentro dos supermercados. O objetivo, além de apresentar opções mais acessíveis ao consumidor, é evitar desperdício dentro das lojas da rede. O grupo também faz doações de alimentos para instituições cadastradas e validadas pelo Instituto GPA — braço social da varejista. No ano passado, foram doados quase três toneladas de alimentos a mais de 300 instituições.



Veículo: Jornal Brasil Econômico


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