Cisão reforça foco da Reckitt em consumo

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Na semana que vem, os acionistas da Reckitt Benckiser (RB) vão decidir em votação se porão fim à dependência da empresa de Suboxone - principal produto de sua divisão farmacêutica, voltado para tratamento de dependentes químicos.

 

 



Prevê-se que eles apoiarão a proposta do CEO Rakesh Kapoor de desmembrar o negócio, que por um bom tempo foi o impulsionador do crescimento e dos lucros do grupo.

"Sempre é muito positivo ver uma empresa se concentrar em sua atividade principal. Os resultados da divisão farmacêutica andaram muito voláteis, por isso [a medida] deverá aumentar a visibilidade dos lucros futuros", diz Hermine de Bentzmann, analista da Raymond James.

Desde que assumiu o comando, há três anos, o lema de Kapoor tem sido "saúde, higiene e casa", uma expressão abrangente destinada a unificar o emaranhado de marcas e divisões da RB, que vão da mostarda French's aos preservativos Durex, passando pelos alvejantes para roupas da linha Vanish.

Mas a área na qual Kapoor tenta ganhar sucesso e reconhecimento é a de saúde ao consumidor - de medicamentos isentos de prescrição (OTC), como o Mucinex, de combate à tosse, e as pastilhas para a garganta Strepsils.

"Estamos destinando recursos significativos aos produtos de saúde, investindo em pesquisa e desenvolvimento, marca e inovação", disse o CEO este ano. Embora a área não ostente as margens de lucro invejáveis exibidas no passado pela Suboxone, ela é a divisão de crescimento mais acelerado da RB. Suas vendas, em bases equivalentes, cresceram 11% no ano passado, enquanto as de produtos farmacêuticos [medicamentos que necessitam de receita médica como o Suboxone] caíam 8%. As margens da área, estimadas pelos analistas em 30%, também são muito mais elevadas que as de outras divisões.

Kapoor vê uma oportunidade de consolidação tanto por meio de fusões e aquisições quanto organicamente, em meio a um mercado fragmentado. As dez maiores empresas controlam apenas 24% do setor de produtos de saúde ao consumidor.

Ele gastou US$ 1,4 bilhão na compra das vitaminas da Schiff Nutrition em 2012 e um valor muito menor, não revelado, na aquisição dos lubrificantes K-Y.

Mas os sonhos de impulsionar a empresa com uma aquisição de maior porte sofreram um golpe este ano, quando a RB se retirou do leilão de compra da divisão de saúde ao consumidor da Merck com a disparada dos lances. A alemã Bayer pagou US$ 14,2 bilhões pelo negócio, inicialmente avaliado em até US$ 10 bilhões. A RB cobiçara seu antialérgico Claritin e os direitos americanos para os produtos de cuidados com os pés Dr Scholl. A RB já detém a marca Dr Scholl fora dos EUA e estava interessada em uni-la mundialmente.

"As aquisições terão um grande papel, mas os preços subiram e os retornos caíram, portanto, fortalecer-se em saúde ao consumidor deverá impactar os retornos no médio prazo", disse o analista James Targett, do banco Berenberg.

No entanto, Kapoor acredita que a RB dispõe de uma vantagem sobre os laboratórios farmacêuticos que dominam a área de saúde ao consumidor. Ele argumenta que o foco dessas empresas está nas moléculas e não nos consumidores, e em "avanços grandes, arrojados" na medicina, em vez das mudanças progressivas para marcas que, no acelerado mercado de bens de consumo, dependem de inovação. "A inovação em saúde ao consumidor significa voltar-se para as mães, não para as moléculas", como gosta de dizer.

A maioria dos analistas concorda que a RB é boa nesse tipo de tarefa. Andrew Wood, da empresa de pesquisa Bernstein Research, afirma que o foco no consumidor é o motivo pelo qual a RB fez sua divisão de produtos de saúde crescer quase o dobro do mercado nos últimos seis a oito anos.

A analista Eva Quiroga, do UBS, diz: "Para a RB, o consumidor está no centro... Considere-se o [antiácido] Gaviscon, que era originalmente [apresentado] num frasco grande. Uma inovação importante, em termos de aprimoramento, foi produzi-lo sob a forma de um pequeno sachê, que dá para levar na bolsa e tomar pelo caminho."

Mas o foco em produtos de saúde esbarra no objetivo paralelo da RB de aumentar sua exposição aos mercados emergentes. Isso porque o mercado de medicamentos sem prescrição é de expansão mais fácil em alguns países desenvolvidos, onde podem ser comercializados em supermercados.

As empresas do setor farmacêutico, além disso, estão se tornando competidoras mais potentes, após duas grandes transações de fusão e aquisição realizadas este ano.

Não apenas a Bayer comprou os ativos da Merck, como a GlaxoSmithKline e a Novartis concordaram em associar seus ativos da divisão de consumo numa joint venture que se tornará a maior do mundo no segmento.

A RB está diante do mesmo problema com que se defronta a maior parte das empresas de bens de consumo: a desaceleração do crescimento dos mercados emergentes e a demanda anêmica nos países desenvolvidos.

Kapoor pode ser obrigado a sanear ainda mais a carteira da multinacional, por meio da venda da divisão de alimentos e do negócio de produtos de limpeza, de crescimento lento.

Mas, por enquanto, o foco de Kapoor está em garantir que a divisão de produtos farmacêuticos comece vida nova dois dias antes do Natal, quando ela deverá operar com o nome Indivior, se os acionistas aprovarem o desmembramento.



Veículo: Valor Econômico


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