País quer novos mercados para carne e leite

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Congresso em Porto Alegre discutiu o cenário atual e as tendências para a avicultura, a suinocultura e os laticínios

 



O mercado russo é visto como “uma oportunidade de ouro”, mas o setor de proteína animal não esconde a necessidade de procurar novos importadores, tendo em vista a possibilidade do fim do embargo da Rússia aos Estados Unidos e a Europa. Enquanto isso, a demanda mundial por leite também está aumentando, o que impõe um desafio ao Brasil: melhorar sua produtividade. Essas e outras questões foram discutidas por consultores e representantes das cadeias produtivas durante o IV Congresso Sul Brasileiro de Avicultura, Suinocultura e Laticínios, que encerrou ontem, na Federação das Indústrias do Rio Grande do Sul (Fiergs).

De acordo com o presidente da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), Francisco Turra, a exportação brasileira de aves para a Rússia pode passar de 60 mil toneladas para até 250 mil toneladas por ano, enquanto durar o embargo dos russos aos produtos oriundos da Europa e dos Estados Unidos. “É um mercado de ouro que se abriu. Na pior das hipóteses, se os russos voltarem a importar dos norte-americanos e europeus, uma fatia dessas compras vai sobrar para o Brasil. Por isso, precisamos manter as boas condições técnicas e sanitárias”, afirma.

Para Turra, o mesmo país possui demanda para aumentar em cerca de 20 mil toneladas por mês a importação de carne suína brasileira em 2015. Entretanto, alerta que a produção nacional, nesse caso, ainda não tem condições para abastecer tamanha solicitação. Enquanto isso, a ABPA participa de negociações para que mais oito plantas brasileiras, pelo menos duas delas no Rio Grande do Sul, sejam habilitadas a exportar proteína animal para a China. “Já temos 29 habilitadas e, com a demanda chinesa, podemos incrementar 10 mil toneladas a mais por ano por planta, em média”, destaca Turra, mesmo evitando informar prazos e localização de todos os frigoríferos. A África do Sul, a Malásia e a Coreia do Sul são outras opções para o próximo ano.

O consultor Carlos Cogo ressalta que o momento é favorável aos produtores, uma vez que a queda acentuada na cotação das principais commodities mundiais baixou os custos de produção de aves e suínos. Em paralelo, há baixo estoque dessas proteínas animais no mercado, favorecendo a elevação dos preços, principalmente no caso da carne de porco. “O consumo nos próximos anos apresenta tendência de estabilização, mas em um nível muito elevado. E o Brasil possui a maior reserva de terras e proteína animal do planeta”, comemora Cogo.

Durante o evento, o engenheiro agrônomo da Embrapa, Lori Aldo Stock, projetou tendências para a produção de leite. Segundo Stock, o setor apresenta demanda em “rápido crescimento”, tendo em vista o incentivo ao consumo na China e outros mercados não tradicionais, como o africano, e a disseminação da procura por queijos e bebidas lácteas no mercado interno. Com a oferta tendo dificuldades para acompanhar a demanda, o foco do Brasil deve ser na melhoria da produtividade, hoje em apenas 1,3 mil litros por vaca ao ano.

Segundo Stock, a perspectiva é de que, cada vez mais, a produção seja concentrada em médias e grandes propriedades, ou seja, aquelas com pelo menos 30 animais. Atualmente, 135 mil produtores, cerca de 10% do total, respondem por 84% da oferta brasileira. No Rio Grande do Sul, a perspectiva é a mesma: no momento, 14 mil agricultores ofertam 67% da bebida gaúcha. “Apenas essas propriedades responderam por todo o incremento, que chega a 60%, da oferta brasileira desde 1996”, exemplifica.
Produto chinês limita cultura do alho

Um empecilho impede o crescimento do cultivo de alho no Brasil: a concorrência do mercado externo. O fato de o plantio nacional abastecer apenas um terço da demanda indica certo potencial de aumento na área cultivada. Entretanto, os custos trabalhistas mais baixos da China, maior produtor do mundo, com 700 mil hectares, dificultam a competividade. Para discutir esta questão e novas técnicas de cultivo, cerca de 500 produtores devem participar do 27º Encontro Nacional dos Produtores de Alho, hoje, na localidade de São Manoel, município de Campestre da Serra.

Atualmente, o País planta oito mil hectares, sendo cinco mil na região Centro-Oeste e três mil no Sul, totalizando 70 mil toneladas colhidas. O Rio Grande do Sul, por sua vez, é responsável por 20 mil toneladas. Enquanto isso, o consumo anual é superior as 220 mil toneladas. Atualmente, a comercialização da safra é garantida apenas por uma taxa antidumping aplicada sobre as importações, oriundas, principalmente, da China, Argentina e Espanha. O mecanismo, criado em 1996, foi renovado pela última vez em 2013 e tem mais quatro anos de duração.

De acordo com o presidente da Associação Nacional dos Produtores de Alho, Olir Schiavenin, o custo de produção dos chineses é 50% menor do que o brasileiro, hoje estimado, em média, entre R$ 3,00 e R$ 3,20. “Sem a atual taxação de 35% sobre os importados não teríamos condições de competir. Isso equilibra as condições. Por outro lado, nossos cinco mil produtores não se sentem estimulados a plantar mais por causa da incerteza futura em relação à comercialização”, ressalta. Schiavenin lembra que o Brasil chegou a colher 120 mil toneladas há 10 anos, mas foi obrigado a diminuir sua área para que o excesso de oferta não baixasse ainda mais a rentabilidade.

A propriedade de Gilmar Molon, em Ipê, na Serra Gaúcha, tem 22 hectares plantados. A colheita deve iniciar hoje e finalizar com 308 toneladas, ou seja, produtividade de 14 toneladas por hectare, acima da média de pouco mais de 10 toneladas por hectare observada na região Sul. Segundo Molon, seus custos de produção subiram 10% na comparação com a última safra, chegando aos R$ 3,57. O principal impacto veio da alta do dólar e, consequentemente, do preço dos adubos importados. “Devemos ter um produto de bom tamanho e ótima qualidade em 2014. Também acredito que em bons preços, pelo menos no início da comercialização, mas é complicado porque sempre dependeremos da renovação do imposto sobre importados, mesmo que o alho nacional tenha mais qualidade”, afirma.



Veículo: Jornal do Comércio - RS


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