GSK planeja capitalizar o sucesso com drogas anti-HIV

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Num momento em que a indústria farmacêutica aposta corrida para encontrar uma cura para o Ebola, surgiu, na semana passada, um fato que remete às inovações médicas estimuladas por situações anteriores de emergência mundial de saúde.

 



O plano anunciado pela GlaxoSmithKline (GSK) de vender participação minoritária de sua divisão de HIV na Bolsa de Londres mostrou como esse outro flagelo contemporâneo da humanidade se tornou uma das maiores histórias de sucesso do setor farmacêutico.

O provável ingresso da ViiV Healthcare no índice FTSE 100, com valor de mercado de 10 bilhões a 15 bilhões de libras esterlinas, que a poria na mesma posição de nomes famosos, como Rolls-Royce e Tesco, chama a atenção para essa transformação do HIV, de uma sentença de morte para uma doença crônica, mas controlável.

As vendas mundiais de medicamentos de combate ao HIV totalizaram US$ 20 bilhões no ano passado, aproximadamente o mesmo que o mercado de insulina. Isso reforça o ponto de vista defendido por profissionais de saúde de que o HIV se tornou uma doença parecida com o diabetes - com o fluxo semelhante de renda de toda uma vida canalizado pelos pacientes para a indústria farmacêutica.

"É uma das maiores conquistas do setor dos últimos 20 anos termos migrado dos primeiros coquetéis de medicamentos antirretrovirais, na década de 90, que mantinham as pessoas vivas mas implicavam em grandes efeitos colaterais, à situação de hoje, em que as pessoas podem tomar um comprimido por dia e ter uma expectativa de vida quase normal", diz David Redfern, presidente do conselho de administração da ViiV.

Ativistas da área de saúde dizem que esse otimismo soa vazio fora do mundo desenvolvido. Dos 35 milhões de pessoas que viviam com o HIV em 2013, menos de metade estariam recebendo medicamentos antirretrovirais.

Mas o acesso aos remédios está crescendo, sem fins lucrativos nos países mais pobres e a preços reduzidos em economias de renda média. O número de mortes anuais causadas pela Aids caiu a partir do pico de 2,3 milhões de 2005 para 1,5 milhão, em 2013. Nos Estados Unidos essa cifra diminuiu de sua alta recorde de cerca de 50 mil em 1995 para 7.683, em 2011.

A GSK esteve na vanguarda da reação médica à Aids quase desde o começo. Uma de suas empresas predecessoras, a Burroughs-Wellcome, foi a responsável pelo AZT, o primeiro medicamento de combate ao HIV aprovado pelos órgãos reguladores americanos em 1987. Em 1995, quando a Burroughs-Wellcome se fundiu com a Glaxo, outra empresa britânica com uma terapia de primeira hora para o HIV, o grupo resultante se tornou o indiscutível líder do mercado.

Ele manteve essa posição por uma década, até ser destronado pela americana Gilead Sciences. "Perdemos a geração seguinte de remédios", reconhece Redfern, que, além de seu papel na ViiV é o diretor de estratégia da GSK.

Decidir o que fazer com a divisão de HIV foi a prioridade número um de Sir Andrew Witty quando assumiu o cargo de principal executivo da GSK, em 2008. Sua solução foi unir os ativos com a Pfizer , dos Estados Unidos, que também tinha uma carteira medíocre de HIV. Essa foi a origem da ViiV Healthcare, atualmente com 80% de seu capital em poder da GSK.

A joint-venture teve dificuldades em reaver o terreno perdido para a Gilead, mas as perspectivas melhoraram com a aprovação, no ano passado, de um medicamento chamado Tivicay. Tomado em combinação com dois outros remédios, o tratamento, administrado uma vez ao dia, foi avaliado como um passo à frente em termos tanto de maior eficácia quanto de efeitos colaterais reduzidos.

Analistas preveem que as vendas anuais do Tivicay poderão alcançar US$ 2,2 bilhões, puxando a receita total da ViiV do 1,4 bilhão de libras esterlinas do ano passado para 2,5 bilhão de libras esterlinas em 2018. Isso ainda manteria a empresa atrás da Gilead, que vendeu cerca de US$ 9 bilhões em medicamentos anti-HIV no ano passado, mas pela primeira vez a ViiV está pondo sobre sua concorrente americana em dificuldades.

Isso levanta a pergunta de por que a GSK deveria almejar afrouxar seu controle sobre uma das partes do grupo de crescimento mais acelerado. Analistas veem essa iniciativa como uma forma de liberar valor para os acionistas, numa época em que a ação enfrenta problemas devido à fragilidade na divisão principal, de drogas respiratórias.

O plano foi parte de uma reestruturação mais ampla anunciada por Sir Andrew na quarta-feira passada, que incluía 1 bilhão de libras esterlinas em corte de custos. Redfern diz que uma oferta pública inicial (IPO, nas iniciais em inglês) é uma medida natural, uma vez que a ViiV já é administrada como uma empresa à parte. Analistas consideram que um desmembramento pleno é provável no futuro.

Um investimento na ViiV não seria medida isenta de riscos, num momento em que seus medicamentos mais antigos sucumbem à concorrência dos genéricos, além da resistência que o HIV acaba desenvolvendo contra todos os antirretrovirais. "Precisamos lançar continuamente novas terapias para ficar à frente do vírus", diz Redfern. A próxima grande esperança para a ViiV é um remédio de longa duração ministrado por meio de uma injeção tomada uma vez ao mês, que se mostrou promissor no estágio intermediário de testes.

No entanto, os dois maiores troféus na área de HIV continuam fora de alcance: uma vacina ou a cura total. Elevaram-se as esperanças com o assim chamado "bebê de Mississípi", que nasceu com HIV em 2010 e por um momento parecia ter se livrado do vírus, apenas para vê-lo reaparecer este ano. Mesmo assim, o caso revelou o potencial dos atuais antirretrovirais de reduzir o HIV para níveis indetectáveis.




Veículo: Valor Econômico


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