Os desafios do novo chefe da GSK

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A GlaxoSmithKline confirmou a escolha de Philip Hampton como o próximo presidente de seu conselho de administração. A indicação anuncia uma mudança da liderança do maior laboratório farmacêutico do Reino Unido, numa época em que enfrenta desafios em várias frentes.

Hampton, de 60 anos, entra no conselho de administração da GSK em janeiro, e assume o comando posteriormente em 2015, assim que for encontrado o sucessor para o seu atual cargo, de presidente do conselho de administração do Royal Bank of Scotland (RBS).

A GSK disse que a busca pelo candidato certo para substituir Christopher Gent, que preside o conselho da empresa há quase uma década, demorou dois anos. Mas o processo se tornou cada vez mais imperativo desde que um escândalo de propina na China e a queda das vendas turvaram o desempenho da empresa farmacêutica nos últimos meses. Com a admissão de Hampton, a GSK conta com um dos mais experientes homens de negócios do país, com passagem pelo supermercado J Sainsbury, a empresa de telecomunicações BT e o banco Lloyds TSB. O que o espera será outra tarefa difícil, com cinco grandes desafios ocupando sua agenda.

China: A GSK recebeu na semana passada uma multa de 300 milhões de libras esterlinas imposta pelas autoridades chinesas por subornar médicos a fim de impulsionar as vendas - a maior sanção pecuniária aplicada até o momento a uma empresa estrangeira na China. A decisão pôs fim a 15 meses de investigações altamente prejudiciais à reputação da GSK e às suas vendas em um dos mercados maiores e de crescimento mais acelerado de produtos farmacêuticos do mundo. Com a China respondendo por apenas 2% da receita, o impacto imediato do escândalo sobre o grupo como um todo é limitado. Após a multa da semana passada, a empresa divulgou um pedido público de desculpas dirigido à população chinesa e prometeu se tornar "um modelo para a reforma do setor de saúde da China". O gesto marca o início do que promete ser um longo processo de reconstrução, durante o qual a GSK se concentrará mais em restabelecer a confiança do que em maximizar os lucros.

Ética: A multa da semana passada na China não deverá marcar o fim das consequências judiciais do episódio. O Departamento de Justiça dos Estados Unidos e o Departamento de Fraudes Graves do Reino Unido estão investigando a GSK, no âmbito de suas prerrogativas para punir empresas por corrupção no exterior. Outras acusações, veiculadas por denunciantes, de prática de delitos de menor escala na Polônia e no Oriente Médio levantaram questões sobre se o alcance dos problemas éticos da empresa extrapola a China. A GSK reitera que esses são casos isolados e argumenta, com razão, que ela foi além do que a maioria das concorrentes na reforma de suas práticas de vendas. Mas, apenas dois anos após a multa recorde de US$ 3 bilhões do Departamento de Justiça dos EUA por abusos na área de comercialização, outra grande multa nos EUA poderia parecer mais do que simples azar.

Medicamentos respiratórios: Por boa pare dos últimos doze meses, os investidores pareceram dispostos a fazer vista grossa para o problema na China. Mas, com o surgimento de fragilidades na divisão de medicamentos respiratórios, fundamental para a GSK, a City de Londres começou a lançar um olhar mais crítico sobre a direção da empresa. As vendas do Advair, o já antigo medicamento de combate à asma que responde por 20% da receita da empresa, caíram 14% no primeiro semestre do ano, em meio à concorrência da parte de remédios de menor preço. Isso levou a uma advertência de lucros divulgada em julho, que contribuiu para a queda de 10% do valor das apões da GSK nos últimos doze meses, comparativamente à alta de 14% registrada pelo setor.

Reestruturação: Andrew Witty, o principal executivo, esperava que este ano se definisse a medida mais arrojada adotada para remodelar a GSK, desde que assumiu como principal executivo, em 2008. Uma permuta US$ 20 bilhões em ativos com a Novartis em abril fez com que a GSK trocasse sua divisão de oncologia de baixa lucratividade pela divisão de vacinas do grupo suíço, enquanto as empresas associavam seus ativos de saúde do consumidor numa "joint-venture". O negócio foi festejado por sua criatividade e precisão, em contraste com as fusões e aquisições tradicionais que voltaram a ser moda no setor. Mas alguns críticos lançaram farpas contra uma reformulação que prevê a retirada da GSK de tratamentos de combate ao câncer, ao mesmo tempo em que duplica a aposta em cremes dentais e contra herpes.

Liderança: Até a irrupção do escândalo da China parecia haver poucas ameaças às perspectivas de Andrew de um longo mandato como principal executivo. Estimado na empresa, respeitado na City e bem-relacionado no governo, sua posição era incontestada. Ao presidir uma longa ascensão do valor das ações da GSK até os recentes reveses, Andrew, de 50 anos, tem cacife suficiente junto aos investidores para evitar uma rebelião imediata. O conselho de administração, por seu lado, parece ter concluído que, como defensor da reforma ética no setor, ele é a melhor pessoa para desfazer a confusão instaurada na China. No entanto, seu futuro é alvo de discussão na City, e novos episódios de deterioração no nível de atividade ou de grandes multas judiciais farão com que as pressões se intensifiquem. Agora que um novo presidente do conselho foi selecionado, o foco é o planejamento da sucessão, para o momento em que Andrew deixar a empresa.



Veículo: Valor Econômico


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