Multinacionais abrem caminho e marcas locais avançam na China

Leia em 3min 50s

Desde pastas de dente e sorvetes até fraldas descartáveis, a vida moderna chinesa foi transformada pelas importações. Muitos desses produtos outrora estrangeiros, agora exibem marcas chinesas.


Mais e mais chineses escovam os dentes com a pasta Yunnan Baiyao, comem sorvetes Yili e compram fraldas feitas pela Hengan para seus bebês. As multinacionais ainda têm presença forte, algumas vezes dominante, nesses mercados, mas as marcas chinesas vêm explorando o conhecimento local para ocupar seu espaço.

As fraldas descartáveis são um bom exemplo: muitas avós chinesas não as usaram para criar a atual geração, mas as mães urbanas de hoje dependem delas.

O mercado na China é altamente concentrado, com dez marcas obtendo 85% das vendas. Apenas uma marca local tem participação significativa, a Hengan, como 9% do mercado, em comparação com a Kimberly-Clark, dos Estados Unidos, que tem 10%, e a Procter & Gamble (P&G), com 29%. A rápida urbanização e o forte aumento na renda na China vêm elevando a demanda por produtos como as fraldas. A empresa de pesquisas Euromonitor prevê que o mercado de fraldas na China, maior do mundo, vai triplicar de tamanho entre 2010 e 2017, de 20 bilhões de yuans (US$ 3,3 bilhões) para 57 bilhões de yuans.

Esse crescimento vem atraindo novos nomes, muitos deles locais. "Estima-se que haverá mais de cem marcas estrangeiras e domésticas que vão entrar na China só em 2014", diz Liu Yang, executivo-chefe da Xiaolu Dingding Diapers, uma marca chinesa.

O aumento dos custos dos materiais e da mão de obra, a mudança nos gostos do consumidor e compradores cada vez mais exigentes tornaram as condições do mercado duras, segundo analistas do setor de varejo.

A Hengan alertou em seu balanço mais recente que a "perspectiva de curto prazo continua desafiadora, já que muitos participantes entraram neste mercado".

A empresa destaca que a qualidade de suas fraldas é equivalente à das marcas estrangeiras - P&G, Kimberly-Clark e a marca japonesa Unicharm, que juntas têm mais da metade do mercado -, mas muitos consumidores chineses discordam.

"Uma maioria das mães chinesas acredita que os produtos estrangeiros são melhores do que os domésticos; portanto, é necessário educar os consumidores para que mudem de ideia", de acordo com a Hengan, que projeta vender 2,8 bilhões a 3 bilhões de yuans em fraldas de sua marca Anerle neste ano.

Persuadir as mães chinesas a usar fraldas descartáveis foi um processo lento, de acordo com Xu Ruyi, chefe de análises na China da Mintel. "As fraldas foram introduzidas na China pela P&G durante os anos 90 e levou um longo tempo para os consumidores adotarem os produtos."

Um grande avanço foi a campanha "sono dourado", em 2007, das Pampers, da P&G, voltada a convencer as mães de que usar fraldas pode ajudar os bebês a dormir melhor, "o que significa que podem crescer mais rápido e ter melhor desenvolvimento do cérebro", conta Xu.

A China, no entanto, não é um mercado cativo das multinacionais. "A competição é intensa: mesmo para os grandes nomes, se eles não acompanham a disputa, acabam perdendo participação para os outros", diz Xu. "Hoje, se oferece uma gama muito maior de opções de produtos para os consumidores em comparação ao que era há dez anos".

Fraldas de transição para quando o bebê deixa de usar o produto, fraldas para garotos e para garotas e fraldas para adultos são relativamente novas no mercado - projeta-se alto crescimento para a categoria de adultos na China, maior mercado de idosos do mundo.

As marcas domésticas vêm se dedicando mais "a pesquisa e desenvolvimento e atualizando seus equipamentos de produção, porque quanto mais nova a linha de produção, melhor a qualidade das fraldas", diz Yan Fei, do Qinbei Research Center, de Pequim.

Fraldas "inteligentes", que avaliam a saúde do bebê pela sua urina, e fraldas com repelentes de mosquitos estão em desenvolvimento por empresas chinesas.

Análises da Mintel mostram que a marcas famosas podem ter menos poder de influência na China do que em outros países. No Reino Unido, segundo a Mintel, "45% dos pais escolhem produtos que já tenham usado antes e o preço baixo está entre os três principais fatores de influência".

Na China, no entanto, a qualidade é quem manda: a ausência de substâncias prejudiciais, qualidade, adaptabilidade a peles sensíveis e absorvência são mais importantes para os consumidores chineses", diz Xu.

O índice de natalidade da China pode ser baixo, mas os gastos em filhos únicos são prioridade e as mães, às vezes, usam até 20 fraldas por dia para evitar assaduras, segundo Yan.



Veículo: Valor Econômico


Veja também

Celular, geladeira, carro e até beleza sofrem cortes

Itens típicos de consumo "popular" ilustram o enfraquecimento da classe C. A nova realidade mostra queda de 15% ...

Veja mais
Mercado em expansão para café em cápsula

Segmento, que responde por 0,6% do consumo do produto no país, deve crescer entre 20% e 30% em dez anos O consum...

Veja mais
Vigor Alimentos passa a deter 100% da operação Danúbio no país

A Vigor Alimentos S/A, controladora da Itambé, anunciou ontem a aquisição de 100% da Dan Vigor - jo...

Veja mais
Intenção de consumo das famílias sobe em setembro

A Intenção de Consumo das Famílias (ICF) subiu 0,9% em setembro ante agosto, para 121,9 pontos, inf...

Veja mais
Produção de leite cresce 8,2% no país no segundo trimestre

A produção de leite no país cresceu 8,2% no segundo trimestre deste ano, na comparaçã...

Veja mais
Vendas de têxteis baixas em julho surpreendem 70% dos empresários, diz Abit

No mês de julho, as vendas ficaram abaixo do esperado para 70% dos empresários da indústria tê...

Veja mais
Comércio infantil: Sem choro nas vendas para as crianças

Ao contrário das quedas registradas em outros segmentos do varejo e da indústria, negócios voltados...

Veja mais
Diretor analisa mudanças do varejo

As marcas Dazz, Maxprint e Gothan anunciam o seu novo diretor comercial, Fernando Perfeito. O executivo tem expertise ta...

Veja mais
Bombril faz captação de R$ 66 milhões

A Bombril captou R$ 66 milhões em sua primeira emissão de debêntures conversíveis em aç...

Veja mais