Volta do consumidor fortalece empresas dos EUA

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Por Theo Francis | The Wall Street Journal

Muitas grandes empresas americanas estão começando a ver algo que há muito esperavam: melhores vendas.

Por boa parte dos últimos dois anos, a debilidade das vendas forçou as empresas a impulsionar seus lucros por meio de cortes de custos, pressão sobre os fornecedores e recompra de ações. Mas o resultado do segundo trimestre das empresas que compõem o índice S&P 500 mostra o retorno do crescimento da receita por meio da forma básica.

De modo geral, a receita das 500 maiores empresas dos Estados Unidos em valor de mercado caminha para uma alta de 4,3% no segundo trimestre deste ano em relação ao mesmo período de 2013 considerando os resultados divulgados por cerca de 75% dessas companhias e as projeções dos analistas para as demais.

Esse crescimento, se confirmado, será o maior desde o primeiro trimestre de 2012, de acordo com dados da Thomson Reuters. Estima-se que os lucros aumentem 7,7% no período, o maior avanço desde o quarto trimestre do ano passado.

O próximo ano provavelmente será "outro muito, muito bom", diz Christopher Nassetta, diretor-presidente da rede de hotéis Hilton Worldwide Holdings Inc. A empresa registrou alta de 12% na receita e de 35% no lucro.

Outras empresas ainda soam cautelosas. "O mundo macro lá fora tem estado volátil e fraco em alguns casos por algum tempo", disse o diretor-presidente da Colgate-Palmolive Co., Ian Cook, após divulgar o resultado da fabricante de produtos de consumo, cujo lucro cresceu 11%, mas as vendas avançaram apenas 0,1%.

A lentidão dos mercados emergentes provocou a desaceleração nas compras de produtos essênciais como pasta de dente e sabão. A Church & Dwight Co., fabricante de produtos de higiene e limpeza, sinalizou que muitos americanos estão com menos renda disponível para as compras. "Eles estão tendo que tomar decisões difíceis", disse o diretor-presidente Jim Craigie. O lucro e a receita da empresa cresceram menos de 3%.

Até agora, porém, a aceleração verificada no crescimento da receita é consistente com os dados do governo que mostram que o produto interno bruto dos EUA cresceu a uma taxa anual de 4% no segundo trimestre - uma grande melhora em relação à queda de 2,1% registrada no primeiro trimestre. As companhias também ampliaram seus estoques, um sinal de que esperam vendas maiores.

A contratação foi forte nos últimos seis meses e a atividade industrial dos EUA acelerou em julho, alcançando o maior nível em três anos, segundo o Instituto de Gestão da Oferta (ISM, na singla em inglês).

Outro teste da resiliência da receita teve início ontem, quando as empresas de varejo começarem a divulgar seus resultados. A Michael Kors Holdings Ltd., por exemplo, anunciou aumento de 50% no lucro e de 24% na receita das lojas abertas há pelo menos um ano. A receita total cresceu 43%. O desempenho do setor indicará se os consumidores médios já estão suficientemente confortáveis para esticar um pouco o orçamento e comprar itens como bolsas e roupas de valor mais elevado.

Os resultados das empresas divulgados até agora foram de modo geral positivos. Cerca de 65% das empresas do índice S&P 500 que já apresentaram seus dados superaram as estimativas de vendas, o maior percentual desde meados de 2011, de acordo com Eric Slover, estrategista de ações do Barclays nos EUA.

Os avanços nas receitas foram amplos. Entre as empresas que apresentaram os maiores aumentos estão as do setor de saúde, 12%, e de tecnologia, que devem registrar alta em torno de 6,5%, segundo dados da Thomson Reuters. O aumento da receita nas empresas das áreas de telecomunicações, materiais básicos e bens de consumo básicos deve ficar em 3%, enquanto nas de bens de consumo não essenciais deve ser de 5%. Já nas áreas financeira e de serviços públicos a alta esperada é bem menor, de 0,7% e 1,6%, respectivamente.

A Garmin, fabricante de equipamentos de navegação (GPS), divulgou aumento de 12% na receita, o maior salto desde o primeiro trimestre de 2011, segundo dados da S&P Capital IQ.

A receita da rede de cafetarias Starbucks Corp. subiu 6% nas lojas existentes há pelo menos um ano, o que o diretor-presidente da empresa, Howard Schultz, considerou "um feito impressionante em uma base de mais de 6.800 lojas" e num cenário ainda desafiador da economia americana. A empresa informou que a receita total avançou 11%, enquanto o lucro aumentou 23%.

O diretor-presidente da General Electric Co., Jeff Immelt, estava otimista, citando o nível recorde de pedidos pendentes. Segundo ele, os pedidos da companhia "nos dão confiança na segunda metade de 2015". A empresa registrou aumento de 13% no lucro e de 3% na sua receita.

Slover, analista do Barclays, diz que o desempenho geral das 500 empresas com maior valor de mercado nos EUA foi de "uma qualidade muito melhor" em relação ao que era esperado.

Os analistas estimam que a receita cresça 4,3% novamente no segundo e no terceiro trimestres, de acordo com a Thomson Reuters. Os lucros devem apresentar um avanço ainda maior, já que algumas empresas estão mantendo suas estratégias para ampliar os ganhos, como reduzir os gastos de capital até que a economia ganhe mais impulso.(Colaboraram Serena Ng e Anna Wilde Mathews.)


Veículo: Valor Econômico


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