O comércio junto é mais forte, diz presidente da Fecomércio

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Carlos Andrade, empresário e presidente eleito da Federação do Comércio do Estado da Bahia

Farmacêutico por formação e um negociador por opção. O empresário Carlos Andrade foi candidato único na eleição da Fecomércio, após quatro anos de intensa disputa judicial na entidade. Agora, com "todos juntos" internamente, ela pretende ser uma das vozes do empresariado na luta por uma carga tributária mais racional.

Sai um Carlos (Amaral) para a entrada de outro. Além do sobrenome do presidente, o que mais vai mudar com a nova gestão da Fecomércio?

Só em ter aberto a federação para fazer um planejamento estratégico até 2018, o presidente Amaral já deu um grande passo. Antes de mais nada, eu preciso agradecer a ele por ter o espírito de fazer a transição na paz. Você sabe que o mundo está passando por mudanças.

Isso está se tornando raro nas entidades representativas. A própria Fecomércio enfrentou um período de turbulências...

Durante os últimos quatro anos. Mas, ainda assim, Amaral plantou muito. Temos uma boa estrutura, até do ponto de vista financeiro. Ele é um cara muito seguro para o gasto, sempre soube usar bem o dinheiro do sistema. Agora, eu penso em usar esse dinheiro para investir em treinamento, qualificação e em obras. Nós temos praticamente entrando em licitação cinco obras. Começam este ano obras do Sesc e do Senac em Jacobina, Alagoinhas, Feira de Santana, Porto Seguro e Ilhéus.

Qual será o investimento?

Só nessas que citei, serão mais de R$ 100 milhões. Queremos começar agora, já estamos licitando, mas a burocracia é muito grande. Além das auditorias internas, somos auditados pela CGU (Controladoria Geral da União). É bom sermos fiscalizados, mas existe uma morosidade maior. A burocratização por que o país passa nos traz dificuldades.

O senhor tem falado muito a respeito da preparação da mão de obra. Este é o grande desafio do setor de comércio e serviços?
Eu acho que é nisso que temos que focar para desenvolver o comércio, serviços e turismo. Nós já temos esse trabalho. Com o Pronatec Menor Aprendiz vamos dar muita ênfase a este aspecto.

Qual é a meta de sua gestão em relação a isso?

O Fecomércio treinou, em 2013, 110 mil alunos. Eu acho que se a gente mantiver essa meta, com mais 5% a 10%, será muito bom, até porque neste ano não dá para prometer muita coisa. Com Copa, eleição, nós estamos pensando em trabalhar muito para estruturar as nossas bases. Vamos acelerar em 2015.

Os últimos quatro anos foram marcados por uma intensa disputa entre o grupo do presidente Amaral, do qual o senhor faz parte, e o do presidente do Sindilojas, Paulo Motta. Como será a relação do senhor com o grupo do Paulo?

Rapaz, eu vou continuar conduzindo como eu conduzi. Depois de quatro anos de brigas, após alguns almoços e reuniões com Paulo, que é uma pessoa que está muito tempo no sistema, é até mais experiente que eu... Meu negócio sempre foi a Estrela Galdino e A Fórmula. Eu vinha aqui só em reuniões de diretoria. Eu comecei a frequentar mais a federação há mais ou menos dois anos, quando eu passei a ser o 1º-vice. Coincidiu com o período em que eu vendi a Estrela Galdino e passei a ter mais tempo para me dedicar à Fecomércio. Vim ficar junto com o presidente e aconteceram as transformações. Quando o presidente reuniu os 14 ou 15 sindicatos que estavam com a gente, eu tive 12 votos. A partir dali eu entendi que havia um anseio por mudanças e uma vontade de que eu assumisse. Obviamente, Paulo não queria isso. Eu comecei a trabalhar. Primeiro com aqueles que me apoiaram no início, eu sentei e fiz um projeto, depois fui conversar e conseguir mais apoios, com o pessoal que estava ao lado de Paulo. Fizemos um grupo de trabalho e fomos a campo. Veio um, outro, outro, e daqui a pouco já tinha 20, comigo 21. Depois eu chamei Paulo e mostrei a ele que estava sozinho. No final, eu disse 'vamos todo mundo, vamos ficar juntos'. O comércio junto é mais forte. No final, aos 45 do segundo tempo, ele decidiu votar em mim.

No final das contas, quantos votos o senhor teve?

Tive 26 votos. Dois não puderam votar porque estavam irregulares, e uma pessoa do interior não pôde votar. Tive 100% dos votos válidos, inclusive o de Paulo, que para mim foi de grande satisfação, porque ele podia ter anulado. Eu sempre transitei fácil e graças a Deus as coisas correram bem.

O senhor espera trabalhar sem a oposição que aconteceu nos últimos anos?

Sim, com certeza, acredito que estaremos todos juntos. Eu não quero somar esforços, quero multiplicar. Eu quero ajudar a transformar os sindicatos que quiserem ser transformados. A entidade é maior do que nós. Existe uma tradição no sistema Fecomércio do cara entrar aqui e só sair morto. Eu acho inclusive que este será um grande mérito do nosso presidente Amaral. Depois de 40, 50 anos, teremos um presidente que vai passar o cargo para o sucessor vivo. Isso é muito importante. E eu já chamei o jurídico para avisar que vamos modificar o estatuto.

O estatuto hoje ainda permite reeleições ilimitadas?

Sim, o cara pode entrar e ser reeleito indefinidamente, mas eu quero colocar apenas a eleição e uma reeleição.

Não tem risco de a mosca-azul pegar o senhor?

Não vai ter, sou vacinado.

Nos últimos anos, tivemos uma série de aquisições de redes na Bahia por grandes grupos. Como o senhor avalia isso?

Olha, o mundo caminha para isso. Eu conheço o mercado farmacêutico porque vivo isso desde os 15 anos de idade em Amargosa, minha terra natal. Sou muito grato por tudo o que aprendi lá, desde a minha professora primária. O mercado é brasileiro. Esse país está globalizado. No setor de farmácias, por exemplo, nós temos de 15 a 20 laboratórios com 70% do mercado. Esses caras entram na economia de escala. Os genéricos, por exemplo, você tem cinco laboratórios com 80% do mercado. Quase 50% do faturamento das farmácias está concentrado em 35 redes. Isso em um universo de 50 mil lojas. E agora, estão se juntando. Eu acho que é uma tendência. Nos Estados Unidos tem redes com cinco mil lojas.

Existe uma discussão entre a Confederação Nacional do Comércio (CNC) e a Confederação Nacional do Turismo (CNTur) pelas contribuições sindicais do turismo. Como essa questão será tratada na Fecomércio?

Olha, eu acho que isso é briga dos caras lá de cima. É com eles. Eu faço meu serviço aqui. Meu objetivo é servir bem à Bahia. Agora, isso tudo é fundamentalmente as pessoas querendo buscar espaço. Eu acho que a CNC já tem o espaço dela há muito tempo, aí vêm as divergências políticas lá em cima que criam outra confederação, procurando briga. O meu espírito é conciliador. Não quero somar, quero multiplicar esforços. Esse negócio de briga lá em Brasília, no Rio, sendo bem objetivo, é poder. Eles querem o dinheiro, querem a arrecadação do Sesc e do Senac.

O senhor acredita que o turismo está bem representado?

Eu acho que podia ser mais bem representado. No geral, é muito fraco. O governo do estado dá pouca atenção, prefeituras dão pouca atenção, o governo federal, principalmente. Faltam políticas de turismo no Brasil. Nós criamos a câmara (Empresarial de Turismo), o que tem de gente que já formamos no Senac não dá para contar. Agora para a Copa, a quantidade de baianas de acarajé, de motoristas de táxi que preparamos, para pelo menos cumprimentar um gringo, falar inglês, é impressionante. Eu fui hoje (segunda-feira) visitar uma unidade do Senac e tinha 50 alunos treinando vocabulário. Você precisava ver eles conversando. Eu fiquei muito feliz.

O senhor acredita que o trabalho realizado atende à demanda da atividade?

Já existe um trabalho voltado para o turismo. Esse negócio da CNTur é política. Eu não me meto nisso. Nós aqui queremos é fazer o nosso trabalho. O que pudermos chegar junto, talvez até ajudando o secretário do Turismo (Pedro Galvão), nós vamos fazer.

O senhor pretende dar voz às queixas do empresariado quanto à carga tributária no país e à burocracia, que chegou a citar no início da entrevista?

Olha, rapaz, eu estou conversando com o Carlos Gilberto e o João Martins, que são respectivamente os presidentes da Fieb (Federação das Indústrias do Estado da Bahia) e da Faeb (Federação da Agricultura do Estado da Bahia). Nós vamos trabalhar juntos. Estamos preparando um projeto onde cada um vai contratar um economista para mergulhar os três juntos para preparar um plano de governo. A gente vai dar sugestões, e uma das coisas que eu penso em combater forte é essa questão da carga tributária. Vou pleitear para que a gente bata forte nisso juntos. Isso é um escândalo. Eu acho que o empresário paga muito, o empregado ganha pouco, o governo fica com muito dinheiro e a gente não enxerga o que acontece com todo esse dinheiro. Educação, saúde e segurança, que são três coisas básicas que eu preciso, você precisa e o meu funcionário precisa, o governo não dá. Nenhum dos três. Eu acho que só teria uma saída. Precisamos de uma reforma em que fosse possível colocar mais dinheiro nas mãos do empregado. O governo federal precisa ficar com uma fatia menor do bolo, estadual também e é preciso passar mais dinheiro para o município. É no município em que acontecem as coisas. Agora, para que a receita fica toda na mão de Dilma (Rousseff, presidente da República)? Ou de Fernando Henrique (ex-presidente), ou de Collor, Sarney etc.? Para fazer política?

Qual seria o caminho?

Olha o problema não é só deles. O Congresso Nacional é responsável por isso tudo, as câmaras de vereadores da vida são responsáveis. Disso você está cansado de saber. Eu acho que se o empresário tivesse uma condição na tributação para pagar mais ao empregado e o cidadão tivesse mais dinheiro na mão para resolver os seus problemas, as coisas melhorariam. É preciso facilitar a vida do microempresário. Se isso acontecer, o dinheiro roda e o país cresce. Quando a gente vê os escândalos de Petrobras, de mensalão, disso e daquilo, é de entristecer. Qualquer um que leia um pouco percebe que tem coisas erradas. Agora, o brasileiro precisa ler mais. Lê pouco. Eu aprendi a minha vida inteira que o cara que lê sabe mais e não fica satisfeito com pão, circo, futebol e Copa do Mundo. Eu fui para a posse do ministro Dias Toffoli, no TSE (Tribunal Superior Eleitoral). Aquilo tudo lá é uma suntuosidade. No país que nós vivemos, aquilo tudo que a gente encontra na capital federal é luxo demais para um povo que assiste ao jornal e vê gente morrendo em filas de hospitais. É gente morrendo no corredor. Eu vivo a saúde e digo a você, o cara que vai no corredor do (Hospital) Roberto Santos chora. E não quero ser político, não. Já me ofereceram e nunca quis. Eu quero fazer quatro anos de boa gestão aqui.




Veículo: A Tarde - BA


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