Farmacêutica: Cresce participação de fabricante nacional

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Com crescimento de 19,3% para um faturamento de R$ 32,7 bilhões no ano passado, os laboratórios nacionais continuam aumentando sua participação nas vendas da indústria farmacêutica do país. Abocanhando a maior fatia de um mercado que já foi dominado pelas multinacionais, as empresas brasileiras têm ganhado espaço no fornecimento ao governo, o que impulsiona sua presença nos segmentos de genéricos e similares. No entanto, ainda falta muito para as nacionais alcançarem as estrangeiras nos medicamentos de referência, os inovadores.

Segundo pesquisa da Associação dos Laboratórios Farmacêuticos Nacionais (Alanac), as empresas brasileiras responderam por 56,93% dos R$ 57,6 bilhões em medicamentos vendidos no ano passado. Em 2009, as vendas das brasileiras ainda eram minorias: a participação do setor estava no patamar dos 45%. Em unidades, os resultados são ainda mais fortes: as nacionais já representaram 65,81%, dos 2,8 bilhões de medicamentos comercializados no país em 2013.

"A indústria farmacêutica está em um bom momento para buscar mais desenvolvimento, não somente no mercado nacional, mas também para uma internacionalização", afirma Henrique Tada, presidente da Alanac. O bom momento tem se refletido no crescimento mais acelerado das brasileiras. No ano passado, enquanto as vendas dos laboratórios nacionais cresceram 15% em unidades, as dos estrangeiros avançaram 8%.

Os resultados têm sido impulsionados principalmente pela demanda do governo. Segundo Tada, as nacionais estão elevando sua presença nos programas de concorrência pública. Bons exemplos foram os dois pregões de licitação para o fornecimento de medicamentos para atender o Programa Farmácia Popular do Brasil que ocorreram ao longo do ano passado. Dentro das três classes terapêuticas (hipertensão, diabetes e asma) selecionadas pelo governo, foram licitados 91 produtos no total, sendo que 77 eram de laboratórios nacionais.

As PDPs (Produto de Desenvolvimento Produtivo) - parcerias que envolvem a transferência de tecnologia de produção de medicamentos de empresas estrangeiras e nacionais para laboratórios públicos - também têm trazido estímulo ao desenvolvimento da indústria nacional. Para o executivo, o conhecimento do mercado e os ganhos de escala, que permitem preços mais competitivos, também são fatores essenciais para o ganho de mercado das brasileiras. "A indústria nacional é ágil na tomada de decisões e entende as nuances do mercado brasileiro", afirma Tada.

O levantamento mostra ainda que o ponto forte da indústria brasileira continua sendo as cópias: as empresas utilizam princípios ativos dos medicamentos que já tiveram o período de proteção da patente encerrado para lançarem seus produtos. Quando se analisa o mercado por categoria de medicamentos, os laboratórios nacionais representam 66% das vendas de genéricos no país, 65% das vendas de similares, mas apenas 14% das vendas de produtos de referência.

A indústria nacional ainda não é forte na inovação radical, aquela que desenvolve a molécula, mas está crescendo na inovação incremental, ou seja, na reformulação do medicamento já existente, com ganho de qualidade, e na criação de novas aplicações para estes produtos. De acordo com o presidente da Alanac, no entanto, há uma carência de normas que regulamentem especificamente a inovação incremental no país. Deste modo, para realizar este tipo de inovação, as companhias têm de seguir as mesmas regras da inovação radical, que envolvem custos maiores. "Regras específicas trariam mais incentivo às empresas", diz Tada.

Por não terem força nos medicamentos inovadores, um dos grandes desafios da indústria nacional é a concorrência. Em um mercado de relativa baixa barreira de entrada, os grandes descontos no varejo acabam sendo um instrumento para ganhar espaço. Assim, apesar de a indústria nacional estar elevando sua participação nas vendas do mercado brasileiro ano após ano, a pesquisa mostra que este aumento tem sido cada vez menor. "São muitas empresas no mercado brasileiro, em uma competição agressiva", afirma Eliane Kihara, sócia da consultoria PWC.

Para driblar as baixas margens, as brasileiras têm cada vez mais investido em medicamentos para doenças de alta complexidade, com maior valor agregado. A pesquisa da Alanac mostra três moléculas nas quais as empresas nacionais já têm maior participação de mercado do que as multinacionais. Entre o ácido ibandrônico, para osteoporose; a alfaepoetina, para o tratamento de anemia; e a soma da drospirenona com etinilestradiol, que formam contraceptivos, o grande destaque fica para o último. Em doze meses até fevereiro, enquanto as empresas nacionais venderam R$ 268 milhões nos anticoncepcionais, as vendas do equivalente medicamento referência da Bayer, o Yasmin, somaram R$ 101 milhões. A molécula para tratar anemia, por sua vez, lidera o ranking dos medicamentos mais lucrativos para os laboratórios nacionais, com preço médio por dose de R$ 122,9.

A pesquisa foi realizada entre fevereiro e início de abril, com base nos dados da IMS Health, e envolveu 220 companhias presentes no mercado brasileiro, sendo 138 nacionais e 82 multinacionais.


Múltis lideram no segmento de inovação

As vendas dos laboratórios multinacionais cresceram 13%, para R$ 25 bilhões no ano passado. Em unidades, apresentaram alta de 8%, segundo o levantamento da Associação dos Laboratórios Farmacêuticos Nacionais (Alanac). Apesar dos números indicarem avanço menor das estrangeiras quando compradas às empresas nacionais, continuam revelando resultados fortes do setor.

"O mercado brasileiro seguirá crescendo acima da média mundial. Como consequência, haverá oportunidades de crescimento para todos os seus segmentos", diz Antônio Britto, presidente da Associação da Indústria Farmacêutica de Pesquisa (Interfarma).

Para enfrentar a concorrência, as multinacionais têm lançado mão de estratégias de expansão territorial no país. Segundo Eliane Kihara, sócia da PWC, as farmacêuticas estrangeiras estão tentando aprimorar suas redes de distribuição, e vão em busca de uma ampliação da presença geográfica de seus produtos, para regiões menos exploradas, como nordeste e norte. "Ainda há espaço para crescer, mas a grande questão é quem serão as vencedoras e quem serão as perdedoras", afirma. Segundo ela, com a forte competição, talvez não exista espaço para todas as empresas do mesmo modo como está desenhado hoje o mercado.



Veículo: Valor Econômico


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