Preço de sacolão dispara com estiagem

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Seca prolongada faz consumidor conviver com alta expressiva nos alimentos in natura e já impacta os índices inflacionários no país. Batata subiu mais de 45% de janeiro a março

A estiagem prolongada jogou o preço dos alimentos para o alto. Em sacolões de Belo Horizonte, o quilo de alguns produtos subiu bem mais do que a inflação. Nos últimos 12 meses encerrados em fevereiro, enquanto o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), medido pelo IBGE, oscilou 5,68%, o valor da batata disparou 45,15%, de R$ 2,68 para R$ 3,89, conforme pesquisa do site Mercado Mineiro. Possivelmente, a falta de chuva deve pressionar ainda mais o IPCA de março, que será conhecido no início de abril, como ocorreu com dois indicadores divulgados ontem pela Fundação Getulio Vargas (FGV), o Índice Geral de Preços 10 (IGP-10) e o Índice de Preços ao Consumidor – Semanal (IPC-S).

“A estiagem está afetando várias regiões produtoras no Brasil. Provavelmente, devemos sentir esse impacto no IPCA de março, como demonstrou os indicadores da FGV”, avaliou o economista-chefe da Concórdia, Flávio Combat. O IGP-10, que leva em conta os preços entre os dias 11 do mês anterior e 10 do mês de referência, variou de 0,30% para 1,29%. Tal indicador tem como 60% de sua composição o Índice de Preços ao Produtor Amplo-10 (IPA-10) e cuja alta foi de 0,07% em fevereiro para 1,65% em março. Já o IPC-S avançou de 0,71% para 0,84%, na segunda semana desse mês, devido, principalmente, ao grupo alimentação, cuja alta, na mesma base de comparação, passou de 1,17% para 1,59%.

“A forte aceleração se explica quase que inteiramente pelo comportamento dos preços agropecuários. A estiagem, que tem tanto impactado a oferta de energia elétrica, finalmente se fez sentir em termos de agropecuário. Subiram também os alimentos in natura, como tomate, batata, feijão. Esses aumentos estão chegando ao varejo”, explicou o economista Salomão Quadros, superintendente adjunto de inflação da FGV.

O economista-chefe da Gradual Investimentos, André Perfeito, recorda que a alta do IGP-10 é a maior para um mês de março dos últimos 10 anos. “Uma das provas de que o mercado simplesmente desdenha o Banco Central, e por isso mesmo que o Copom deveria ter subido em 50 pontos base a Selic, em sua última reunião, é que houve nos últimos anos diversos choques nos preços de alimentos com desastrosas consequências para o IPCA e o mercado ‘focado’ deu de ombros para este fato. A tragédia se repete agora e podemos ver isso no IGP-10 de março. A tendência é de continuar a pressão sobre os preços ao consumidor”.

O que ocorre no campo já é sentido nos sacolões da capital. Levantamento divulgado ontem pelo site Mercado Mineiro revelou que o preço médio de 21 dos 30 hortifrutigranjeiros pesquisados foram reajustados de janeiro para março em percentuais muito acima da inflação acumulada nos últimos 12 meses (5,68%). Além do preço médio do quilo da batata, cuja alta no período foi de 45,15%, o da banana prata disparou 35,06%, de R$ 3,08 para R$ 4,16. O campeão, porém, foi a beterraba: o quilo do tubérculo avançou 51,89%, de R$ 2,64 para R$ 4,01 (veja quadro).

O superintendência de Política e Economia Agrícola da Secretaria de Agricultura, Pecuária e Abastecimento de Minas, João Ricardo Albanez, explica que a estiagem prejudicou as três principais regiões produtoras de banana do país: “Norte de Minas, Vale do Ribeira (SP) e Bom Jesus da Lapa (BA). Com a diminuição da oferta, os preços sofreram alterações”. Em relação à batata, continua o especialista, a seca reduziu a primeira safra em 7%. A segunda deve cair 5%. Para ele, entretanto, há uma tendência de queda nos preços nos próximos meses.

EFEITO NO BOLSO Até lá, consumidores vão encontrar altos valores em vários sacolões da capital. A dona de casa Iranilda Maria Ribeiro, que acompanha de perto a evolução dos preços dos alimentos, lamenta a estiagem prolongada no país. Ela é natural de São Joaquim de Bicas, na Grande Belo Horizonte, onde o irmão tem uma lavoura de chuchu. “Ele teve de cortar parte da plantação em razão da seca. Perdeu muita coisa. O segredo nos sacolões da capital é pesquisar preços, porque senão a gente sequer come”.

A administradora Cláudia Vieira orienta os consumidores a pesquisarem antes de ir às compras: “Há poucos dias, num supermercado perto de minha casa, paguei R$ 7,90 no quilo da maçã. Neste sacolão, porém, o preço da fruta está mais em conta, R$ 3,48”. O aposentado Onofre Casimiro é outro que recomenda prudência nas compras. Para ele, o governo poderia ajudar a reduzir o preço nos sacolões se revisse a carga tributária de insumos e outros custos para o produtor rural. “Houve um aumento significativo no valor de hortifrutigranjeiros. Já achei batata de até R$ 4,50. Aqui está R$ 2,98. Acho absurdo cobrar imposto de alimentos e remédios”, disse Onofre.


A pesquisa também detectou quedas relevantes no preço de alguns produtos, como no quilo do quiabo, que passou de R$ 7,55 em janeiro para R$ 6,70 (-11,26%). O preço médio da unidade da couve-flor, que custava R$ 5,47 no inicio do ano, agora sai a R$ 4,92, recuo de 10,05%.

 

Inflação sem dar sossego

Brasília –
Apesar das oito elevações consecutivas na taxa básica de juros (Selic), que sobe sem parar desde abril de 2013, a inflação nem tão cedo deverá dar sossego ao brasileiro. Pelo contrário. Nas contas do grupo de cinco instituições financeiras que mais acertam suas projeções econômicas, chamado de Top 5, o custo de vida deverá fechar o ano em 6,43%. Há apenas quatro semanas, as apostas desses cinco grandes bancos e corretoras, ouvidos semanalmente pelo Banco Central (BC) na pesquisa Focus, eram que o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) avançasse 6,01% até dezembro.

O conjunto de apostas de 100 instituições financeiras ouvidas no mesmo levantamento do BC também mostrou piora do pessimismo com a inflação. As medianas das previsões apontou que o IPCA, hoje em 5,68% no acumulado de 12 meses, deverá chegar em 6,11%, em dezembro. Há uma semana, o consenso do mercado era que a carestia alcançasse 6,01% no fim do ano.

“Em determinados momentos, mesmo que o BC suba a taxa de juros para 15%, ele não vai conseguir evitar o encarecimento de itens específicos, como o tomate, que foi o vilão da inflação no ano passado. Mas o que ele (BC) consegue evitar é que o custo mais alto do tomate pressione também os preços cobrados pelo tintureiro, pelo eletricista etc”, disse o economista sênior do BES Investimento, Flávio Serrano.

JUROS Entretanto, pressionado a mostrar comprometimento com o combate à inflação, o BC não tem conseguido convencer o mercado financeiro de que terá êxito em sua missão. Prova disso é que as expectativas para os preços continuam subindo mesmo diante da escalada dos juros básicos. Há 10 meses que a taxa Selic sobe sem parar. Ao todo foram oito elevações consecutivas e uma injeção de 3,5 pontos percentuais na taxa básica.

Com isso, a Selic retornou ao patamar que a presidente Dilma Rousseff recebeu de seu antecessor no cargo e mentor político, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, de 10,75%. A situação deve piorar, já que o mercado financeiro prevê pelo menos outra elevação de 0,25% na taxa, na próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) marcada para abril.

Não à toa, o mercado prevê que o parâmetro para a inflação no país, o IPCA, também suba em março. A previsão dos bancos e corretoras é que a prévia do indicador, chamado de IPCA-15, acelere a alta de 0,69% para 0,73%, no indicador que será divulgado sexta-feira. Mas há especialistas ainda mais pessimistas, que apostam numa alta maior, de 079%. A projeção é que três grupos de despesas serão os maiores vilões do mês: alimentos, vestuário e passagens aéreas, que ficaram mais caras por conta do carnaval.



Veículo: Estado de Minas


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