Café da manhã fica mais ‘salgado’

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Itens como o pão francês e o leite subiram mais que o dobro da inflação; em contrapartida, arroz e feijão caíram


Chega a doer no bolso, mas não dá para ficar sem. A frase foi dita ontem pela funcionária pública Roseli Maria de Barros, de 54 anos, que comprava o pão francês a R$ 9,72 o quilo em uma padaria na região central de Bauru.

O descontentamento dela, não só em relação ao pão, mas também a outros itens comuns na lista de café da manhã, ilustra a realidade vivida pelos consumidores bauruenses desde o final de 2013.

Um levantamento realizado pela Associação Paulista de Supermercados (Apas) aponta que o café da manhã dos paulistas, de fato, ficou mais caro, chegando subir mais que o dobro da inflação real, que fechou o ano passado em 5,9%.

O preço do pão francês, segundo a pesquisa, aumentou até 16% em 2013, acompanhado pelo leite longa vida, que registrou elevação de 15,74%, e consequentemente da manteiga, que teve alta de até 7,55%. O único item “salvo” da lista é o café, que no Estado registrou retração de até 11,51%.
Roseli: “Dói no bolso, mas não dá para ficar sem”

‘Pão de ouro’

Em breve levantamento, ontem, o JC consultou o preço do pão francês em sete padarias de Bauru. O preço encontrado variou de R$ 7,90, nos bairros, a R$ 9,72, em estabelecimentos no Centro.

“Compro pão todos os dias e notei que subiu muito. Mas não dá para não levar, consumimos tanto no café da manhã quanto no jantar”, afirma Roseli.

Um dos principais motivos para a alta, segundo explica o economista Reinaldo Cafeo, ocorre em virtude do aumento do trigo, que registrou elevação de até 45% nos últimos meses, impulsionado pela alta do dólar.

“O Brasil não é autossuficiente e importa aproximadamente 40% do trigo. Em 2013, a Argentina, nosso principal vendedor, viveu um momento difícil e fechou o mercado, o que fez com que importássemos mais dos Estados Unidos. Porém, em setembro, o dólar disparou e as padarias não conseguiram mais absorver esse aumento”, avalia.

Café nem tanto

Já em relação ao café, a menor demanda internacional pelo grão em 2013, segundo a Apas, teria sido a responsável pela baixa dos preços nos mercados externo e interno.

“O que baliza o varejo é a inflação. Mas começamos o ano de forma até que estável, essas variações são normais. Além da produção, tem a questão da oferta e da procura”, frisa o diretor da Apas Regional Bauru, Émerson Svizzero. O preço médio do café comum nos supermercados, atualmente, é de R$ 5,49.

E o leite?


A estiagem prolongada e as altas temperaturas castigaram os pastos em todo o Estado e, consequentemente, fizeram com que o gado necessitasse de ração artificial, produto com alto valor de mercado.

Com isso, o preço do leite e seus derivados, como a manteiga, por exemplo, subiram. Para se ter ideia, em 2013, o leite longa vida chegou a ser comercializado na cidade por até R$ 3,10.

A situação acima, ilustrada pela Apas e pelo economista, entretanto, difere-se um pouco da realidade vivenciada em Bauru nos últimos dias.

Motivados pela concorrência, empresários do ramo supermercadista aproveitaram o baixo consumo de leite registrado em dezembro na cidade para elevar o estoque das lojas e diminuir os preços ao consumidor.


Arroz e feijão

Enquanto os preços dos itens do café da manhã sobem, comer arroz e feijão em casa está mais barato.

Outro levantamento feito pela Apas, a partir de dados do Índice de Preços dos Supermercados (IPS), mostra que, ao longo de 2013 o preço do arroz caiu 9,05% e o feijão teve queda de 24,90%. A queda no preço do arroz se concentrou basicamente no primeiro semestre, e está associada às condições climáticas que favoreceram desempenho da produção do cereal.

Já o feijão teve queda concentrada no segundo semestre. Além do clima favorável, houve redução do consumo, que caiu de 17 para 16 quilos por habitante ao ano.

Em um supermercado de Bauru, um saco de arroz de 5 quilos, que antes custava R$ 12,00, é comercializado atualmente a R$ 10,00. Já o saco de 1 quilo do feijão, que custava em média R$ 5,00, é comercializado a R$ 3,50.

Estabilidade


Além dos problemas devido à falta de matéria-prima, outros custos relacionados à produção, como a energia elétrica e a mão de obra, também têm crescido, provocando efeito em cascata nos preços dos alimentos em todo o Estado.

“Não é só o pão ou os itens da lista do café da manhã que estão caros. A inflação de alimentos fechou em 12,2%, muito superior à inflação real”, ressalta Cafeo. A perspectiva, contudo, é de que a alta dure até junho deste ano.

“O governo tem dificuldade em segurar a inflação no setor de alimentos e acaba gerando a compensação em outros setores. Mas a produção está voltando à sua normalidade e, partir do segundo semestre, é provável que o mercado se acomode”, projeta o economista.

O cenário é reforçado pela Apas. “O aumento ainda deve ser verificado, embora em menor magnitude, mas estamos caminhando para a estabilidade”, reforça Svizzero.


Preço da arroba do boi ‘estoura’


Os meses de janeiro e fevereiro são conhecidos como o período da “safra do boi”, mas neste início de ano o preço da arroba está atípico. No final do ano passado, o valor do gado de corte estava estabilizado entre R$ 95,00 e R$ 100,00, mas nos últimos dez dias o preço acumula altas quase diárias, chegando a beirar R$ 120,00.

A falta de chuva e o forte calor são fatores responsáveis por esse aumento. O solo das pastagens estava seco em decorrência do período de estiagem e as chuvas não foram suficientes para recuperá-lo.

Uma alternativa ao pecuarista para garantir a engorda do gado foi suplementar a alimentação com ração à base de milho e soja, porém esses grãos também estão com preços altos e contribuíram para a elevação dos preços.

Segundo Maurício Lima Verde, presidente do Sindicato Rural de Bauru, a cotação da arroba do boi já chegou ao valor de R$ 120,00.

No mesmo período do ano passado, de acordo com dados do Centro de Estudos em Economia Aplicada (Cepea)/Esalq, a carne de boi era vendida para abate por R$ 97,71.

Lima Verde atribui o aumento dos preços à diminuição da oferta de gado de corte e prevê que nas próximas semanas pode ocorrer um aumento de pelo menos 20%.

“Muitos pecuaristas estão vendendo mais fêmeas e os bois não estão ganhando peso suficiente durante a engorda. Isso reduz o rebanho, mas o consumo continua igual. Essa diminuição do rebanho faz com que o preço da carne suba”.

Mas, por enquanto, os consumidores não se deparam com esse aumento nas prateleiras dos supermercados.

“Os preços ainda não subiram para o consumidor porque há um estoque regulador. Mas se a alta dos preços continuar, em cerca de 15 dias a população será afetada”, afirma Emerson Svizzero, diretor da Associação Paulista de Supermercados (Apas) da regional de Bauru.


Estiagem afetou algumas culturas


Na última semana, o JC publicou um levantamento do Sindicato Rural de Bauru que apontava perdas de até 80% da produção de algumas culturas na região por conta do calor intenso e da estiagem prolongada do início deste ano.

Entre as culturas afetadas estavam as lavouras de cana-de-açúcar, milho, soja e café, além das áreas de pastos.

O cenário foi reforçado pela Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais de São Paulo (Ceagesp) de Bauru, que registrou aumento de até 80% no preço de alguns legumes e verduras na semana passada.

Na ocasião, o presidente do sindicato e vice-presidente da Federação da Agricultura do Estado de São Paulo (Faesp), Maurício Lima Verde Guimarães, avaliou os danos como irreversíveis para algumas culturas, mesmo que começasse a chover nesta metade de fevereiro.


Leite é encontrado a até R$ 1,70


Enquanto o preço do leite segue em alta em supermercados de todo o Estado, um fenômeno causado pela concorrência estimula a guerra de preços nos estabelecimentos em Bauru, que já registram queda nos valores.

O produto, que segundo os próprios empresários do ramo deveria ser comercializado acima de R$ 2,19 neste início de ano, pode ser encontrado hoje por até R$ 1,70.

“Em dezembro, geralmente, as vendas de leite caem e alguns supermercadistas aproveitam para aumentar o estoque. Por isso, mesmo com o preço em alta é possível encontrar locais segurando o preço abaixo de R$ 2,00”, afirma Svizzero.
 


Veículo: Jornal de Bauru


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