Múltis investem em nutrição para a terceira idade

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Multinacionais apostam em um nicho de negócios que cresce com o envelhecimento da população, o de nutrição clínica. Este mercado, que engloba de suplementos orais a fórmulas especiais para pacientes com alergia alimentar e doenças metabólicas, tornou-se prioridade para a francesa Danone em 2013, acirrando a disputa com o laboratório americano Abbott, líder nas vendas desse tipo de produtos em farmácias, e com a suíça Nestlé, grande fornecedora de hospitais.

A Nestlé lançou em fevereiro no mercado brasileiro um suplemento em pó para músculos e ossos de pessoas com mais de 60 anos. Este grupo de consumidores, batizado de terceira idade, cresce e parte dele tem dinheiro para gastar com a saúde e bem-estar. Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgados no fim de 2012 mostram que a parcela de pessoas acima de 60 anos vem crescendo. Esta fatia, em relação à população total, passou de 9% para 12,1% entre 2001 e 2011, como mostrou reportagem publicada pelo Valor em novembro.Políticas sociais e previdenciárias para idosos carentes, como pagamento de um salário mínimo, aumentaram o poder aquisitivo desse grupo. A fatia de idosos na base da pirâmide social, recebendo até meio salário mínimo, é de 18%, bem menor do que o percentual de jovens até 25 anos de idade, de 53%, segundo o IBGE.

Nesse cenário, de envelhecimento da população e aumento da renda, as empresas vislumbram vendas maiores. O setor de nutrição clínica fatura cerca de R$ 1 bilhão ao ano, segundo a Danone, e cresce ao ritmo de dois dígitos ao ano desde 2008, de acordo com a Abbott. Danone e Nestlé são mais voltadas a hospitais. A Abbott, por sua vez, lidera as vendas em produtos para o consumidor final. As multinacionais concorrem no Brasil com as regionais Prodiet, do Paraná, e Nuteral, do Ceará. Em julho, a Danone comprou a Nutrimed, que também atua no Nordeste (ver ao lado).

"A grande mudança é que este mercado era mais baseado em hospital. Hoje tem crescimento para o mercado do consumidor final, mais interessado em cuidar da saúde", diz Marcelo Borges, presidente da Danone Medical Nutrition. "A nutrição clínica especializada vai ser uma necessidade brutal para os próximos anos."

A estratégia da Danone é antecipar o uso da nutrição especializada para consumidores entre 40 e 50 anos - antes de o consumidor atingir a terceira idade. O investimento tem sido "relevante", e as vendas da categoria cresceram 120% ao ano nos últimos três anos, segundo a empresa.

As vendas dos produtos para pessoas com mais de 60 anos, insignificante para a Danone em 2010, devem alcançar 15% do faturamento da divisão de nutrição clínica em 2013 e 30% em 2015.

No Brasil, a Danone tem um portfólio de dezenas de produtos de nutrição clínica. Três produtos são voltados especificamente para idosos, dentre eles um composto para reconstituir a membrana neural e as sinapses (conexões entre as células do cérebro) em pacientes com doença de Alzheimer. A receita global da divisão de nutrição clínica da Danone cresceu 5,9% no ano passado, para € 1,29 bilhão - equivalente a 6% das vendas totais da companhia, de € 20,87 bilhões.

"A atenção à nutrição básica, a preocupação com a saúde preventiva, o envelhecimento da população e [o aumento da] a qualidade de vida sinalizam tendência de que os produtos nutricionais serão consumidos de forma mais extensiva", diz Ana Paula Celes, diretora-executiva da Prodiet.

Os produtos para o consumo representam dois terços da divisão de nutrição clínica da Abbott, cuja operação principal no país é a nutrição diabética. No mundo, essa divisão da Abbott faturou US$ 6,5 bilhões em 2012. Segundo a empresa, o Brasil deve passar da 8ª posição no ranking de países com o maior aumento da população de terceira idade em 2012 para a 6ª posição em 2025, e "portanto, considerando a perspectiva de negócio, é impossível ignorar este importante grupo consumidor".A Danone Medical Nutrition entrou no Brasil em 1996, quando comprou a Support Produtos Nutricionais. Em 2007, comprou a Nutrisse e a Nestlé, o braço de nutrição clínica da Novartis. A Abbott opera neste segmento no país desde 1986.


Danone vai produzir em Fortaleza


No dia 9 de julho, a Danone assinou a compra da Nutrimed, fundada em 1993 no Ceará. Até comprar a concorrente, a Danone não tinha fábrica para nutrição clínica no Brasil. Agora, faz o planejamento do que vai fabricar em Fortaleza. O portfólio de nutrição clínica é importado.

A Danone calcula que vai ser possível reduzir em até 25% o custo do produto, fabricando no Brasil, o que deve refletir em queda nos preços. Os gastos com importação respondem por até 28% do custo médio da categoria para a Danone. "Temos uma linha de produtos de uso hospitalar e domiciliar, de pós alta hospitalar, que é a prioridade e certamente deve ser a primeira a ser lançada", diz Marcelo Borges, presidente da Danone Medical Nutrition.

Eliminar a burocracia da importação vai dar agilidade à Danone e evitar, inclusive, perda de produtos na alfândega. Borges diz que alguns produtos têm vida útil de um ano, e o tempo para importar e liberar o produto é um risco.

A Danone vai investir na capacidade instalada da Nutrimed e aumentar a escala de produção para alavancar as vendas da marca entre 35% e 40% neste ano. A Nutrimed dá à Danone acesso a novos clientes do Nordeste, pois a capilaridade da empresa de Fortaleza atinge lugares onde a multinacional não chega.

O valor da aquisição não foi divulgado, e o pagamento foi feito com recursos do próprio caixa da Danone no Brasil. A multinacional passou 2,5 anos estudando o negócio e um mês fazendo 'due dilligence' na Nutrimed.

A estimativa é que o negócio leve 11 anos para se pagar, "mas vamos trabalhar de maneira agressiva para reduzir esse tempo pela metade", diz Borges.

No primeiro momento, a operação da Danone vai ser mais cara e ineficiente. Depois, com o ganho de escala e aumento da força comercial, a produção local passa a compensar. "Não acho que vai continuar com a mesma rentabilidade. A proporção aumenta, perde margem, mas ganha escala", diz Borges. A nutrição clínica é uma das quatro áreas em que a Danone atua, além de iogurte (a principal), água (é dona das marcas Bonafont e Evian, por exemplo) e nutrição infantil.




Veículo: Valor Econômico


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