Agronegócio aposta em consumo chinês

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A China, principal comprador das commodities agrícolas brasileiras, deve continuar a ser o principal mercado consumidor do agronegócio do Brasil. No primeiro semestre, o gigante asiático foi o destino de metade das exportações brasileiras de produtos do complexo soja e de cereais, farinhas e preparações, tanto em volume quanto em movimentação financeira. Na comparação com o primeiro semestre de 2012, as compras chinesas de produtos agrícolas cresceram 21,8% e fecharam o período com US$ 13,01 bilhões. O país já ultrapassou a União Europeia (UE) como maior mercado consumidor de commodities agrícolas brasileiras.

O governo chinês tem promovido uma mudança estrutural na condução de sua política econômica  para diminuir sua dependência com relação às exportações. A estratégia, segundo o presidente da Câmara de Comércio e Indústria Brasil-China, Charles Tang, é aumentar o mercado consumidor interno. Ele destaca a política de urbanização, que pretende retirar 400 milhões de chineses do campo e colocá-los em centros urbanos até 2030 e que deve envolver investimentos de até US$ 7 trilhões. "Isso quer dizer maior demanda por comida que o Brasil está exportando", observa Tang, em entrevista ao DCI.

O mercado também acredita em um aumento no volume embarcado para a China já no curto prazo. Ontem, a China divulgou crescimento da economia em 7,5% entre abril e junho. O que fez as bolsas subirem no mundo inteiro. A Celestia Trading Company (CTC) acredita na desvalorização do real para aumentar as exportações para o país asiático. No semestre, a China representou só 15% dos negócios da trading, ante 35% durante todo o ano passado, o que indica potencial de avanço daqui para frente.

China deve manter demanda pelo agronegócio brasileiro

As exportações do agronegócio brasileiro nunca foram tão dependentes da China como neste primeiro semestre, e o país asiático ainda promete aumentar a demanda por commodities agrícolas brasileiras nos próximos anos. O gigante asiático já é o destino de metade das exportações agrícolas do Brasil, tanto em volume como em recursos.

Nos primeiros seis meses do ano, o Brasil exportou mais produtos do agronegócio para a China sozinha do que para todos os 27 países da União Europeia (UE), que até então lideravam as compras agrícolas que saíam dos portos brasileiros, segundo relatório do Ministério do Desenvolvimento, Comércio Exterior e Indústria (MDIC). Enquanto Pequim comprou US$ 13,02 bilhões em produtos agrícolas brasileiros, um aumento de 21,8% com relação ao primeiro semestre do ano passado, os principais países da UE reduziram as importações de produtos brasileiros. A Alemanha, por exemplo, comprou US$ 1,2 bilhão em produtos agrícolas no primeiro semestre. O volume financeiro é 18,2% menor do que o registrado no mesmo período do ano passado.

O aumento das importações de commodities agrícolas brasileiras por parte da China faz parte de uma mudança na estrutura da política econômica do país asiático para fazer frente à desaceleração dos países europeus e à dificuldade de recuperação dos Estados Unidos. Ao invés de apostar nas exportações como carro-chefe do crescimento econômico, Pequim pretende dar prioridade para o mercado interno. Segundo autoridades chinesas, é essa mudança que tem levado a um menor crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) do país, que no segundo trimestre subiu 7,5%, de acordo com as expectativas do mercado e dentro da meta do governo, ainda que 0,2 ponto percentual abaixo do crescimento do primeiro trimestre.

A principal política que o governo chinês implementará para fomentar o aumento da renda e do consumo é um plano de urbanização de US$ 7 trilhões que pretende colocar 400 milhões de chineses em grandes centros urbanos até 2030. Atualmente, as cidades chinesas têm uma população de 690 milhões. "Isso quer dizer maior demanda por automóveis e por comida que o Brasil esta exportando", afirma o presidente da Câmara de Comércio e Indústria Brasil China, Charles Tang, em entrevista ao DCI.

A expansão das áreas urbanas e dos centros industriais têm reduzido as áreas agricultáveis da China. Hoje o país asiático dispõe de 140 milhões de hectares para a agricultura, 2 milhões a menos que há cinco anos. Tang calcula que, em mais cinco anos, a China perderá mais 2 milhões de hectares. Com a urbanização, o país também pretende aumentar a renda média da população.

Curto prazo

A desvalorização do real é outro fator que deve impulsionar as exportações do agronegócio brasileiro em geral, e para a China em particular, no curto prazo. Até abril deste ano, quando o dólar estava em R$ 2,00, a China havia representado apenas 15% dos negócios da brasileira Celestia Trading Company (CTC). No ano passado, o país havia participado de 35% das negociações da trading. Segundo o sócio-diretor da CTC, Jefferson Dias, a empresa teve que investir mais em viagens à China e em recepção de visitantes chineses. "Aguardar o cliente te procurar não dá mais", conta. Com a valorização do dólar e a queda das commodities, Dias diz que agora "a perspectiva para a venda de commodities alimentícias para o país, como café e outros grãos, está positiva".

Na média, a desvalorização cambial derrubou o preço das mercadorias para o consumidor estrangeiro entre 12% a 15%.

Liderança em grãos

Dos 42,6 milhões de toneladas que o agronegócio exportou no primeiro semestre, 20,9 milhões de toneladas foram compradas pela China, apenas em produtos do complexo soja (grão, farelo e óleo), cereais, farinhas e preparações. Em volume, a China foi o destino de 49,1% das exportações agrícolas do Brasil, mas em movimento financeiro, chega a superar metade, com 54,8% do US$ 20,3 bilhões exportados no primeiro semestre, de acordo com cálculos baseados em dados do MDIC e do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento.

Os produtos derivados da soja, utilizados basicamente como ração para o gado, são tão importantes para a pecuária chinesa que representaram 48,6% de todo o valor que o país exportou durante os seis primeiros meses do ano. O número surpreende, dado que a produção de carne na China teve um ligeiro recuo de 0,2% no segundo trimestre, enquanto a produção de grãos do país cresceu 1,5% no mesmo período.

A China também aumentou as compras de açúcar e etanol brasileiros em 133,6% e de cacau e derivados em 112,9%, na comparação com o ano passado.

Dias, da trading CTC, diz que, em seu negócio, os compradores da China também têm aumentado a demanda por produtos orgânicos e ervas utilizadas por comunidades indígenas brasileiras e que são aproveitados pelo setor de perfumaria chinês.



Veículo: DCI


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