O tradicional cachorro-quente perde espaço nos Estados Unidos

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Os americanos gastaram US$ 1,7 bilhão em hot dogs no ano passado. Isso só em supermercados, sem incluir os cachorros-quentes comprados em lanchonetes ou de vendedores de rua. E nenhum dia é melhor para consumir hot dog do que o 4 de julho (o Dia da Independência dos Estados Unidos), quando, segundo previsões, os americanos deverão consumir cerca de 150 milhões deles - o suficiente para cobrir mais do que cinco vezes a distância entre Washington e Los Angeles.

Embora esses números impressionem, o total de vendas de hot dogs está caindo no país. Segundo dados da empresa de pesquisa IRI, de Chicago, a venda do sanduíche recuou mais de 3% em 2012, em relação a 2011, após dois anos seguidos de quedas menores. Os números deste ano também parecem fracos. O declínio surpreende à luz da fragilidade da economia: os hot dogs são comida barata num período de lenta recuperação.

O professor de economia agrícola Ronald Plain, da Universidade de Missouri, ofereceu algumas explicações possíveis para os infortúnios do pão com salsicha. A iguaria faz especial sucesso entre as crianças, por exemplo, o que aponta a queda da taxa de natalidade dos EUA como possível responsável. A mudança dos padrões de imigração e da pirâmide etária talvez tenha sua influência.

Janet Riley, presidente da entidade empresarial National Hot Dog & Sausage Council, vê ainda outros fatores. "O custo maior da matéria-prima está levando à alta do preços no varejo", diz. "Os consumidores são muito sensíveis a isso." Ryan Stalker, diretor da marca de salsichas Hebrew National, cujas vendas encolheram 5% este ano, concorda. "O maior desafio são os custos crescentes, principalmente da carne bovina nos últimos anos, o que normalmente se traduz em fragilidade das vendas."

Nada disso surpreende Josh Ozersky, jornalista de gastronomia e historiador da alimentação. Ele prevê que o hot dog será cada vez mais marginalizado com a ampliação do paladar americano. "Posso apostar que mais americanos, principalmente os mais jovens, comem agora nachos ou tacos em vez de hot dogs", diz ele. Então por que vários lugares servem nachos sobre hot dogs? "Isso apenas prova a situação desesperadora do hot dog!", diz ele. "É como uma atriz de meia idade que faz botox e implante nos seios para tentar manter-se no mercado."

Uma marca contrariou a tendência: a Nathan's Famous, cujas vendas sobem 17% em relação a 2012. "Naturalmente acho que é porque temos o melhor hot dog", diz o presidente da empresa, Wayne Norbitz. "Em tempos difíceis, se as pessoas vão comer menos hot dogs, muitas vezes escolhem um produto de primeira." A Nathan's conta ainda com o impulso de seu concurso anual de consumo de hot dogs de 4 de julho.

O cachorro-quente ainda conta com um reduto inexpugnável: os estádios de beisebol. Os torcedores podem comprar de tudo, de sushi a costela na brasa, mas os hot dogs continuam sendo o produto mais vendido em quase todos os grandes estádios do esporte. Há também um pequeno número de restaurantes de hot dogs artesanais, como o Bark, no Brooklyn. O dono, Josh Sharkey, rega seus cachorros-quentes com o "molho Bark", um preparado feito de banha de porco defumada batida com manteiga.

Mesmo Sharkey diz não ser fácil trabalhar com isso. "É um modelo de negócios difícil, pois se baseia num nível de preço baixo", diz ele. "Por isso, é um negócio de volume, tem de vender muito hot dog."



Veículo: Valor Econômico


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