Novo negociador aproxima o Brasil da China

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O governo chinês vem promovendo mudanças significativas na sua política econômica. Os recursos financeiros baratos, que nos últimos anos foram liberados em abundância estimulando grandes investimentos por parte das empresas chinesas, tendem a ser mais dosados. Esse movimento estaria direcionando o país asiático para um crescimento mais moderado, o que preocupa o mundo todo, em especial o Brasil, que tem na China o principal parceiro comercial.
 
A despeito das mudanças que se observam, o empresário chinês Wang Dian Xing, recém-eleito presidente da Câmara Brasil-China de Desenvolvimento Econômico (CBCDE), acredita no fortalecimento das relações comerciais entre os dois países. Para os próximos anos, diz Wang, fabricantes chineses de equipamentos de construção devem começar a fabricar no Brasil. "Pelo menos US$ 200 milhões em investimentos já estão garantidos apenas para buscar terrenos para instalar as plantas", disse o empresário ao Diário do Comércio. Abaixo, a entrevista completa.
 
Diário do Comércio – A China passa por um processo de transições política e econômica. Falando como empresário, como o senhor vê as mudanças?
Wang Dian Xing – As transformações pelas quais passa a China desde o ano passado buscam, principalmente, fortalecer o mercado interno. O tamanho do mercado de consumo chinês exige essa maior atenção. Mas as exportações vão continuar a ser importantes para o crescimento do país. Para as exportações, o que o novo governo tem buscado é ampliar a qualidade da produção que vai para o restante do mundo. Isso, para competir em mercados nos quais Estados Unidos e Europa estão presentes.
 
DC – O Brasil continua a ser alvo dos investimentos chineses?
Wang – O novo governo da China vai dar cada vez mais peso à relação com os países em desenvolvimento, em especial para o Brasil. Com a crise nos Estados Unidos e na Europa, cresce a importância do Brasil para os investimentos chineses. Isso significa que, mais do que vender produtos para o Brasil, o empresário chinês vai produzir no Brasil. Além disso, como Brasil e China são dois países em desenvolvimento, há muito conhecimento e tecnologia para trocar. Como no campo aeronáutico, por exemplo, setor em que o Brasil já se mostrou competente e a China começa a crescer também.
 
DC – Empresas chinesas de quais setores, além do automotivo, têm interesse no Brasil?
Wang – O setor automotivo continuará fazendo fortes investimentos no Brasil. Mas há muitos outros setores interessados. No dia 10 de julho, a Câmara trará para o Brasil, para uma rodada de negócio, 30 empresas da província de Dongguan, que é a quarta principal cidade chinesa em exportações, com 56 mil fábricas. São empresas do setor ferroviário, fabricantes de máquinas e equipamentos para construção civil, como tratores e escavadeiras. Há também empresas de TI e fabricantes de moldes de plástico interessadas no Brasil. Posso afirmar que várias empresas de máquinas para construção estão interessadas em se instalar no Brasil.
 
DC – Nesse setor de máquinas e equipamentos para construção, há projetos concretos para o Brasil?
Wang –  A cidade de Shenyang, que concentra as principais empresas fabricantes de máquinas para a construção, como tratores, escavadeira, fez parceria com a Câmara. Eles querem mostrar para o Brasil a produção de Shenyang. A Câmara está buscando um local para fazer a exposição das máquinas produzidas lá. Entre as interessadas está uma empresa que fabrica equipamentos que perfuram túneis de metrô. Claro que nesse caso não tem como mostrar o equipamento. Na próxima sexta-feira, o prefeito de Shenyang, junto de empresários da cidade, vêm para o Brasil. Vamos mostrar várias cidades para eles que seriam interessantes para receber investimentos.
 
DC – Há algum valor previsto para estes investimentos?
Wang – Pelo menos US$ 200 milhões, apenas para a etapa inicial do projeto, que envolve a busca por terreno para instalar as plantas. Esse é um recurso da prefeitura de Shenyang. O dinheiro é emprestado para os empresários sem juros e para ser pago em 20 anos. O governo chinês estimula as empresas a buscarem o mercado externo.
 
DC – Por ouro lado, as empresas brasileiras ainda têm dificuldades para entrar na China. Por que?
Wang – Na província de Dongguan há seis mil brasileiros que, basicamente, trabalham no setor calçadista. Eles trabalham para marcas brasileiras que produzem na China, mas que vendem para o Brasil e Europa, não para mercado chinês. Mesmo produzindo na China, as marcas brasileiras têm dificuldades de entender aquele mercado. O risco de falhar por lá é grande, pois se trata de um mercado agressivo. Não adianta entrar com uma loja lá. É preciso montar uma rede para ter sucesso. A Câmara pode ajudar estas empresas a entender a China. Fizemos recentemente uma parceria com Campinas, que virou uma cidade-irmã de Dongguan. Isso ajuda a aproximar os mercados. 
 
DC – A economia chinesa vem desacelerando. Mais uma vez, falando como empresário chinês, isso preocupa?
Wang – A China vai estabilizar por mais um ano para depois voltar a crescer. Nesse período, haverá o fortalecimento do seu mercado interno. De qualquer maneira, a China precisa acompanhar o ritmo do mundo. Com Europa e Estados Unidos com problemas, não adianta a China crescer muito, porque o crescimento se tornaria um problema. No ano passado o governo chinês fixou o crescimento da sua economia em 7,8%. Eu acho que com os problemas internacionais a meta vai ser baixada para 7,2% ou 7,5%.




Veículo: Diário do Comércio - SP


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