Contra escassez, Venezuela estuda proibir mamadeira

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Por Fabio Murakawa | De São Paulo

O governo venezuelano vem adotando medidas nada ortodoxas para tentar reduzir a escassez de produtos e a crescente inflação. Passou a vender carros pela internet; prometeu ampliar um programa porta-a-porta para verificar que produtos básicos faltam nas casas das pessoas e entregá-los a domicílio; e propôs uma lei que proíbe a venda de mamaderias, supostamente para estimular o aleitamento materno, mas que visa atacar a escassez de leite em pó.

As medidas ocorrem em meio a uma alta da inflação, que atingiu o recorde de 6,1% no mês de maio, acelerando-se a 35,2% ao ano, contra 20,1% em dezembro. Além disso, o índice de escassez de produtos, medido pelo banco central do país, ficou em 20,5% em maio, próximo do recorde histórico de 21%.

Para analistas, a causa principal do desabastecimento é falta de dólares no país, onde o câmbio é controlado pelo governo. Sem a moeda americana para importar insumos e produtos, o resultado é a escassez. Consultorias privadas dizem que o Cadivi, sistema oficial de administração de divisas, acumula um atraso de US$ 8 bilhões a US$ 9 bilhões na entrega de dólares aos importadores locais. A Venezuela, país onde o petróleo responde por 96% das exportações, importa quase tudo o que consome - 70% no caso dos alimentos.

Há duas semanas, o governo anunciou a criação do Sistema de Distribuição de Veículos Venezuela Produtiva Automotriz, "um canal direto para a aquisição de veículos comercializados pelo Governo Bolivariano a preços justos, eliminando intermediários". Pelo sistema, o consumidor pode fazer pela internet o pedido de financiamento a bancos públicos e, em caso de aprovação, ele será informado onde e em que centro de distribuição poderá retirar o veículo.

Os carros vendidos são das marcas Cherry e Venerauto, montados no país com peças importadas por empresas mistas do governo em parceria com indústrias da China e do Irã, respectivamente. A fila de espera para comprar um carro novo nas concessionárias dura de seis a oito meses, dada a dificuldade das montadoras locais de importar autopeças. Com isso, o consumidor apela ao mercado negro ou compra um semi-novo, em ambos os casos pagando cerca do dobro do preço de tabela de um 0 km.

A escassez de produtos nos supermercados venezuelanos ganhou destaque com a importação emergencial de 50 milhões de rolos de papel higiênico, anunciada há um mês pelo presidente Nicolás Maduro. Esse foi um dos motivos para a vitória surpreendentemente apertada do herdeiro de Hugo Chávez na eleição presidencial de abril, contestada pela oposição.

Na semana passada, Maduro anunciou a ampliação do programa Mercal Vai à Tua Casa, que estava em testes. Nesse programa, funcionários da estatal Mercal, que importa produtos a preços subsidiados, vão à casa das pessoas, perguntam o que está faltando e prometem fazer a entrega a domicílio.

Na sexta-feira, a deputada governista Odalis Monzón propôs a Lei de Promoção do Aleitamento Materno. Ela proíbe a venda de mamadeiras e restringe a de leite em pó. O propósito seria "aumentar o amor entre mães e filhos, que foi perdido como resultado dessas fórmulas vendidas pelas companhias multinacionais". A exceção são casos de morte da mãe ou mulheres com produção insuficiente de leite. Ela não explicou as sanções contra quem desobedecer a lei. O leite em pó é um dos produtos que constantemente frequentam a lista de escassez no país.



Veículo: Valor Econômico


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