Avança processo de mudanças na BRF

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O desenho diplomático das mudanças na gestão da BRF, empresa de alimentos que reúne Perdigão e Sadia, começa a avançar nesta semana. A expectativa é que Nildemar Secches, atual presidente do conselho de administração, anuncie numa reunião do colegiado amanhã sua disposição de deixar o cargo. Enquanto isso, Abilio Diniz, empresário e sócio-fundador do Grupo Pão de Açúcar, vinha procurando o presidente-executivo da BRF, José Antonio do Prado Fay, para uma conversa. Ontem à noite, tiveram o primeiro encontro.

A organização entre os acionistas da BRF, companhia de capital pulverizado avaliada em quase R$ 40 bilhões na bolsa, em torno da sucessão de Secches, ainda não está completa. Há anos, Secches é o principal nome da BRF. A ideia é que uma eventual transição seja feita na assembleia geral de abril, com um novo conselho. Procurado, Secches não se manifestou.

Desde o fim do 2012, a gestora de recursos Tarpon, detentora de 8% da empresa de alimentos e terceira maior acionista da empresa, se articula com Abilio para colocá-lo no conselho de administração da BRF, a fim de promover mudanças na empresa. Sua indicação seria uma forma de alcançar dois objetivos ao mesmo tempo: iniciar mudanças na gestão do negócio e, ao mesmo tempo, ampliar sua influência na empresa. Apesar de ter feito o investimento há dois anos, a Tarpon não conseguiu uma aderência significativa à administração da companhia.

A Caixa de Funcionários do Banco do Brasil, Previ, maior acionista da BRF, está alinhada aos planos de mudança. Contudo, a Petros, previdência dos funcionários da Petrobras, está menos envolvida no processo e, por isso, mais resistente. Sistel e Valia também são acionistas, com pouco menos de 5%

O interesse de Abilio na BRF nasceu de um convite da Tarpon. O empresário tornou-se investidor da empresa. Não é público o quanto já comprou de papéis bolsa, mas seu apetite era de aplicar até R$ 1,5 bilhão nas ações, o que equivaleria a cerca de 3,5% a 4% do negócio, conforme o preço no mercado. Os recursos para essa estratégia vieram da venda de uma fatia de sua participação no Pão de Açúcar. Entre dezembro e janeiro, fez o maior desinvestimento na empresa desde sua criação: alienou quase R$ 1,7 bilhão em ações, ou 7,5% do capital.

Conforme os planos de Abilio se tornam mais concretos, o empresário entra numa nova etapa de sua empreitada na BRF, que é a discussão a respeito de um eventual conflito de interesses de sua dobradinha à frente da presidência do conselho de administração tanto da BRF como do Pão de Açúcar. A BRF, apurou o Valor, tem cerca de 11% de suas receitas provenientes das vendas no grupo Pão de Açúcar. A varejista concentra 6% de suas compras na BRF.

Esse debate será importante para a formação do bloco de adesão ao nome de Abilio para a presidência do conselho da BRF. Internamente, na administração da empresa, o tema tem gerado preocupações. O Casino, que controla o Pão de Açúcar, também deve levantar o assunto. E ambos - o grupo francês e o empresário - farão uma batalha de pareceres, apontando ou negando a existência de um conflito de interesses.

Abilio não cogita deixar a presidência do conselho do Pão de Açúcar. O plano é anunciar em breve apenas a troca dos dois representantes que tem no colegiado, o filho Pedro Paulo Diniz e a esposa Geyze Diniz devem ser substituídos por profissionais de mercado. A presidência no conselho esta garantida em contrato com o Casino. O empresário reforçou a pessoas próximas que vai continuar defendendo os direitos do GPA e tem planos de longo prazo para a sua permanência na companhia.

Coincidência ou não, ao mesmo tempo em que Abilio levou sua definição de apostar em BRF à Brasília, as fundações que formam o maior bloco de acionistas da empresa e que, sistematicamente vinham diminuindo sua participação, voltaram a comprar os papéis.

Conforme relatórios públicos na Comissão de Valores Mobiliários (CVM), entre o fim de 2011 e setembro de 2012, juntas Previ, Petros, Sistel e Valia reduziram sua participação na BRF de 27,6% para 25,5%. Somente de outubro a dezembro de 2012, ou seja, em três meses, a participação somada subiu para 28,5% - um aumento de 3%, que a preços de mercado equivale a pouco menos R$ 1,2 bilhão.

No fim de 2012, Tarpon e Abilio ponderaram e até tiveram conversas junto aos fundos de pensão para reconstituir um bloco de controle na BRF num novo acordo de acionistas, que hoje é uma companhia de capital pulverizado. Agora, o empresário trabalha na construção um acordo "mais light" apenas junto a Tarpon.



Veículo: Valor Econômico


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