Itália se destaca na recuperação das uvas nativas

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No país que possui 380 dessas uvas, a maior diversidade do planeta, dezenas de castas têm sido redescobertas


A partir da década de 70, a fama de exemplares feitos na Califórnia, nos EUA, com as uvas chardonnay e cabernet sauvignon disseminou seu cultivo por todo o mundo.

Ao lado delas, ganharam terreno outras francesas, como merlot e sauvignon blanc.

"O vinho passou a ter uma 'receita' sempre igual, para agradar ao consumidor", avalia Luis Pato. Defensor ferrenho das uvas portuguesas, Pato já provou ser possível fazer bons vinhos com a desprestigiada tinta baga, da região da Bairrada.

Atualmente, está às voltas com duas castas da região: a cercial da Bairrada e a sercialinho -desta última, é o único produtor no mundo.

Uma das vantagens de recuperar castas autóctones é que elas já estão adaptadas ao seu lugar de origem. "A baga na Bairrada é como a pinot noir na Borgonha: é a que melhor transmite a expressão dos diferentes terroirs locais", explica a filha de Luis Pato, Filipa, que produz seus próprios vinhos com a casta.

Portugal foi um dos países que mais resistiu à sedução das castas internacionais. Mas é na Itália que a onda de revitalização da viticultura local se revela mais vibrante.

Das 1.368 variedades detalhadas no livro "Wine Grapes", da crítica inglesa Jancis Robinson, 380 são nativas desse país.

Além de uvas famosas pelos vinhos que produzem, como a nebbiolo (Barolo) e a sangiovese (Chianti), há dezenas de castas locais que começam a ser recuperadas.

No Piemonte, a Folha provou vinhos de sete variedades que quase desapareceram, como a branca timorasso.

A região do Vêneto está redescobrindo a branca grapariol e, no Valle D'Aosta, ressurge a tinta primetta.

Na Espanha, com a maior área de vinhedos do planeta, produtores se empenham em salvar variedades ibéricas.

Em Mallorca, Toni Gelabert recuperou a giró blanc a partir de só 200 plantas remanescentes. Hoje, existem seis hectares da casta.

Sucesso maior teve a branca godello, na Galícia. Quase extinta nos anos 70, ganhou reputação e popularidade em sua região. Bem-sucedida, a godello chamou a atenção de produtores de peso, como Telmo Rodriguez.

UVA COMO PATRIMÔNIO

O principal motivo que move os produtores é a consciência de preservar um patrimônio genético e histórico. "O vinho serve como âncora cultural de um lugar", diz Benoit Tarlant, produtor de Champagne, na França.

Neste ano, ele lança o rótulo BAM!, o primeiro feito com as raras petit meslier, arbanne e pinot blanc.

Estas variedades antigas foram abandonadas em favor da chardonnay e da pinot noir, que hoje dominam os vinhedos da região. "Apesar da qualidade, a produtividade da petit meslier é irregular, por isso foi deixada pra trás."

A baixa produtividade e o cultivo difícil são algumas causas para o abandono de uvas nativas. "A arbanne rende 50% menos que a pinot noir e amadurece mal", conta Michel Drappier.

Seu Quattuor leva as três castas raras -juntas, elas representam só 0,29% dos vinhedos de Champagne.

Em comum, esses vinhos têm produção limitada. Em Portugal, o enólogo Paulo Laureano lançou em 2012 menos de 3.000 garrafas de seu vinho de tinta grossa.

Tudo isso, evidentemente, torna o produto mais caro.

PEQUENO, MAS FORTE

Embora obtenham altas pontuações, esses vinhos ainda enfrentam obstáculos para chegar ao mercado. E não apenas por conta do preço.

"É difícil convencer consumidores menos abertos a provar vinhos desconhecidos", diz José Seródio, da portuguesa Wine & Soul, cujo tinto Quinta da Manoella VV tem uvas nativas do Douro.

Sim, a onda de recuperação dessas uvas está em fase inicial, mas não deve ser subestimada. Além de novas variedades, emergem diversas regiões vinícolas.

"Esse movimento não é apenas uma tendência", ressalta Jancis Robinson. "Está em sintonia com a atenção à comida local e com nossa consciência cada vez maior da importância da biodiversidade."


Veículo: Folha de S.Paulo


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