A parceria entre a maior fabricante de cervejas do país e a líder do setor de alimentos vai começar em fevereiro. A Ambev vai distribuir as águas Pureza Vital e São Lourenço da Nestlé.

O acordo, aprovado na semana passada pelo Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), prevê que a Ambev distribua as duas marcas da multinacional suíça no pequeno varejo dos Estados da região Sudeste, além de Paraná e Bahia. Hoje as duas marcas de água da Nestlé estão apenas nas cidades de São Paulo e Rio.

Com o acordo, deverão ser atingidos novos 450 mil pontos de venda. A importância da parceria, diz o diretor da Nestlé Waters, Alexandre Carreteiro, é ampliar a presença da marca em canais de venda como bares, lanchonetes, mercearias e pequenos supermercados com até quatro caixas registradoras, onde a Nestlé não tem presença forte. Estes pontos representam cerca de 80% das vendas, em valor, do mercado de água mineral. Os restantes 20%, que correspondem à distribuição para grandes redes de supermercados, continuarão sob o controle da Nestlé.

O mercado de água mineral no país está pulverizado em 589 empresas, que produzem 422 marcas, essencialmente regionais, segundo a Associação Brasileira da Indústria de Água Mineral (Abinam). A Nestlé Waters, a divisão global de águas da companhia, é considerada líder, com 10,5% do volume vendido no mundo. No Brasil, enfrenta muitos concorrentes - tem 8% das vendas na cidade de São Paulo, mas apenas 1,8% do mercado nacional.

As maiores engarrafadoras de água, em 2010, eram o Grupo Edson Queiroz, com 12,8% (com as marcas Indaiá e Minalba); Kirin, com 2,9% (Schin); Ouro Fino, com 2,5%, (Ouro Fino); Coca-Cola, com 2,3% (Crystal); e a Nestlé Waters, com 1,8% (São Lourenço, Petrópolis, Pureza Vital).

A parceria de distribuição entre Ambev e Nestlé já é a terceira na região da América Latina. As duas empresas operam juntas no México e na Argentina. E deverá alavancar a presença da suíça no mercado de águas brasileiro.

"Faltava água no nosso portfólio", diz o vice-presidente de refrigerantes e não carbonatados, Ricardo Moreira. A cervejaria incluiu em 2011, o energético Fusion em seu portfólio e agora estuda a categoria de sucos. "A meta é aumentar o portfólio de bebidas não alcoólicas", diz Moreira. A Ambev já distribuiu a marca Fratelli Vita, do grupo Cawamar.

"A ideia é, no mínimo, dobrar a presença em pontos de venda e para isso precisamos de logística", diz Carreteiro, que iniciou a carreira na Nestlé em 2002, na área de finanças na sede em Vevey (Suíça). Em 2005, o executivo migrou para a subsidiária de águas, tendo trabalhado em diversos países da Europa até março deste ano, quando assumiu o posto no Brasil.

No País, a Nestlé possui em seu portfólio seis marcas, cada uma com um posicionamento, preço e canal de distribuição diferentes. As marcas importadas San Pellegrino e Aqua Panna são focadas em restaurantes de alta gastronomia e a Perrier é distribuída em casas noturnas. A Petrópolis é uma marca regional, com presença no Estado do Rio, enquanto a São Lourenço e a Pureza Vital deverão ser, com o avanço da distribuição, marcas presente em vários Estados. A distribuição para o pequeno varejo vai contemplar embalagens de até dois litros.

Ampliar a distribuição da Pureza Vital (Pure Life), uma das marcas globais da Nestlé presente em 30 países, no ano que antecede a Copa do Mundo é estratégico para a companhia. "É um bom momento para os consumidores conhecerem - e reconhecerem - a nossa marca".

Segundo balanço dos nove primeiros meses do ano, a Nestlé Waters representa 8,28% das vendas globais do grupo, de 67,6 bilhões de francos suíços (US$ 74,3 bilhões). "Brasil e China são mercados estratégicos, com taxas de crescimento de dois dígitos, e os investimentos não vão parar por aí", diz Carreteiro.

O mercado de água mineral no Brasil é atraente. Movimentou 13 bilhões de litros em 2011 e faturou US$ 8,2 bilhões - 60% do total em galões de 10 e 20 litros, segundo os dados da Zenith Internacional. Dados preliminares da Abinam para 2012 indicam que o setor teve o melhor desempenho do segundo semestre nos últimos 15 anos, com crescimento de 22% sobre igual período do ano anterior.

O Brasil está em décima posição no ranking entre os maiores do mundo em volume movimentado, porém tem consumo per capita ainda baixo, de 65 litros por ano, se comparado aos vizinhos argentinos, que consomem o dobro.

Embora a Ambev tenha um programa de compartilhamento de frota, que divide custos de logística, com fabricantes de bens de consumo, a parceria com a Nestlé não se enquadra nesse modelo. Também não se assemelha à parceria com a Pepsico, que tem seus refrigerantes engarrafados pela Ambev.



Veículo: Valor Econômico