A saideira dos pubs

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Vitimados pela bebida mais barata dos supermercados e pela especulação imobiliária, 12 tradicionais bares britânicos fecham suas portas a cada semana.
 

Livros já foram escritos em suas mesas, artistas e músicos fizeram de seus balcões o ponto de encontro preferido. Por ano, recebem 13 milhões de turistas. Apesar disso tudo, os pubs britânicos correm sério risco de extinção. Desde 2008, 4,5 mil cerraram suas portas. O ritmo de fechamento diminuiu mais recentemente, é certo, mas 12 pubs encerram suas atividades todas as semanas no Reino Unido. Bebidas mais em conta vendidas nos supermercados e a proibição do fumo em locais fechados são os primeiros motivos que saem da boca dos sobreviventes na hora de justificar a queda desse setor. Mas há outras fontes despejando água no chope dos pubs.

Para os que controlam esses estabelecimentos e pensam apenas com a calculadora na mão, manter uma casa aberta é jogar dinheiro fora. Muito mais vantajoso é fechar o pub, reformar o imóvel e revendê-lo para construtoras, hotéis, supermercados ou lojas de conveniência. Em média, o valor do imóvel bate fácil nos £ 10 milhões (R$ 31,7 milhões). Isso tem seduzido os proprietários e vitimado os negócios. Um dos próximos a colocar a placa “out of business” na fachada é o pub Castle Battersea, em Londres. “Apesar das pressões da comunidade, não devemos permanecer abertos por muito tempo”, diz Aaron Tumata, gerente do pub. “Fazemos parte da rede da Young’s, que vê o negócio friamente e detesta perder dinheiro.”

Pertencer a uma rede embute outros perigos. Há, no Reino Unido, um sistema batizado de “beer tie” (ligação da cerveja). Por meio dele, os arrendatários dos pubs são obrigados a comprar seus produtos de determinado fornecedor. “Eles chegam a pagar o dobro do que é cobrado no mercado aberto”, diz Simon Clarke, um dos líderes do movimento Fair Pint (Copo Justo), que luta contra a existência desse sistema. Segundo ele, metade dos pubs corre risco de virar espuma por conta dos apertos da “beer tie”. Outro fator que impulsiona os pubs para o abismo são os impostos sobre bebidas no Reino Unido. Desde 2004, os valores subiram mais de 50%. Com isso, o consumo caiu 23% no mesmo período.

“Nós, britânicos, pagamos 40% do imposto recolhido com cerveja na zona do euro, mas bebemos só 13% desse total”, diz David Wilson, diretor da Associação Britânica da Cerveja e dos Pubs. A soma desses fatores fez com que, em julho, o Cross Keys cobrisse suas janelas com tapumes. Com 300 anos de vida, ele era o mais antigo pub do bairro londrino de Chelsea. Suas cadeiras já foram ocupadas pela escritora Agatha Christie, pelo poeta Dylan Thomas e por todos os integrantes da banda Rolling Stones, Mick Jagger e Keith Richards à frente. Em seus andares superiores estão os salões que abrigaram festas de despedida de solteira de Kate Middleton, mulher do príncipe William. Toda essa história pode virar pó caso o acordo entre os ex-donos e uma imobiliária seja cumprido. O pub vai dar lugar a um edifício residencial.

Mas nem tudo está perdido. Os vizinhos não estão deixando seus pubs morrer sem sangue, suor e cerveja. No caso do Cross Keys, criaram um site, que até a quarta-feira 15 havia coletado 2.043 assinaturas pedindo a volta do pub. Mais comovente é a iniciativa dos vizinhos do pub Crook Inn, de Tweedsmuir, na Escócia. Por meio de rifas e jantares beneficentes, eles já conseguiram arrecadar £ 56,7 mil. Precisam chegar a £ 160 mil para comprar o ponto e preservar o estabelecimento. Medidas como essa ajudam a lembrar que “pub” é a forma reduzida de “public house”, ou casa pública. Quando um deles morre, não é apenas um bar que deixa de existir, é o centro gravitacional da comunidade que vai embora.

 
Veículo: Revista Isto É Dinheiro


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