Carrefour descarta sair do Brasil e diz que vai aumentar investimentos

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Presidente desmente rumores de venda das operações e afirma que meta é que país seja o segundo no mundo em vendas do grupo

 

O presidente do Carrefour no Brasil, Jean Marc Pueyo, é categórico. As operações brasileiras não estão à venda. "Por que o Carrefour colocaria tanto dinheiro no Brasil se tivesse a intenção de vender? Não, nós não vamos vender", diz Pueyo, 55. Desde 2006 à frente de uma operação que exibe taxas de crescimento de 14% a 15% ao ano, Pueyo diz que uma de suas ambições é passar a Espanha e se consolidar como a segunda maior operação do grupo Carrefour no mundo, atrás apenas da França. Hoje, o Brasil é o terceiro em vendas. Presidente mais duradouro na história recente do Carrefour -os três antecessores não ficaram mais de dois anos no cargo-, Pueyo diz adorar o Brasil. Está, com a mulher, também francesa, em processo de obtenção de cidadania brasileira e afirma que nem pensa em deixar o país.

 

FOLHA - No final do ano passado, surgiram rumores de que o Carrefour sairia do Brasil, por pressão de um grupo de acionistas. Os rumores voltaram recentemente. Existe essa pressão?
JEAN MARC PUEYO - Como presidente do Carrefour Brasil, não tive nenhuma informação. Mas, com tudo o que estamos fazendo, com todo o nosso crescimento e investimentos, não vejo o grupo fazer esse tipo de operação. Nosso presidente, Lars Olofsson, já declarou de maneira clara que temos uma prioridade. Antigamente ela se chamava G4 (França, Espanha, Itália e Bélgica). Agora se chama G6, com Brasil e China. E posso dizer que, quando você está com esse nível de importância, há ônus e bônus.

 

FOLHA - As cobranças são maiores?
PUEYO - Não sei se é questão de cobrança. Os objetivos são maiores, os investimentos, também. Temos que ter um retorno adequado aos investimentos que fazemos.

 

FOLHA - O sr. falou de ônus e bônus.
PUEYO - Não é cobrança, é mais responsabilidade. É diferente.

 

FOLHA - Mas chegou a ter alguma proposta de aquisição?
PUEYO - Posso repetir uma vez mais? Se teve, não tive nenhuma informação.

 

FOLHA - Imagino que o sr. teria sido informado...
PUEYO - Eu acho que saberia. Agora, que alguns tenham a ideia, que tenham vontade de fazer, aí pode ser.

 

FOLHA - Tudo tem um preço. Uma coisa é uma proposta que não interessa. Se a pessoa está disposta a pagar...
PUEYO - Por que o Carrefour colocaria tanto dinheiro no Brasil se tivesse a intenção de vender? A empresa está mais empenhada em investir fortemente e crescer. Não faz sentido vender a operação do Brasil.

 

FOLHA - Vocês saíram da Rússia.
PUEYO - Não tem nada a ver. Eles só tinham duas lojas. A nossa meta é estar sempre entre os três maiores dentro de um país. Na Rússia, era possível atingir isso, mas significava investir muito dinheiro, o que, neste momento de crise, não parece muito oportuno. Estamos no Brasil há 35 anos.

 

FOLHA - Essa não é a primeira vez que se fala de uma eventual saída do Brasil. Em 2006, houve um rumor parecido.
PUEYO - Naquela época, ficamos tentando entender de onde vinha o boato. E então, seis a oito meses depois, compramos o Atacadão. Foi interessante. Vamos vender, mas vamos investir "somente" R$ 2,2 bilhões. Não, nós não vamos vender.

 

FOLHA - O Walmart anunciou R$ 2 bilhões de investimentos para este ano. O Pão de Açúcar, algo como R$ 1,5 bilhão. Como fazer frente a essa concorrência agressiva em um momento em que Paris está com o freio de mão puxado?
PUEYO - Desculpe-me, Paris está com freio de mão puxado talvez em razão de questões no grupo. Mas estamos investindo mais que no nosso plano inicial. Aumentamos de R$ 1 bilhão por ano, que foi o que investimos nos últimos dois anos, para o nível de R$ 1,25 bilhão neste ano e no próximo. Como fazer para concorrer com os outros? Não sei, vamos ver se os outros vão mesmo fazer o que estão prometendo. Nós crescemos entre 14% e 15%, a taxa constante, nos últimos três anos. Com rentabilidade. Se os outros vão crescer, faz parte. Estão todos apostando no potencial deste país.

 

FOLHA - A aquisição do Atacadão permitiu a vocês manter a liderança a partir de 2007. A disputa para 2009 está apertada. Vocês vão conseguir manter a liderança?
PUEYO - Se considerar o Pão de Açúcar sem o Ponto Frio e as Casas Bahia, a gente continua na frente. E acredito que a distância foi ampliada. Nosso crescimento em valor ficou acima do do Pão de Açúcar. Vamos saber isso no dia 19, quando for divulgado o balanço anual do Carrefour.

 

FOLHA - Como está o Brasil na comparação com os outros integrantes do G6?
PUEYO - Em termos de venda, o Brasil é hoje o terceiro país para o grupo. E estamos imaginando que vamos -é a nossa ambição- superar a Espanha no final de 2011. A meta era para 2012 e antecipamos. Estamos fazendo tudo para ser a segunda operação. Isso sem falar em aquisição. Nunca se sabe.

 

FOLHA - E para onde vão os investimentos? Aquisições estão no radar?
PUEYO - Estamos sempre atentos a qualquer oportunidade. Mas não vamos pagar qualquer preço. Em termos de expansão, vamos abrir em torno de 70 lojas, sendo conservador. Em todos os formatos, mas com foco maior nas lojas de proximidade, com o Dia%, e no Atacadão. Temos nos voltado muito para o Nordeste. Em quatro anos, saímos de uma participação de 7% para 17%. Já estamos presentes em 20 Estados brasileiros. Neste ano, vamos agregar o Pará e mais um ou dois. Até 2011, queremos estar presentes em todos os Estados.

 

FOLHA - Vocês estão se preparando para estrear na internet. Por que o Carrefour demorou tanto tempo?
PUEYO - No final de 2005, iniciamos um processo de reestruturação e tínhamos outras prioridades. Mas vamos lançar o site até o final de março. Começamos com não alimentos e vamos entregar produtos no Brasil inteiro, até onde não tem Carrefour. Isso não significa que um dia não vamos entrar em alimentos.

 

FOLHA - Como o sr. vê a economia do Brasil hoje?
PUEYO - Estou otimista, mas não vou ser otimista demais. Sabemos que há limites ao crescimento, em termos de infraestrutura. Mas tenho confiança no governo e nas instituições para que isso seja ajustado.

 

FOLHA - As eleições são um motivo de preocupação?
PUEYO - Não, o Brasil amadureceu bastante. A preocupação da matriz com o Brasil é outra: crescer, crescer, crescer.

 

FOLHA - Na sua opinião, onde está o grande potencial de crescimento no Brasil hoje?
PUEYO - Hoje, há duas alavancas que são muito boas para o nosso negócio. O aumento do poder de compra das classes C e D e a diminuição da informalidade. Hoje, no Brasil, o mercado formal representa 50% do mercado total. E os três maiores varejistas têm no máximo 40% dos 50%, ou 20% do total do Brasil. É uma concentração muito baixa. E você tem um movimento de substituição tributária que está levando a uma formalização do negócio. Acredito que, em dois ou três anos, o mercado formal deverá ocupar entre 60% e 70%.

 

FOLHA - O sr. é o presidente que está há mais tempo no cargo na história recente do Carrefour. Pretende ficar muito mais tempo no Brasil?
PUEYO - Não tenho data para voltar. Com o resultado que a minha equipe conseguiu entregar nos últimos três, quatro anos, há muita confiança, e, é claro, tem outras coisas para fazer em outros países. Mas hoje estou muito bem aqui, minha família também. Em breve, eu e minha mulher devemos ganhar a cidadania brasileira.

 


Veículo: Folha de S.Paulo


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