Dólar desinflado

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Moeda americana cai 2,62%, a R$ 3,306, com movimento global e declarações de Ilan Goldfajn “Ele (Ilan Goldfajn) sinalizou que o objetivo de trazer a inflação para o centro da meta em 2017 é crível” Paulo Gomes Economista-chefe da Azimut



 O dólar fechou na menor cotação em 11 meses após o novo presidente do BC, Ilan Goldfajn, sinalizar que não vai reduzir os juros a curto prazo. A recuperação das bolsas globais também influenciou. Depois de a onda de pessimismo com o Brexit ter levado as Bolsas do mundo todo a perderem US$ 3 trilhões em apenas dois pregões, os mercados ontem tiveram um dia de alívio, devido à expectativa de uma possível ação conjunta de bancos centrais para fortalecer o sistema financeiro. Na Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa), o índice de referência Ibovespa avançou 1,55%, aos 50.006 pontos. No câmbio, o dólar comercial fechou em queda de 2,62% contra o real, a R$ 3,306, acompanhando a tendência global e reagindo à fala do novo presidente do Banco Central (BC) sobre a inflação. Foi o menor valor para fechamento desde 23 de julho de 2015. Na mínima da sessão, a moeda atingiu R$ 3,302.

Na Europa, onde alguns índices acumularam desvalorização superior a 10% na sexta e na segunda-feira, depois de o Reino Unido votar pela saída da União Europeia (UE), as Bolsas subiram em torno de 2%. O índice de referência do continente, o Euro Stoxx 50, teve valorização de 2,27%, enquanto a Bolsa de Londres avançou 2,64%. Em Paris, a alta foi de 2,61%, e em Frankfurt, de 1,93%. Em Wall Street, o Dow Jones subiu 1,57%, e o S&P 500 registrou alta de 1,78%. O Nasdaq ganhou 2,12%.

— O mercado está acompanhando a tendência global, que tem pregão de recuperação. Existe uma expectativa de que haja injeção de liquidez por parte dos bancos centrais, mas o movimento de hoje (ontem) parece ser mesmo de correção de preços. Enquanto o mercado não entender melhor as implicações do Brexit, vamos vivenciar um período de grande volatilidade — afirmou Ricardo Zeno, sócio-diretor da AZ Investimentos.

CORTE DE JUROS FICARIA PARA DEPOIS

Durante o dia, bancos centrais emitiram sinais de que estão dispostos a dar apoio à economia. O Banco da Inglaterra injetou 3,1 bilhões de libras no sistema bancário britânico, e o presidente do Banco Central Europeu (BCE), Mario Draghi, fez um apelo para que os BCs globais alinhassem suas políticas monetárias para impedir “contágios desestabilizadores”.

Com o clima de correção de preços, o dólar caiu 0,52% contra uma cesta de dez moedas. Frente ao real, porém, a queda foi maior, depois de o novo presidente do BC, Ilan Goldfajn, afirmar que a autoridade monetária fará o que for preciso para alcançar o centro da meta de inflação, de 4,5% no ano que vem. Apenas o peso argentino subiu mais frente ao dólar ontem.

Para Paulo Gomes, economista-chefe da Azimut, a postura de Goldfajn é uma sinalização positiva para o fluxo de investimento para o Brasil no futuro, e por isso o dólar cai.

— Ele sinalizou que o objetivo de trazer a inflação para o centro da meta em 2017 é crível, deixando em aberto a possibilidade de os juros ficarem mais altos por mais tempo. Isso significa mais fluxo de investimento para Brasil, já que nosso diferencial de juros, na comparação com outros mercados, permanecerá alto. Sobretudo depois do Brexit, que deve fazer com que os EUA posterguem a elevação dos seus juros — explicou Gomes. — Mais uma vez, apesar da queda forte do dólar, o BC não anunciou leilões no mercado de câmbio. O estilo de condução da política cambial vai em linha com a escola de economia da PUC-Rio, de onde vem o Ilan, que defende uma menor intervenção na economia. Pode até ser que ele venha a intervir novamente, reagindo a algum exagero. Mas acredito que ele vai tentar postergar isso ao máximo.

O recuo do dólar movimentou as casas de câmbio ontem. Nos locais pesquisados pelo GLOBO, a cotação da divisa em papel-moeda variava entre R$ 3,45 e R$ 3,58, já com o Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) de 1,1%. No cartão pré-pago, o valor ia de R$ 3,66 a R$ 3,72 (com IOF de 6,38%). As casas de câmbio relataram forte procura — em uma delas, o dólar se esgotou —, inclusive da libra, cotada entre R$ 4,73 e R$ 4,88.

PETRÓLEO E MINÉRIO AJUDAM BOLSA


Já o mercado de juros refletiu o relatório trimestral de inflação, divulgado ontem pelo BC. A interpretação dos analistas é que, ao afirmar que “decisões futuras de política monetária serão tomadas, com vistas a assegurar a convergência da inflação para a meta de 4,5%” no fim do ano que vem, o BC indicou que está longe de reduzir a taxa básica de juros, a Selic, hoje em 14,25% ao ano.

O contrato DI com vencimento em janeiro de 2017 subiu de 13,65% para 13,84% — o número reflete a expectativa dos investidores sobre o nível da Selic naquele período. Se o BC vai manter os juros mais apertados por mais tempo, os investidores acreditam que, a longo prazo, há mais espaço para a taxa cair. Por isso o DI que vence em janeiro de 2021 caiu de 12,23% para 12,10%.

No mercado acionário, puxou a alta do Ibovespa o desempenho das empresas ligadas a commodities, cujos preços internacionais se recuperaram. A Petrobras PN avançou 4,78% (R$ 9,20), enquanto a ON teve alta de 4,17% (R$ 11,25), graças ao ganho de 3% no barril do tipo Brent, a US$ 48,58. A Vale ON avançou 4,46%, a R$ 15,46, e a PNA valorizou-se em 4,75%, valendo R$ 12,56, depois de o minério de ferro ter saltado 6,42%, a US$ 53,86 a tonelada.

Veículo: Jornal O Globo


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