Para inflação cair, desemprego precisa aumentar

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A taxa de desemprego teria que chegar ao nível de 7,5% a 8,5% da População Economicamente Ativa (PEA) no decorrer de 2015 para que a taxa de inflação recuasse em 2016 para o centro da meta, de 4,5%, conforme deseja o Banco Central (BC). Ao mesmo tempo, o rendimento médio teria que encolher de 3% a 5%, segundo analistas consultados pelo Broadcast, serviço em tempo real da Agência Estado. Polêmica, a tese recebe a defesa de economistas que acreditam que a resiliência da inflação de serviços só pode ser combativa com um ajuste do mercado de trabalho e na renda das famílias.

Defensor dessa teoria, André Perfeito, o economista-chefe da Gradual Investimentos acredita que o mercado de trabalho se tornou a principal variável de ajuste da economia. Segundo ele, a taxa de desemprego medida pela Pesquisa Mensal de Empregos (PME) teria que avançar do patamar atual de 5,9% em fevereiro para algo entre 7,5% a 8,5% para que o IPCA voltasse aos 4,5% ao ano. Além disso, explica, o salário médio no País teria que ser reduzido de 3% a 5% ao longo do período.

O ex-diretor de Assuntos Internacionais do BC, o economista e sócio da Schwartsman & Associados, Alexandre Schwartsman, foi um dos primeiros economistas a defender o ajuste da economia por meio do mercado de trabalho. Após defender por vários meses o aumento do desemprego para arrefecer o ímpeto da inflação, em agosto do ano passado o ex-diretor do BC calculou que para que a autoridade monetária possa entregar em 2016 uma taxa de inflação de 4,5% seria necessário que 8,5% da população brasileira economicamente ativa ficasse sem emprego no País.

"Infelizmente, eu estava certo. Quanto ao número, chegamos a fazer uma estimativa no ano passado, sugerindo que o desemprego (PME) teria que subir até 8,5% em 2015 para trazer a inflação para a meta em 2016, caso as expectativas não se alterassem", disse Schwartsman. Segundo ele, caso a inflação convirja para a meta em 2016, a taxa de desemprego teria que permanecer em 7%.

Uma variável que as avaliações sobre inflação muitas vezes costumam deixar de fora, segundo o economista Marcel Caparoz, da RC Consultores, são os programas de transferência de renda no Brasil. De acordo com ele, na esteira destes programas são distribuídos mensalmente 60 milhões de contracheques. "Isso é renda que entra no mercado e vai para o consumo independente de mercado de trabalho. Para fazer uma blindagem do efeito deste tipo de renda no consumo de bens e serviços, é preciso que o desemprego cresça e a renda caia", afirma o economista.

Na avaliação de Caparoz, para neutralizar parte do efeito dos programas de transferência de renda sobre a inflação, a taxa de desemprego medida pela Pnad teria que superar os 8%, patamar em que o desemprego começa a mexer no psicológico da população. "É a partir daí que as pessoas começam a pisar no freio e a reduzir gastos por medo de perder seus empregos", disse.

Para o economista-chefe da Saga Capital, Marcelo Castello Branco o que determina a relação entre essas variáveis - desemprego e inflação - não é apenas o nível, mas a trajetória e o tempo em que elas permanecem em determinado patamar. "Fazer a taxa de desemprego chegar rapidamente em um nível maior e fazê-la permanecer neste patamar pode fazer com que a inflação ceda de modo mais rápido e pronunciada", disse.

Ele considera ainda que a taxa de "sacrifício" da política monetária restritiva necessária para controlar a inflação torna-se maior quanto menos tempo disponível houver. "De acordo com alguma hipótese que façamos quanto à estrutura do modelo, podemos ter resultados um pouco diferentes, mas acho que para a inflação recuar ao centro da meta, em 2016, seria necessário que a taxa de desemprego atingisse um patamar um pouco acima de 8%, e permanecesse nesse nível por um tempo considerável", analisou Castello Branco.

Os sinais já existentes de enfraquecimento do mercado de trabalho podem ficar mais claros sobre a inflação no ano que vem diz Fábio Romão, da LCA Consultores. Ele ressalva, no entanto, que ainda deve ser insuficiente para fazer o IPCA convergir para o centro da meta. "É bem provável que tenhamos uma inflação menor em 2016, tanto pelo lado dos administrados como pelo lado de livres e serviços, por causa da atividade mais enfraquecida. No entanto, não acredito que ela atinja 4,5%, mas deve ter uma desaceleração de 8,10% (2015) para algo entre 5% e 5,50%, estimou. Mesmo para 2017 Romão ainda espera um IPCA de 4,9%, chegando no centro da meta apenas em 2018 e 2019", completou.

Com atividade perdendo fôlego, o economista da LCA disse esperar que a taxa de ocupação encolha novamente ao longo deste ano, para uma queda de 0,2%, após recuo de 0,1% no ano passado, devendo ajudar a abrandar o quadro de pressão inflacionária. "É bem pior (-0,2%), pois em 2014 a base de comparação era maior. Deve cair 0,2% em cima de uma base enfraquecida. E isso tem impacto sobre o rendimento. Em paralelo, tem a inflação, que vem se acelerando e deve-se manter acima de 8% ao longo do ano, e atrapalhar os ganhos reais dos trabalhadores", disse.

Também para o economista Rodrigo Soares de Abreu, da Caixa Asset Management, para que a inflação de serviços diminua para a faixa de 6%, a taxa de desemprego deveria subir para ao redor de 8 00%. Neste ano, ele projeta 7,50% para a taxa de desemprego (PME). "Tem o imponderável que pode prejudicar o emprego, como o ajuste fiscal, a Operação Lava Jato, que tende a gerar um programa de demissões e de contratações com salários mais baixos", disse. Nesse cenário, a inflação de serviços recuaria a 7% ou 7,5% em 2015.

O economista explica que o arrefecimento em serviços não deve ser maior devido à inércia estrutural. "É um tema que tem ocupado muito as pautas dos economistas recentemente, que é tentar medir o tamanho dessa inércia, o por quê dessa letargia, da não convergência da inflação de serviços. Os reajustes de salários nominais ainda são elevados, tem a indexação", explicou.



Veículo: Diário de Pernambuco


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