Forte alta do dólar estrangula o bolso

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Moeda dos EUA passa de R$ 3 ao longo do dia e fecha a R$ 2,981, maior valor em 11 anos. Preços do pão, das viagens internacionais, dos importados e da energia vão aumentar

 



Diante do impasse político para a aprovação das medidas de ajuste fiscal, o dólar acelerou a escalada ontem e passou dos R$ 3 na máxima do dia, fechando o pregão com alta de 1,80%, cotado a R$ 2,981. É a maior cotação desde 19 de agosto de 2004, quando atingiu R$ 2,987. No mercado futuro, a moeda chegou a R$ 3,245 por conta da expectativa de que o Brasil perca o grau de investimento se não conseguir impor austeridade fiscal. Nas casas de câmbio de Belo Horizonte, o dólar está ainda mais alto e já é vendido de R$ 3,16 a R$ 3,35. Com a disparada da moeda norte-americana, os impactos reais são a inflação mais alta e a perda do poder de compra dos brasileiros.

As famílias, que já estão com poder de compra menor por conta do aumento de preços administrados como energia e combustíveis, devem sentir no bolso essa alta do dólar. O consumidor brasileiro pode se surpreender com o aumento de preços de alguns produtos importados e ainda daqueles que são fabricados aqui, mas que utilizam insumos como o trigo, que vem de outros países. De acordo com o presidente do Sindicato e Associação Mineira da Indústria de Pães (Amipão) e do Sindicato das Industrias de Panificação (Sipe), José Batista de Oliveira, os empresários do setor ainda não sentiram os impactos da alta da moeda estrangeira por conta dos estoques reguladores dos moinhos que fornecem farinha para a indústria e ainda não repassaram o aumento. “Estamos apreensivos pois já recebemos o aumento da energia elétrica e agora do dólar. Vamos tentar repassar o mínimo possível para o consumidor final, mas nos próximos dias ele pode sentir uma alta entre 15% e 20% no preço dos produtos de padaria”, ressalta.

Nos supermercados, caso o dólar continue se valorizando, passando dos R$ 3, os preços vão subir. O superintendente da Associação Mineira de Supermercados (Amis), Adilson Rodrigues, afirma que o setor ainda trabalha com câmbio na casa de R$ 2,80, mas a expectativa é aumentar nos próximos dias se o governo não adotar medidas que desvalorizem a moeda estrangeira. Em Minas, dos produtos expostos nas gondolas de supermercado, uma média de 4% são importados, mas existem redes que chegam a ter mais de 70% dos produtos vindos do exterior. No país, a média fica na casa de 30%. Além disso, ele acrescenta que muitos insumos utilizados pela indústria brasileira são importados e essas devem repassar os custos para os supermercados que transferiram algum percentual da alta para os clientes. “A cesta básica, por exemplo, tem muitos produtos que são vendidos como commodities. E, se o dólar sobe muito, o produtor vai ter mais interesse em exportar e o preço no mercado interno também vai subir, atingindo também o consumidor final”, explica.

A venda de pacotes de viagens internacionais também devem sofrer impacto. Segundo o presidente da Associação Brasileira de Agências de Viagens de Minas Gerais (Abav-Minas), Antônio da Matta, entre março e abril o setor deve registrar queda de 10% nas vendas. Para driblar o aumento, ele afirma que o turista que pensa em fazer uma viagem ao exterior deve ficar atento as promoções de passagens aéreas. “A alta impacta e afugenta o turista brasileiro que pensa em sair do país, mas ainda assim é possível fazer viagens com preços em conta. Principalmente, se ele conseguir uma passagem na promoção, o que tem se tornado habitual com o aumento da oferta de voos”, completa.

empobrecimento Na avaliação de Silvio Campos Neto, economista da Tendências Consultoria, a alta do dólar terá impacto direto no empobrecimento do país. “O poder de compra dos brasileiros fica menor porque aumenta a pressão nos custos dos produtos”, explicou. Campos Neto ressaltou, contudo, que a velocidade do repasse pode variar. “O Brasil está em recessão. Como a situação não está boa, comércio e indústria tendem a absorver esse maior custo. Mas isso enfraquece a economia, porque as margens de lucro das empresas, que já estão deprimidas, caem ainda mais”, sentenciou. Sem lucros, a tendência é as companhias demitirem funcionários.

A alta da moeda dos EUA vai afetar do preço do pão e das passagens aéreas a outros custos que estão estrangulando o orçamento das famílias brasileiras. As faturas de cartão de crédito das compras no exterior, sobre as quais incide o Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) de 6,38%, também disparam com o dólar alto. A energia gerada em Itaipu e consumida nas regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste é cotada em dólar e isso pode significar mais um aumento nas tarifas, que já subiram bastante desde 2014. As empresas também terão suas dívidas de US$ 210 bilhões, o maior patamar desde 2009, elevadas porque elas precisarão de mais reais para pagar juros e isso acaba sendo repassado aos consumidores.



Veículo: Estado de Minas


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