Setor privado apoia aperto de contas do governo e fala em planejamento

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Representantes de empresas em diversos setores afirmam estar "realistas" com o cenário econômico e que melhoria dos negócios depende mais de medidas internas do que incentivos

 



O setor privado deve ser mais paciente com o governo federal neste ano. Para representantes de grandes empresas, o cenário de como será 2015 está mais visível e "arrumar" as finanças públicas seria, neste momento, mais importante do que medidas de incentivo.

O sócio líder da consultoria McKinsey, Bruno de Lima Furtado, entende que, neste cenário de crise, a retomada do crescimento de cada negócio depende de uma mudança de estratégia interna, inclusive para a pequena ou média empresa.

"Todos ficaram muito frustrados com a Copa do Mundo em 2014. E agora, o mercado prevê um ano difícil. Mas o segredo não é tirar o pé para investimento, é tentar ser o melhor", disse ao DCI, após participar do Seminário Perspectivas Comerciais, Econômicas e Políticas para 2015, realizado ontem pela Câmara Americana de Comércio (Amcham).

Segundo ele, as empresas brasileiras se acostumaram a crescer "sem grandes sofisticações", ou seja, sem grandes investimentos em seus negócios. Mas, com a desaceleração econômica ao mesmo tempo em que surgem mais competidores internacionais, para ter um crescimento sustentável, o ideal é reformular as estratégias, tais como capacitar seus funcionários e vislumbrar novas formas de precificação. "O certo é parar, olhar um pouco para dentro, porque agora o campeonato é mais duro", resume.

No caso da pequena empresa, ele reconhece que, principalmente referente à precificação - isto é, como calcular o preço de venda -, as medidas internas precisam da orientação de um especialista, o que gera custos. Porém, a capacitação do dono do estabelecimento pode ser algo a resolver essa situação.

"Calcular preços é uma área que todos têm medo de tocar. É como uma operação no coração. Se mudar o preço pelo lado errado ou perde dinheiro ou destrói suas vendas. Por isso, precisa de nível de sofisticação muito maior. De fato, com relação ao pequeno empresário, fica mais complicado, porque ou terão que contratar especialistas mais baratos ou pensar por eles mesmos. Mas essa questão deve estar na agenda dos empresários", explica o especialista.

Grandes empresas


Executivos de diversos setores que também participaram do seminário de ontem foram unânimes em afirmar que já estão preparados para enfrentar a estabilização, nas palavras do governo, ou estagnação, nas palavras do mercado, da economia prevista também para este ano. "Estamos otimistas, mas mais realistas", afirmou o vice-presidente de vendas da Avon, Eduardo Ribeiro, cuja frase foi repetida por todos os demais.

Mesmo no caso do diretor de marketing e vendas da Ford, Jorge Chear, a expectativa é mais positiva. "Vai ser um ano difícil, mas nosso portfólio, recentemente renovado, vai garantir a competitividade [...] Investimentos sempre pensando no longo prazo e sabemos que as medidas adotadas pelo governo federal são necessárias porque só sobrevivemos com uma economia robusta", disse o executivo.

Sobre a afirmação de especialistas de que o setor de cosméticos, um dos mais produtivos do Brasil, será o mais prejudicado por medidas anunciadas por Joaquim Levy nesta semana, Ribeiro disse que a Avon ainda não tem um posicionamento sobre isso, mas adiantou que a expectativa de vendas deve ser a mesma, sem entrar em detalhes.

O ministro da Fazenda informou que, por meio de decreto, a cobrança do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) entre o setor atacadista e a indústria da área de cosméticos foi equiparada. A estimativa do governo é de que a medida aumente a arrecadação em R$ 381 milhões de junho a dezembro deste ano.

Paulo Miri, diretor comercial da Whirlpool (dona das marcas Brastemp, Consul e KitchenAid), espera que o setor seja impactado pelo aumento da taxa de juros - a Selic está em 12,25% ao ano -, pela diminuição do crédito e, desta forma, pelo consumo das famílias. "Contudo, como a Whirlpool está no Brasil há 60 anos, já vimos de tudo. A crise vai passar e não poderemos deixar de investir", comentou o executivo, o que confirma o otimismo dos empresários presentes no seminário.

Medidas

Para o economista-chefe do Banco Fator, José Francisco de Lima Gonçalves, que também participou do evento da Amcham, uma sinalização da nova equipe econômica liderada por Joaquim Levy de que uma nova política fiscal será feita é importante para gerar mais credibilidade.

No entanto, uma série de fatores como queda dos investimentos, o esgotamento do mercado de trabalho e a consequente desaceleração de consumo, podem piorar a situação fiscal e, assim, o quadro econômico, além de que o Produto Interno Bruto (PIB) mundial ainda não retomou o crescimento. "Por isso, todo mundo e até o próprio governo está zerando as projeções para este ano", explica.

Outro palestrante, Rui Nogueira, sócio diretor da Patri Políticas Públicas, ao ser questionado sobre a dificuldade que a presidente Dilma Rousseff deve enfrentar dentro do seu partido com a série de medidas econômicas adotadas, afirmou que haverá um desgaste, mas ele não vislumbra outra alternativa se não tomar ações amargas. "Um sapo não pula por boniteza, mas por precisão", compara.




Veículo: DCI


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