Taxa média vai a 44% ao ano em outubro com a alta do 'spread', a parcela que inclui custos e ganhos dos banco. Empréstimos ficaram mais caros mesmo antes do início do novo ciclo de elevação da Selic, no fim do mês
A taxa média de juros no crédito ao consumo voltou a subir em outubro, após ter caído em setembro, e deve ficar ainda mais cara nos próximos meses, segundo o Banco Central. No mês passado, o juro do crédito ao consumidor alcançou 44% ao ano. Em dezembro de 2012, o percentual era de 34%, menor valor registrado pelo BC em sua pesquisa mensal.
Desde então, o custo dos empréstimos ficou maior, principalmente, por causa do "spread" bancário, que é a parcela da taxa que inclui custos com despesas e ganhos dos bancos. O "spread" subiu 6,5 pontos percentuais no período. O custo do dinheiro para as instituições financeiras teve alta de 3,6 pontos percentuais.
Em outubro, por exemplo, os juros bancários já estavam subindo antes mesmo de o BC iniciar um novo ciclo de aumento da taxa básica, que passou de 11% para 11,25% ao ano na última semana do mês, logo após as eleições. O chefe do Departamento Econômico do BC, Tulio Maciel, afirmou que, após um aumento da taxa básica, a reação natural do mercado é a elevação dos juros bancários --e a consequente desaceleração do crédito.
A desaceleração deve interromper aquilo que o BC vê como uma retomada do crédito ocorrida nos últimos meses. O estoque de financiamentos cresceu 12,2% nos 12 meses encerrados em outubro, segundo mês de aceleração. Em agosto, o indicador havia registrado o menor aumento das estatísticas oficiais, 11,1% em 12 meses. A mudança está relacionada ao comportamento dos bancos públicos. Nessas instituições, o crescimento em 12 meses passou de 16% em agosto para 18% em outubro. Nos bancos privados, por outro lado, manteve-se em 6%.
No BNDES (banco estatal de desenvolvimento), por exemplo, a taxa de crescimento em 12 meses passou de 10% para 16% nesse período. "O crédito continua se expandindo de forma moderada. Nos últimos meses, temos uma reação um pouco mais nítida, mas ainda é uma reação modesta", afirmou Maciel. "Há modalidades com outra dinâmica. Isso fica evidente em relação ao BNDES."
MEDIDAS
Na opinião do BC, as medidas anunciadas pelo governo desde julho contribuíram para essa reação. A instituição liberou recursos para várias modalidades, como veículos e capital de giro. Também retirou restrições a empréstimos com prazos mais longos.
Maciel afirmou que alguns fatores ainda estão segurando o aumento do crédito. Entre eles está o desempenho no segmento de veículos, que reagiu apenas nos últimos meses, e o crédito para empresas sem recursos do BNDES, que recuou entre setembro e outubro. "O menor ritmo de crescimento da economia também se reflete na evolução do crédito livre às empresas", afirmou Maciel.
O BC, no entanto, não considera que haverá aumento da inadimplência, que chegou em outubro ao menor patamar da pesquisa (2,9%). O estoque de crédito chegou a R$ 2,9 trilhões em outubro (57,3% do PIB).
Veículo: Folha de S. Paulo