A confiança do comércio caiu 8,7% no terceiro trimestre em relação a igual período de 2013, diante de uma percepção sobre demanda muito fraca. Mas um quesito especial da sondagem deste mês mostra que o mau momento das vendas, especialmente de bens duráveis como veículos, materiais de construção, móveis e eletrodomésticos, normalmente atribuído ao desempenho da economia, ganhou um ingrediente às vésperas da eleição - a incerteza política.
Em setembro, 57% dos comerciantes atribuíram ao desempenho econômico uma influência negativa sobre os negócios atuais. Já a incerteza com o cenário político foi citada por 39,7% dos empresários. Apenas 16,1% afirmaram não haver aspectos negativos.
"Isso afeta principalmente os segmentos duráveis, mais voláteis e que dependem mais de política econômica. Os que dependem mais de renda atribuem mais ao desempenho da economia", afirmou o economista Aloisio Campelo, superintendente adjunto de Ciclos Econômicos da Fundação Getúlio Vargas (FGV).
No setor de veículos, motos e peças, o desempenho da economia é limitação para 63,3% dos comerciantes, enquanto a incerteza política foi apontada por 45,8% dos empresários. No varejo de material de construção, a ordem foi a mesma: economia (47,9%) e política (46,6%).
Dentro do varejo restrito, os móveis e eletrodomésticos apontaram para o desempenho econômico (62,9%) e a incerteza política (48,5%) como entraves aos negócios. "Os vendedores culpam a economia e a política, mas não percebem que talvez seu setor esteja passando por um ciclo de baixa", citou Campelo.
Entre os que dependem da renda, o setor de tecidos, vestuário e calçados registrou um recorde: 75,5% dos varejistas apontaram o desempenho da economia como limitação aos negócios.
Incentivos - Os setores que destacaram a incerteza sobre o cenário político são aqueles que mais contam com incentivos do governo. Além da redução do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI), há o Minha Casa Melhor (que financia até R$ 5 mil em móveis, eletrodomésticos e eletroeletrônicos para famílias do Minha Casa, Minha Vida) e as recentes medidas do Banco Central para liberar crédito, mirando no financiamento de veículos.
O presidente da Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores (Fenabrave), Flávio Meneghetti, afirmou que o principal problema é o acesso ao crédito, uma vez que o apetite dos bancos por risco está reduzido mesmo com a maior disponibilidade de recursos. "Se o governo garantisse a retomada do bem (no caso de inadimplência), isso traria aumento de vendas de 30 mil veículos por mês, ou 350 mil por ano", afirmou.
Meneghetti, porém, negou que parte da incerteza seja por temor de volta do IPI. "O IPI deve voltar no começo de 2015, porque será outra administração. Mesmo que haja reeleição, é outro mandato. Além disso, é questão de cumprir a portaria do Ministério da Fazenda", explicou. "Há sim um mau humor no mercado, por conta de dúvidas em relação ao modelo econômico e sua continuidade".
O presidente da Associação Nacional dos Comerciantes de Material de Construção (Amaco), Cláudio Conz, observou que a conjuntura é complexa, pois o aumento da renda e a baixa taxa de desemprego não têm mais rendido frutos ao comércio. Os juros elevados atrapalham as vendas, assim como o endividamento das famílias.
"Só está confuso no Brasil quem está muito bem informado", brincou Conz. "Mas não tenho dúvidas de que parte disso é expectativa. Demanda tem, seja de construção ou de reforma. O momento atual é ruim, mas o cenário de médio e longo prazos é extremamente favorável".
Veículo: Diário do Comércio - MG