Alimentos elevam risco de estourar teto da inflação

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A alimentação, que no começo do ano era considerada uma contribuição favorável, tornou-se a vilã dos preços. Para o superintendente adjunto de inflação da Fundação Getúlio Vargas (FGV), Salomão Quadros, essa inversão de papéis elevou as chances de que a inflação estoure o teto da meta perseguida pelo Banco Central (BC) em 2014. A meta é de 4,5% ao ano, com limite superior de 6,5%.

"Alguns produtos até tiveram reação favorável no início do ano. A estiagem adiou um pouco, o impacto ficou defasado. Em março, normalmente temos desaceleração, já com a entrada da safra", explicou Quadros. Segundo ele, ainda não se sabe qual será o efeito completo da seca, mas é possível que haja quedas de preços nos meses à frente.

Mesmo assim, o cenário favorável para alimentos foi praticamente abandonado. Em casos como o da carne, os preços sobem lentamente, com repasses defasados, e o recuo ocorre com a mesma velocidade. Além disso, segundo o superintendente, nem tudo volta ao patamar anterior ao choque. "Dificilmente recua tudo (no caso dos processados), acaba terminando mais alto do que antes. E isso vai ficar na inflação de alimentos neste ano. Em outros casos, como alguns grãos, a recuperação é só na próxima safra", explicou Quadros.

É com base nesse cenário que ele acredita em uma realidade mais complicada em relação ao limite de 6,5%. "Alimentação era o que ia ajudar, já que teríamos outras pressões, como câmbio e administrados. Agora, aumentou a chance de ultrapassar o teto da meta", disse.

Alimentos processados

Apesar de esperar desaceleração nas próximas apurações dos Índices Gerais de Preços (IGPs), Quadros observou que as altas dos alimentos in natura cessarão para dar lugar aos processados, especialmente as carnes. Além disso, todas essas elevações já estão em transmissão para o Índice de Preços ao Consumidor (IPC).

"O cenário de alimentação é alívio pelo lado dos in natura, mas pressão crescente pelos derivados. Nessa composição, o alívio produzido pelos in natura é maior do que a pressão gerada pelos derivados. Por isso, o resultado será uma taxa menor, de desaceleração", explicou Quadros.

No atacado, ainda registram aceleração no âmbito do IGP-DI de março a soja (-1,84% para 2,76%), o leite in natura (-0,57% para 3,99%), as aves (-2,54% para 3,97%) e os bovinos (2,28% para 4,58%). No caso dos bovinos, ainda não há nenhum movimento parcial que indique desaceleração, apontou o superintendente. "Por isso, embora vá acontecer, desaceleração dos IGPs será de forma gradativa", acrescentou.

Todos esses preços, incluindo os in natura, estão subindo e impactando o IPC, destacou Quadros. Aceleraram hortaliças e legumes (2,94% para 21,79%), laticínios (-1,19% para 1,55%), carne bovina (0,80% para 1,61%) e óleo de soja (-0,33% para 1,03%). À exceção dos in natura, o superintendente ressaltou que o mais provável é que os preços dos derivados continuem aumentando. "Não vou me surpreender com aumentos mais fortes de carne bovina. Podemos esperar também aumento de óleo de soja e de laticínios. Alimentos in natura é que devem ceder espaço", frisou.

"O impacto dos in natura já está completo. Mas por isso (processados), a inflação de abril, ainda vem um pouco carregada, ainda elevada, mas num nível que a gente consegue considerar um pouco mais estável, sem fortes pressões", acrescentou.

Quadros ainda ressaltou que, diferentemente do ano passado e de 2012, o mercado da soja deve garantir tranquilidade para os preços da commodity neste ano. Segundo o superintendente, pesquisas de intenção de plantio nos Estados Unidos sinalizam para uma safra favorável, já com aumento de estoques, o que pode contribuir para preços mais amenos no mercado internacional e evitar novos choques nos preços internos.



Veículo: Estado de Minas


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