Varejo ainda conta com um 2º semestre melhor

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O varejo se prepara para um segundo semestre apenas um pouco melhor que o primeiro, com aumento entre 4,5% e 5,4% nas vendas reais em relação a igual período de 2012 - ritmo ligeiramente superior aos 3% de alta dos primeiros seis meses de 2013. Se confirmada a expectativa, o setor encerrará o ano com expansão ao redor de 4%, menor taxa de crescimento nas vendas reais desde 2003.

Ainda assim, a projeção das entidades do setor supera a feita pelos economistas consultados pelo Valor, que levantam a possibilidade de desaceleração maior, com o aumento nas vendas reais podendo ficar na casa de 2% em 2013, após a alta de 5,4% nos 12 meses encerrados em julho.

Para reagir à demanda aquém do esperado no primeiro semestre, os varejistas mudaram de estratégia, afirma o presidente da Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL), Roque Pellizzaro Junior. Segundo ele, as empresas terminaram o processo de ajuste nos estoques em agosto e se preparam para negociar as compras para as festas de fim de ano.

"Veremos uma disputa maior por preço com os fabricantes, na tentativa de segurar aumentos para o consumidor e ampliar os prazos de financiamento", diz Pellizzaro Junior. Os varejistas modificaram o mix de produtos, dando prioridade aos de menor valor. A ideia, segundo ele, é sustentar a rentabilidade com aumento nas vendas de produtos mais baratos.

Com as fortes pressões inflacionárias no primeiro semestre, as incertezas geradas pela alta volatilidade do dólar e o aumento abaixo do esperado nas vendas, o varejo ampliou o repasse ao consumidor do aumento de custos nas fábricas. A Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), calcula que, do reajuste de 7,7% promovido pelos fabricantes nos 12 meses encerrados em junho, apenas 6,1 pontos percentuais chegaram às prateleiras. As lojas, portanto, absorveram 1,6 ponto percentual da alta no período - metade do valor registrado em 2012. No ano passado, do aumento de 6,5% feito pelos produtores, apenas 3,5 pontos percentuais chegaram aos consumidores.

A expectativa da CNC é que o aumento de preços para os varejistas no segundo semestre seja menor que no primeiro, o que poderia ajudar as vendas. Ainda está no radar da entidade uma possível alteração na cesta de compras dos consumidores, com menor espaço para produtos dependentes de crédito, como veículos.

No entender dos analistas, a expectativa do varejo pode ser frustrada pela baixa confiança do consumidor, o freio no crédito e a perda de fôlego do mercado de trabalho. Esse cenário vai enfraquecer o consumo das famílias, que sobe num ritmo médio de 3% ao ano desde o quarto trimestre de 2012.

A intenção de consumo das famílias, que em agosto registrou o menor nível desde janeiro de 2010, quando a CNC começou a fazer o levantamento, subiu 2,3% na passagem para setembro (sem ajuste sazonal), mas ainda permanece 7% abaixo do patamar de setembro de 2012. A confiança do consumidor, medida pela Fundação Getulio Vargas (FGV), mantém-se abaixo da média histórica, apesar de ter melhorado em agosto e setembro. Já a busca por crédito no mês passado foi a menor para o mês de agosto desde 2010, segundo a Serasa Experian.

Os dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostram que, desde o início do ano, o rendimento médio real dos brasileiros vem caindo, tendo passado de R$ 1.874,75, em janeiro, para R$ 1.829,98 em junho. Já o Ministério do Trabalho aponta queda no ritmo de geração de vagas. De janeiro a agosto, a criação de postos de trabalho foi 25% menor que no mesmo período de 2012.

"Não dá para esperar que o consumo descole do emprego e da renda", diz Alessandra Ribeiro, economista da Tendências Consultoria. "As vendas dependem essencialmente do mercado de trabalho. Se o trabalhador se sente vulnerável, ele simplesmente não compra", afirma Pellizzaro Junior, da CNDL.

As estimativas da Tendências indicam que a expansão da demanda das famílias não passará de 2,3% neste ano, e será a mais baixa desde 2003. A Rosenberg & Associados e a MCM Consultores fazem avaliação semelhante. Elas preveem aumento de 2,2% e 2,1%, respectivamente, para os gastos dos consumidores neste ano. O crescimento projetado para o consumo das famílias não supera a mediana das previsões para o Produto Interno Bruto (PIB) - elevação de 2,4% em 2013, de acordo com o boletim Focus, do Banco Central.



Indicadores do setor têm apresentado quadro incerto

Os dados já conhecidos do segundo semestre ainda deixam incerto o futuro do varejo. Os economistas reconhecem que subestimaram o impacto do arrefecimento da inflação e do programa Minha Casa Melhor sobre o comércio em julho. Naquele mês, as vendas do varejo restrito (que exclui automóveis e materiais de construção), superaram o teto das projeções ao subir 1,9%, feitos os ajustes sazonais, a maior variação mensal desde janeiro de 2012. O faturamento dos shoppings centers subiu 10,3% em julho sobre igual mês de 2012, segundo a Abrasce, entidade que representa o setor.

Já em agosto, a atividade do comércio apurada pela Serasa Experian subiu 0,2% frente ao mês anterior e manteve o ritmo de crescimento visto em julho na mesma base de comparação, descontados os efeitos sazonais.

Na primeira quinzena de setembro, as vendas a prazo no comércio paulistano apresentaram queda de 4,2% sobre igual período de 2012, mas com um dia útil a menos. Segundo a Associação Comercial de São Paulo (ACSP), se o número de dias úteis fosse igual nos dois anos, o indicador subiria 4,5%, considerando a média diária. Levantamento da entidade mostra que o volume de dívidas em atraso negociadas cresceu 8% na primeira quinzena de setembro frente ao mesmo período de 2012. No mesmo período, o registro de inadimplentes foi reduzido em 4,4%.

Pela sondagem da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (FecomercioSP), na capital paulista, os empresários do comércio começam a se animar novamente com os negócios. Após quatro meses de queda, a confiança do setor subiu 5,7% entre julho e agosto na série sem ajuste sazonal.

Os estoques involuntários, de acordo com a Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), diminuíram nos últimos meses. "As empresas fizeram promoções e queimaram seus estoques", diz o economista da entidade, Fabio Bentes. A confiança dos empresários do setor melhorou entre julho e agosto, ao subir 0,8% na série sem ajuste sazonal, mas ainda está 4,2% abaixo do patamar de agosto de 2012.

O programa Minha Casa Melhor, que conta com R$ 18,7 bilhões em créditos para a compra de móveis e eletrodomésticos, pode ajudar o setor. Desde junho, o programa liberou cerca de R$ 1 bilhão para as famílias beneficiadas equiparem suas casas lares, deixando um saldo de mais de R$ 17 bilhões para serem gastos nos próximos meses.




Veículo: Valor Econômico


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