O terceiro dia de queda no rendimento dos títulos do Tesouro americano e a melhora na perspectiva de crédito da BRF ajudaram a fabricante de alimentos a captar US$ 750 milhões ontem em uma emissão de bônus.
A operação, que teve demanda de quase US$ 4 bilhões, saiu maior e mais barata que o esperado pela companhia. A BRF usará a maior parte dos recursos - aproximadamente US$ 560 milhões - na recompra de bônus com vencimento em 2017 e 2020. O restante vai para o caixa.
A boa receptividade à oferta permitiu que os bônus fossem lançados com spread inferior ao dos papéis da BRF negociados no mercado secundário. Em geral, os investidores cobram um prêmio na compra de títulos novos. Os bônus de 2024 foram colocados com spread de 245 pontos-base em relação aos títulos do governo americano. Os papéis de 2023 eram negociados ontem com um adicional de 253 pontos.
As taxas dos Treasuries [títulos dos EUA] de dez anos caíram ontem pelo terceiro dia consecutivo e encerraram a sessão abaixo de 2,50%, o menor nível em mais de seis meses. Esse movimento reforça a busca dos investidores por papéis que ofereçam rendimentos maiores.
Os bônus da BRF vão pagar cupom de 4,75% ao ano e foram colocados com retorno ao investidor ("yield") de 4,95% ao ano.
"O momento foi muito oportuno. Os Treasuries caíram e há pouca operação no mercado, nenhuma de emissor brasileiro", afirmou Sandy Severino, diretor responsável pela área de captações externas do BTG Pactual. O banco coordenou a operação ao lado de BB Securities (Banco do Brasil), Itaú BBA, Morgan Stanley e Santander.
A melhora na percepção de risco de crédito da companhia também favoreceu a operação. Ontem de manhã, a agência de rating Standard & Poor's elevou de "estável" para "positiva" a perspectiva das notas da BRF. Em sua decisão, a S&P citou a forte geração de caixa e uma política de preços que permite à empresa repassar aumentos nos custos de produção.
"O resultado foi excelente. Demonstra a qualidade de crédito da companhia e um momento de mercado muito positivo", diz Cristina Schulman, chefe da área de mercado de capitais do Santander. Segundo ela, a maior parte da demanda partiu de investidores institucionais dos Estados Unidos.
Com a nova captação e a recompra de títulos antigos, a BRF torna-se a mais recente da safra de empresas brasileiras a aproveitar as boas condições do mercado externo para refinanciar passivos. Votorantim, Gerdau e Braskem fizeram operações com esse perfil nas últimas semanas.
A emissão foi a primeira operação da BRF no mercado de bônus desde maio do ano passado. Na ocasião, a empresa captou R$ 500 milhões em títulos com vencimento em 2018 e denominados na moeda brasileira, além de US$ 500 milhões em papéis de dez anos. Nestes, a companhia paga cupom de 3,95% ao ano.
A BRF não se pronunciou até o fechamento desta edição.
Veículo: Valor Econômico