Café com menor rendimento dos frutos e queda na produtividade

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                                 Em média, são gastos 25% a mais de café para completar uma saca de 60 quilos do produto



A colheita da safra 2015/16 de café em Minas Gerais já alcançou 60% da área em produção, mas continua abaixo dos anos anteriores. Com o aumento do ritmo, as perdas provocadas pela seca já são observadas. O principal impacto é visto no tamanho dos grãos, que estão bem menores e interferem no rendimento e nos valores pagos pelo café. Em média, são gastos 25% a mais de café para completar uma saca de 60 quilos do produto.

De acordo com os dados levantados pelo Conselho Nacional do Café (CNC), normalmente, são utilizadas medidas de 480 litros para o preenchimento de uma saca, porém este ano a média chegou a medidas de 600 litros, volume 25% maior. Além disso, apenas cerca de 15% dos cafés colhidos são mais graúdos, apresentando peneira acima de 17, enquanto que em um ano safra normal, o percentual seria superior a 30 pontos.

Os efeitos negativos observados na safra atual são reflexos da falta de chuvas na florada, em setembro e outubro do ano passado, e do veranico, entre dezembro de 2014 e fevereiro deste ano. Pelos eventos terem sido intensos, os pés de café não conseguiram reverter o cenário e sofreram os efeitos colaterais da deficiência hídrica, apresentando grãos menores e miúdos na colheita, o que reduz a produtividade das lavouras, já que são necessários mais grãos para se encher uma saca de 60 quilos.

Segundo os dados do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada, a última semana apresentou clima mais seco, o que contribuiu para o avanço do ritmo de colheita e para melhores resultados durante a secagem do café. A redução da umidade também é favorável para a qualidade da bebida.

Avanço - Em Minas Gerais, a colheita no Cerrado e no Sul de Minas já foi concluída em 50% da área produtiva. Nas Matas de Minas, cerca de 60% da produção já foram retiradas dos cafeeiros. Em períodos de clima favorável, a colheita já superaria os 80%.

Na área de atuação da Cooperativa dos Cafeicultores da Zona de Três Pontas Ltda (Cocatrel), em Três Pontas, no Sul de Minas Gerais, a colheita começou com 40 dias de atraso e o índice de conclusão é de 50%. De acordo com o superintendente da Cocatrel, Manoel Rabelo Piedade, o atraso se deve ao desenvolvimento tardio da florada provocado pela falta de chuvas em 2014 e início de 2015.

A safra atual foi muito prejudicada pela questão climática. Com a redução das chuvas, os grãos estão pequenos e mal granados, o que vem provocando quebra entre 25% e 30% sobre a safra passada, que já foi 20% menor. "Se compararmos com a safra 2013, que tem bienalidade equivalente a atual, a produção está 50% menor. A situação do cafeicultor é muito ruim, além dos problemas em relação à economia brasileira, o aumento dos custos foi ainda maior com as perdas produtivas", disse Manoel Piedade.

Na Cooperativa dos Cafeicultores da Região de Lajinha (Coocafé), na região das Matas de Minas, a colheita abrange 70% dos cafezais, em anos de clima favorável o índice seria entre 90% e 95%. Segundo o diretor de Produção e Comercialização da Coocafé, Pedro Antônio Silva Araújo, o clima interferiu na produção. A expectativa inicial para a região era colher cerca de 8 milhões de sacas de 60 quilos, aumento de 40% sobre a safra anterior, porém, o crescimento esperado agora é de apenas 15%.

"O clima afetou o desenvolvimento da florada e dos grãos, que estão menores. A situação do cafeicultor se agrava com a quebra, já que os custos de energia, mão de obra e aquisição de insumos estão mais elevados. Com a margem de lucro comprometida, a capacidade de investimento nos cafezais está comprometida e os reflexos serão vistos nas próximas safras", explicou Araújo.

Apenas 15% dos grãos são graúdos, diz CNC


Além do atraso registrado em relação à normalidade, os trabalhos de colheita, à medida que se desenvolvem pelo cinturão produtor brasileiro de café, revelam aos produtores um cenário indesejado, que é o menor rendimento dos frutos e a queda na produtividade. A observação é do Conselho Nacional do Café (CNC) que, em nota, afirmou que, desde a virada de 2013 para 2014, a entidade vinha alertando para os possíveis impactos que a continuidade das adversidades climáticas poderiam nos cafezais e que, infelizmente, esse cenário vem se consolidando.

"A respeito da safra atual, notamos que a falta de chuvas na florada, em setembro e outubro do ano passado, e o veranico, entre dezembro de 2014 e fevereiro deste ano, foram tão intensos que os pés de café não conseguiram reverter o cenário e sofreram os efeitos colaterais dessa deficiência hídrica, apresentando grãos menores e miúdos na colheita, o que reduz a produtividade das lavouras, já que são necessários mais grãos para se encher uma saca de 60 kg. No entanto, o mercado tem a visão equivocada de uma grande safra em andamento", ressaltou o presidente-executivo do CNC, Silas Brasileiro.

O CNC, em contato com as cooperativas cafeeiras, recebeu informações que, em média, neste ano, têm sido demandados 25% a mais de café. Normalmente, são utilizadas medidas de 480 litros para o preenchimento de uma saca, porém este ano a média chegou a medidas de 600 litros. Além disso, apenas cerca de 15% dos cafés colhidos são mais graúdos, apresentando peneira 17 acima, ao passo que, em um ano safra normal, o percentual seria superior a 30 pontos.

Esse cenário, disse Brasileiro, também é identificado, em menor proporção, nas regiões onde há cafezais irrigados. Isso porque o nível de precipitações abaixo da média reduziu o volume de água disponível, fazendo com que os elevados índices de evapotranspiração - ocasionados pelas altas temperaturas - fossem superiores ao volume hídrico disponível para a irrigação, o que gerou uma quantidade além do normal de cafés miúdos.

Quantidade - "O recebimento de café por parte das cooperativas brasileiras é um claro indicador da perda de produtividade nas lavouras. Sabemos que o atraso na colheita também interfere na quantidade recebida, haja vista que a anormalidade do clima gerou diversos estágios de maturação, mas o fator principal é, de fato, o alto índice de grãos menores. Segundo cálculos do CNC, na safra deste ano, as cooperativas têm apresentado queda de 20% no recebimento do café em relação à temporada antecedente", enfatizou Brasileiro.

Em relação à colheita, o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea) divulgou comunicado, na quinta-feira passada, informando que os trabalhos já se encerraram nas áreas produtoras de conilon. Sobre a variedade arábica, a instituição apontou que as principais regiões do Brasil chegaram ou superaram levemente a metade do previsto, com exceção para a Mogiana Paulista, cuja cata se encontra em níveis levemente superiores a 40%.

Por fim, o CNC destaca, ainda, que o clima não voltou à normalidade nas áreas produtoras do Brasil, o que, certamente, deverá impactar de forma negativa o volume a ser colhido em 2016. "Entretanto, é necessário aguardarmos o término da colheita atual e o início das próximas floradas para que possamos apurar melhor o desempenho que poderá ser apresentado no ano que vem".



Veículo: Jornal Diário do Comércio - MG


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